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![]() Acadêmico: José Renato Nalini A morte é a realidade inevitável, a mais democrática das ocorrências a que os viventes se sujeitam. Não há quem se liberte dela. Todos, absolutamente todos, terão o seu encontro com esse mistério. Entretanto, fazemos questão de agir, insensatamente, como se fôramos imortais
Ressurgir em plenitude O alicerce do Cristianismo é a ressurreição de Jesus. Atentemos para a afirmação de São Paulo: se Cristo não ressuscitou, vã a nossa fé! Toda ela é ancorada na certeza de que esta peregrinação terrena é passageira e a verdadeira existência é aquela a que teremos acesso apenas quando nos despedirmos desta etapa. A morte é a realidade inevitável, a mais democrática das ocorrências a que os viventes se sujeitam. Não há quem se liberte dela. Todos, absolutamente todos, terão o seu encontro com esse mistério. Entretanto, fazemos questão de ignorá-lo e de agir, insensatamente, como se fôramos imortais. Convencer-se da fragilidade e da efemeridade da vida é uma lição de sabedoria que acrescentaria qualidade ao existir. As coisas aparentemente importantes deixariam de sê-lo. Haveria menos pressa, menos apreço àquilo que é supérfluo, menos necessidade de acumular. Os bens materiais não vão conosco. Ficam por aqui, muita vez para suscitar inimizade entre sucessores. A riqueza é relativa. Permanece durante algumas décadas na titularidade dos considerados ricos e depois passam para outras mãos. Tivéssemos consciência disso e nos desapegaríamos do que não é essencial. Conferiríamos valor absoluto ao amor, sob todas as suas formas. O amor sensual, o amor filia, o amor ágape. O amor que move o sol e as outras estrelas. O amor que nos torna ainda mais frágeis, a depender do carinho do ser amado. Tudo isso pode ser extraído da reflexão propiciada pela Páscoa. A passagem dos hebreus, tão simbólica, veio a ganhar simbologia e intensidade ainda maiores, com a Páscoa da Ressurreição Cristã. Se um ser com características humanas venceu a morte e ressurgiu ao terceiro dia após expirar, abre-se uma clareira de esperança para os que não se conformam com a extinção de todos os sonhos, todos os sentimentos, todas as experiências vivenciadas, todos os amores que embalaram nossa permanência neste Vale de Lágrimas. Oportunidade para fazer renascer os bons propósitos. Ainda é tempo de corrigir rotas. De procurar observar o semelhante como ser provido de idêntica dignidade. De se condoer com a má sorte alheia. De procurar fazer algo em benefício da sociedade e, principalmente, da natureza. Somos parte integrante do ambiente, cuja defesa é a mesma defesa da vida, qualquer que ela seja. A visão estritamente antropocêntrica deve comportar um espaço para a proteção da vida vegetal, da vida animal, da vida racional. Os maus tratos perpetrados contra o ambiente chegaram a um cúmulo insuportável e as emergências climáticas são o testemunho de que a natureza disse “basta”! A ressurreição deve inspirar a redescoberta do amor, que não pode ser discurso, mas prática efetiva e permanente. Amar, incondicionalmente, é o que justifica uma vida humana. Quem não ama, na verdade não vive. E o Ressuscitado desta Páscoa imolou-se em favor da humanidade arrogante, pretensiosa, tola e ignorante. Nos dois milênios decorridos desde aquele fato histórico deflagrador da maior transformação pela qual passou a espécie humana, ainda há mais insensibilidade, maldade, crueldade, perversidade, manifestações incompatíveis com o destino salvífico dos chamados racionais. Inebriemo-nos do verdadeiro sentido da Ressurreição do Senhor. Façamos alguma coisa para que a fraternidade, princípio que o constituinte de 1988 elevou a categoria jurídica para todos os brasileiros e residentes no Brasil, não seja proclamação retórica, mas prática diuturna em todos os nossos ambientes. Feliz Páscoa da Ressurreição de 2025 para todos! Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 20 04 2025 ![]() ![]() |
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