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JOÃO RIBEIRO, O PRIMEIRO
Acadêmico: José Renato Nalini
Um moço nortista, humilde, acanhado e tímido, respondia pelo nome João Baptista Ribeiro de Andrade Fernandes.

João Ribeiro, o primeiro

Um moço nortista, humilde, acanhado e tímido, respondia pelo nome João Baptista Ribeiro de Andrade Fernandes. O sergipano começou como inspetor de alunos no Colégio Alberto Brandão, no Rio. Vivia absorvido no seu trabalho subalterno. Mas levava sempre um livro sob o braço e punha-se a ler, sempre que sua atividade não fosse solicitada para outro afazer.

Sua leitura lhe rendeu poder lecionar no mesmo colégio. Tornou-se conhecido como João Ribeiro e, no concurso que prestou para ingressar no magistério no célebre Colégio Pedro II, apresentou a tese “Morfologia e colocação dos pronomes”. Continuou a escrever e publicar versos, “Dias de Sol”, em 1884 e “Avena e Cítara”, em 1886.

Por concurso, ingressou no funcionalismo e exerceu suas funções na Biblioteca Nacional. Conviveu com Raul Pompeia e Capistrano de Abreu, então entretido na revisão das provas das “Cartas dos Jesuítas”. Prosseguiu a escrever e a publicar livros didáticos. Tal era o êxito dessas obras, que logrou adquirir uma casa em Santa Tereza. Aliás, único bem material que possuiu em vida. Seu feitio era viver pobre.

Pobre, mas erudito e respeitado. Tanto assim, que foi o primeiro intelectual eleito para a recém-fundada Academia Brasileira de Letras. A Casa de Machado de Assis foi criada em 1897. O grupo de quarenta imortais convidados pelo “Bruxo do Cosme Velho” sofreu a primeira defecção com a morte do poeta Luiz Guimarães, em 1898. João Ribeiro foi escolhido para sucedê-lo. O segundo a partir, desfalcando os quarenta iniciais, foi o Conselheiro Pereira da Silva, no mesmo ano sucedido pelo Barão do Rio Branco. O terceiro foi Taunay, agora já em 1899, cujo sucessor foi Francisco de Castro, que faleceu em 1901, sem haver tomado posse.

Quando Machado fundou a Academia Brasileira de Letras, inspirado pela Academia Francesa, ideia do Cardeal Richelieu, escolheu outros trinta e nove “imortais”, acreditando que eles de fato não viessem a morrer. Mas logo no primeiro ano de existência do cenáculo, houve a primeira morte.

João Ribeiro, primeiro acadêmico eleito, contou com recepção revestida de grande solenidade. Foi um acontecimento literário e social. A sessão realizou-se no salão nobre do Ministério da Justiça e Negócios do Interior, na Praça Tiradentes. Era Ministro da Justiça Epitácio Pessoa, que atendeu, com boa vontade, o pedido de cessão daquele heráldico espaço. Permitiu ainda que ele fosse adaptado à cerimônia e a ela compareceu.

João Ribeiro foi recebido por José Veríssimo. Desde então, não faltou a uma só sessão morreu em 13 de abril de 1934, com setenta e três anos de idade. Quem conviveu com ele testemunha sua calma, serenidade, modéstia e virtude singular do acolhimento. Dizia-se que, nos últimos anos, à luz de sua obra extensa e profunda, seu vulto severo como que se moldou no bronze. É como viverá na história das letras brasileiras e da cultura tupiniquim.

De sua cabeça, de perfil romano, se fez magnífica obra de arte. Em 1929, veio ao Rio de Janeiro o famoso pintor espanhol Lopes Mesquita, encarregado de reproduzir na tela a efígie de duas grandes figuras das letras do pensamento de cada um dos Estados latino-americanos, para figurar na Galeria da Sociedade hispano-americana de Washington. O Brasil indicou para essa glorificação Alberto de Oliveira e João Ribeiro.

O artista se baseou nas fotografias de ambos e, encantado com os modelos, deles fez duas obras primas.

A singeleza de sua vida não obscurece o seu fulgor. Ao contrário, realça o talento desse jornalista, crítico literário, filólogo, historiador, pintor e tradutor. Sua enorme contribuição à literatura brasileira espraiou-se por muitas áreas. Assim, o jornalismo. Desde 1881 escreveu em jornais e conviveu com os maiores jornalistas da época. Dentre os quais Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio e Alcindo Guanabara. Os jornais “Época” e “Correio do Povo” contaram com seu trabalho.

Atuou na filologia e na historiografia. Especializou-se nos temas durante seu profícuo magistério. O órgão “A Semana”, de Valentim de Magalhães, publicou artigos seus nessas áreas, ao lado de Machado de Assis, Lúcio de Mendonça e Rodrigo Octávio. Nessas publicações externou sua abalizada opinião sobre aquilo que resultou no livro “Estudos filológicos”, de 1902.

Na docência, desde 1881 lecionava no Colégio Alberto Brandão e, em 1887, foi célebre a sua aprovação no concurso realizado pelo Colégio Pedro II, para a Cadeira de língua Portuguesa. A burocracia fez com que viesse a ser nomeado apenas três anos depois, e para a Cadeira de História Universal.

Lecionou na Escola Dramática do Distrito Federal, cargo que exercia ao falecer. Seu sucessor, na Academia Brasileira de Letras, foi Paulo Setúbal. Hoje, o ocupante da Cadeira 31 é Merval Pereira, atual Presidente da Academia Brasileira de Letras.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo em 05 05 2024



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