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![]() Acadêmico: Gabriel Chalita Chorei da emoção de estar ali. De ver o bonito das superações. Da felicidade que todos nós temos o direito de ter.
Obrigado, Pedro Conheci Pedro no aeroporto, no Rio de Janeiro, aguardando o voo que nos levaria para Nova Iorque. Era a véspera do dia Internacional da Síndrome de Down. Os olhos de Pedro eram os olhos do meu irmão Júnior que partiu, há tanto tempo, e que, há tanto tempo, vive em um lugar bonito de se visitar na minha memória. O Júnior, meu irmão, era um cantador de alegrias, quando vivia com a gente. Dançava sozinho na sala e sorria a vida que tinha. A vida prossegue. O motivo da viagem era participar de um evento na ONU, além de outras excelentes conversas, na UNICEF e no MOMA, falando dos desafios da inclusão e da necessidade de construção de uma sociedade para todos. Chegamos à ONU. Nos sentamos juntos. Pedro falaria em alguns minutos. Antes dele, algumas delegações de outros países como o Japão, a Austrália, a Polônia. Do Brasil, falou Georgia, de São Paulo. E, depois, Renato, de Vitória. Ao lado de Pedro, estava o presidente da FECOMERCIO RJ, Antonio Queiroz, que criou o CREI, um centro de referência em educação inclusiva. Estavam Regina e Sergio, diretores do SESC e SENAC RJ. Estava Maria Antonia, que dirige o CREI e que tem uma vida dedicada ao tema da inclusão. Quando Georgia falou, Pedro começou a chorar. Eu o abracei e perguntei se estava tudo bem. Imaginei que era um nervosismo porque ele falaria pouco tempo depois. Ele explicou que ela era como uma irmã, e que ele estava muito emocionado em ver que ela estava ali falando na ONU. O choro se repetiu com a fala de Renato. Pedro era só emoção. "São, meus irmãos, entende?" - eu concordei. Ele me perguntou se era errado ele chorar. Eu disse que não. E chorei junto. Chorei da emoção de estar ali. De ver o bonito das superações. Da felicidade que todos nós temos o direito de ter. Pedro estava de terno. Quis colocar a gravata, quando viu o presidente Queiroz de gravata. O Queiroz também estava emocionado. Levar para o mundo o que o Brasil faz, o que o SESC e SENAC fazem no Rio era um privilégio e uma responsabilidade. Pedro trabalha no CREI como outros profissionais. E é respeitado. E é ouvido. Queiroz falou na ONU no dia do aniversário de seu pai que, como meu irmão, vive o mistério da eternidade. Os pais de Pedro também foram. Eu disse à sua mãe do meu irmão. Conversamos sobre o que é difícil em um mundo que ainda precisa romper barreiras para ser de todos. Conversamos sobre o que é fácil na arte de amar as pessoas como Pedro, como Júnior, como Georgia ou Renato. Todos com um nome, com um passado, com um direito a uma história. Quando nos despedimos em Nova Iorque, depois de alguns poucos dias de viagem, Pedro disse que sentiria saudades. Eu concordei. Ele disse que era bom conhecer e que era bom estar junto. Disse que já se sentia meu amigo. E disse mais, que amigos precisam se encontrar. Dois dias depois da nossa volta, inesperadamente, encontrei Pedro no Centro de Inovações do SENAC, no Rio de Janeiro. Ele fez uma festa comigo. Foi me apresentando aos seus amigos. Perguntou se eu havia encontrado a Maria Antonia. Disse que ela ficaria feliz em me ver. Que os amigos gostam, quando se veem. Eu fui vendo em cada palavra pronunciada, em cada gesto, um dos sentimentos mais bonitos do ser humano, a generosidade. A imagem do choro na ONU ainda estava em mim. Ele chorou porque seus amigos, seus irmãos superaram as suas dificuldades e conseguiram falar em um evento tão importante. Obrigado, Pedro, por me lembrar de valores que nunca deveríamos nos esquecer. Há competições em exaustão no mundo. Há desaprendizados no querer ser o primeiro lugar. Há cansaços e tristezas em exigências de perfeições. Perfeitos são os instantes em que reaprendemos o prazer do encontro. Na despedida desse novo encontro, Pedro me disse que não demoremos para estarmos juntos novamente. Eu concordei e sorri, depois do abraço onde cabe muito sentimento. Quando andava para um outro encontro, no centro antigo do Rio de Janeiro, me encontrava, em pensamento, em um tempo em que estavam meu irmão, meu pai, minha mãe e eu, ainda criança. Entrei na Igreja de Nossa Senhora da Candelária e rezei a saudade. E rezei a gratidão. Publicada em O Dia, em 30 03 2025 ![]() ![]() |
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