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NHÔ TONICO DE CAMPINAS
Acadêmico: José Renato Nalini
Recorro a Rodrigo Octávio, em sua última série de “Minhas Memórias dos Outros”, para resgatar alguns dados sobre o autor de “O Guarani”.

Nhô Tonico de Campinas

Sobre Carlos Gomes, muito se tem escrito. É recente a hercúlea obra de Jorge Alves de Lima, Presidente da Academia Campinense de Letras, esmiuçando a instigante existência do notável músico. Recorro a Rodrigo Octávio, em sua última série de “Minhas Memórias dos Outros”, para resgatar alguns dados sobre o autor de “O Guarani”.

Ele foi professor de música da mãe de Rodrigo Octávio, cujo avô materno, Dr. Theodoro Langgaaard, clínico em Campinas, foi uma alavanca propulsora da carreira artística de Carlos Gomes. Ele era conhecido como “Nhô Tonico” e, em 1880, ofereceu à aluna, mãe de Rodrigo Octávio, assinando-se com esse nome, as partituras de suas óperas até então impressas – Guarani, Fosca, Salvatore Rosa e Maria Tudor. Afirmara o autor que o Guarani era obra do exuberante caipira de Campinas, estudante de música e que a Fosca era a obra do Maestro.

Pertencia a uma família de músicos. O pai, Manuel José Gomes, organizara a primeira Banda de Campinas, de que era regente, sendo conhecido por “Maneco Músico”. Seu irmão, José Sant’Ana Gomes, era exímio rabequista e compositor. Autor da partitura para a parte em verso de uma comédia, “Maria”, ou “A Bela Paulista”, escrita pelo Dr. Langgaard. Quando Carlos Gomes deixou Campinas, as aulas de música passaram a ser ministradas por sua irmã Nhá Quina.

Maneco Músico era prolífico. Chegou a casar-se quatro vezes. Da primeira mulher não teve filhos. Da segunda vieram doze. Da terceira, oito. Entre eles Carlos Gomes. Da quarta, mais seis. Por isso, Carlos Gomes teve nada menos do que vinte e cinco irmãos.

Na biografia que Luiz Guimarães elaborou em 1870 – “A. Carlos Gomes – Perfil Biográfico” – consta que, ao voltar a Campinas nesse ano, depois de seu triunfo na Itália, encontrara uma irmã de quatro anos, nascida depois de sua partida, e outra de cinquenta e um anos de idade.

Até 1935, a completa biografia do glorioso autor estava por ser feita. Só existiam escritos esparsos. Taunay, que fora seu amigo, escreveu alguns estudos sob título “José Maurício e Carlos Gomes”, de 1930. Em 1935 surgiu o trabalho de Roberto Seidi e também o trabalho de Itala Gomes Vaz de Carvalho, em que a vida de seu pai é narrada pormenorizadamente, com amor e talento.

O Dr. Theodoro era apaixonado pela música e, ainda sem tocar instrumento algum, conhecia o que era bom. Detectou o gênio musical do caipira campineiro e o estimulou a ir ao Rio de Janeiro. O pai de Nhô Tonico se opunha, obstinadamente, dizendo que o filho era bom para Campinas, mas não serviria para cidade maior.

Mas o destino estava traçado. Em uma primeira viagem a São Paulo, feita em companhia do irmão José, o “maestrino” alcançou grande sucesso e compusera, sobre letra de Bittencourt Sampaio, o magnífico hino acadêmico, desde logo destinado a se tornar famoso: “Sois da Pátria esperança fagueira/ Branca nuvem de nosso porvir/ Do futuro levais a bandeira/ Hasteada na frente a sorrir”.

Foi o suficiente para que o Dr. Langgaard convencesse Carlos Gomes a tomar o rumo da Capital Imperial. A vacilação diante da irredutível vontade paterna cedeu quando o benfeitor forneceu dinheiro para a viagem. Carlos Gomes encorajou-se. Voltou para São Paulo com o irmão e, de lá, certa manhã, fugiu para o Rio. E fugiu é, efetivamente, o termo certo. Ninguém soube que deixaria São Paulo, nem mesmo o seu irmão e amigo. Isso aconteceu em 1859. Contava, então, vinte e três anos de idade.

Na Capital do Império, com a proteção de pessoas para as quais trouxera cartas de Campinas e São Paulo, conseguiu matricular-se no Conservatório de Música, onde estudou contraponto e harmonia. Pouco tempo depois, era encarregado, pelo próprio Francisco Manuel, diretor do Conservatório, de escrever músicas para atos e solenidades públicas. A audição dessas peças alcançou êxito e granjeou fama para seu autor.

O restante é História. História a ser conhecida por todos os campineiros, que devem zelar pela memória de Carlos Gomes, inclusive cuidando de que seu monumento seja reverenciado e não vandalizado.

Que falta a educação de qualidade faz para o povo brasileiro em geral!

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 08 04 2024



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