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CIDADANIA ECOLÓGICA
Acadêmico: José Renato Nalini
O mundo reclama novas narrativas e possibilidades para que a coexistência ecológica seja viável e a ameaça que paira sobre a humanidade seja removida ou, pelo menos, atenuada

Cidadania ecológica

Nossa era é chamada Antropoceno e é caracterizada pelo abuso humano em relação ao seu único habitat, a Terra. O desgaste dos recursos naturais e a excessiva emissão de gases venenosos, causadores do efeito-estufa, levou o planeta à exaustão. Surdos e cegos às advertências científicas, persistimos na ânsia do consumismo e colhemos agora as respostas da natureza.

As questões ambientais são as mais graves do presente e do futuro próximo. Escassez hídrica, ondas de calor, precipitações pluviométricas terríveis, redução da biodiversidade, migrantes climáticos, descumprimento de acordos assumidos em convenções internacionais, atentados de toda a ordem e intensidade contra a atmosfera, a água e o solo, geram desastres que vitimarão os humanos. Em regra, são prioritariamente atingidos aqueles que menos contribuíram para o agravamento das enfermidades terrestres.

É preciso um imediato reequacionamento de nossa cultura e de nosso convívio. São insuficientes as barreiras jurídicas para impedir desmatamento, grilagem, poluição das águas com plástico e mercúrio, agravamento de doenças punindo os mais vulneráveis. Também é fraco o enfrentamento das questões complexas, no âmbito do sistema Justiça, por parte das Varas Ambientais ou Câmaras Reservadas ao Meio Ambiente.

É a consciência humana que precisa de revisita, revisão ou reengenharia. É imprescindível falar na responsabilidade individual de cada um, quanto à sua pegada ecológica. A obrigação de cada ser humano pelo resíduo sólido que produz. Por sua contribuição pessoal para piorar, ou mitigar, a agonia do planeta.

Nesse sentido, a educação do povo, não a mera escolarização, ainda imersa em padrão convencional limitado à transmissão de informações por via oral, nem sempre úteis para a vida concreta do educando, tem pressa em ver elaborado algo mais consistente. Trabalhar com a cidadania ecológica, numa concepção que faça da economia uma ciência ecológica e que se encaminhe à edificação de um novo padrão para aferir a qualidade existencial: o mínimo existencial ecológico.

O padrão costumeiro de boa parte da população, ou seja, a obtenção do máximo de benefícios materiais e de só pensar em seu exclusivo e egoístico bem-estar, levou a sociedade humana a um ponto crucial. A continuar essa trajetória, o que se avizinha é o caos, a catástrofe, o apocalipse. E a ritmo célere, para daqui a pouco, não no horizonte de séculos, como se propalava há poucas décadas.

Se o ano de 2023 foi escaldante, o ano de 2024 foi o mais quente da história e já foi suplantado por janeiro de 2025, o mês de mais elevada temperatura que já se mediu em nosso planeta.

Era para ontem o reposicionamento das estruturas sociais e das instituições, notadamente as jurídicas. O mundo reclama novas narrativas e possibilidades para que a coexistência ecológica seja viável e a ameaça que paira sobre a humanidade seja removida ou, pelo menos, atenuada.

Mentes frágeis e pouco aficionadas à reflexão, costumam satisfazer-se com a confortável aceitação de que vivemos uma Democracia. Nela, limitamo-nos a votar a cada dois anos e a criticar todas as esferas de governo. Onde está a nossa participação? Somos parte da solução ou do problema? Que contribuição efetiva oferecemos para aprimorar o convívio e para atender às necessidades prioritárias, aquelas dos que mais carecem?

É preciso compenetrar-se de que se impõe um esforço para a recomposição dos espaços democráticos em níveis particulares. Em nossa casa, em nossa rua, em nosso bairro, em nosso município. Criar outros modelos e articulações de participação individual e coletiva multinível. Servir-se do mundo web para produzir utilidades, coisas boas, não o humor estéril ou as provocações, as críticas infundadas, o ridículo, o exótico, o folclórico de mau gosto. A internet deve melhorar o mundo, não conspurcá-lo e convertê-lo numa arena em que se digladiam ideologias extremistas.

Todos somos capazes de transformar o mundo, a partir da transformação do nosso próprio processo de crescimento e de aprendizado. Vivamos a noção de perfectibilidade. Sejamos, a cada dia, um pouco melhores do que já fomos. Zelemos para que nossa presença efêmera neste mundo a cada momento mais frágil, seja algo de bom, de saudável e de inspirador para os demais.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 11 02 2025



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