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OPINIÃO DÁ PRISÃO
Acadêmico: José Renato Nalini
Olavo Bilac teve de se refugiar em Minas Gerais, para escapar à sanha da polícia do “Marechal de Ferro”. Permaneceu longe do rio por longa temporada e, como poeta, sofria mais do que os outros as saudades de sua terra

Opinião dá prisão

A perseguição política não é fato novo. É rotina se bem examinada a História do Brasil. Mas foi na República a sua fase mais brava. O golpe de 15 de novembro de 1889 começou muito mal. Expulsou-se de sua pátria um imperador magnânimo, que foi pai para os mais humildes e um incentivador da cultura e das artes.

Logo começou a disputa por poder, que permanece até hoje. Um período bem lastimável foi aquele da gestão do Marechal Floriano Peixoto. Olavo Bilac teve de se refugiar em Minas Gerais, para escapar à sanha da polícia do “Marechal de Ferro”. Permaneceu longe do rio por longa temporada e, como poeta, sofria mais do que os outros as saudades de sua terra.

O motivo da perseguição: atribuíam-lhe a autoria de muitos dos versos terrivelmente venenosos que se publicavam em “O Combate”, contra o sanguinário ditador. Ameaçado de prisão, foi para Minas Gerais, uma enorme Província, a terra das alterosas.

Eis senão quando, recebe a notícia de que já poderia regressar ao Rio. Acreditou, pois não era político nem revolucionário. Por que motivo deveria temer um órgão do Estado que existe para dar segurança às pessoas?

Confiante, entrou no trem de volta ao Rio, feliz e contente.

Só que, ao saltar na Estação da Central, teve uma péssima surpresa: a Polícia, alertada de seu regresso, o prende e o conduz ao Quartel General, para o tormento dos interrogatórios e a prisão incomunicável e interminável.

Foi de sua cela que, chorando a perda injustificada de sua liberdade, escreveu e mandou a Coelho Neto o desabafo em forma de soneto:

Em Custódia

Quatro prisões, quatro interrogatórios

Há três anos que as solas dos sapatos

Gasto, a correr de Herodes a Pilatos,

Como Cristo, por todos os pretórios!

Pulgas, baratas, percevejos, ratos

Caras sinistras de espiões notórios

Fedor de escarradeiras e mictórios

Catingas de secretas e mulatas

Para tantas prisões é curta a vida!

Ó Dutra! Ó Melo! Ó Valadão! Ó diabo!

Vinde salvar-me! Vinde em meu socorro!

Livrai-me desta fama imerecida

Fama de Ravachol, que arrasta ao rabo,

Como uma lata ao rabo de um cachorro!

Depois disso, Bilac viajou para a Europa, onde permaneceu por longa temporada. Ao chegar de volta ao Rio, encontrou vasta correspondência. A irmã, que o acompanhava, notou que a letra dos envelopes era sempre a mesma e lembrava a do próprio Bilac.

- “Parecem escritas por ti mesmo, tão igual é a letra!”.

E eram, realmente, do poeta.

Na Europa, preenchia muitas de suas horas a escrever cartas aos amigos imaginários, que enviava a diferentes cidades do Brasil. Com o cuidado de escrever, no verso do envelope: “Caso não seja encontrado, devolva-se ao remetente: Olavo Bilac – Rua das Laranjeiras, 207- Rio de Janeiro”.

O que diziam essas cartas? Somente Olavo Bilac sabia. E ele as rasgou, impedindo que alguém mais as lesse.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 24 05 2025



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