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SÓ PARA LEMBRAR
Acadêmico: José Renato Nalini
2023 foi o ano mais quente já registrado na História. De janeiro a novembro, a temperatura média global para esse ano foi a mais alta já registrada

Só para lembrar

2023 foi o ano mais quente já registrado na História. De janeiro a novembro, a temperatura média global para esse ano foi a mais alta já registrada, 1,46º C acima da média pré-industrial do período de 1850 a 1900 e 0,13º C acima da média de onze meses para 2016, que fora, até então, o ano mais quente da Terra.

Isso foi sentido em todo o planeta e também no Brasil. Em fevereiro, uma tempestade intensa deixou dezenas de mortos em São Sebastião, no litoral norte paulista. Lembrou o episódio de Caraguatatuba em 1967, que também ceifou centenas de vidas. O volume de precipitação atingiu incríveis seiscentos milímetros.

Ciclones extratropicais também ocorreram no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Em outubro e novembro, houve aquela terrível onda de calor. A cidade de São Paulo registrou a média de 37,8ºC, o que significa que em alguns lugares da capital bandeirante a temperatura atingiu 44 graus, com sensação térmica superior a 50 graus.

Nesse mês, o Rio “quarenta graus” passou a ser Rio “cinquenta graus”. Ainda não se ofereceu a dimensão trágica de mortes de idosos e crianças, precipitados por essa temperatura na qual é incapaz de viver o humano. Mas no Norte, houve uma nefasta seca. O Amazonas, que é considerada a maior reserva de água doce do planeta, viu secarem os seus rios. Isso acabou com a navegação e com qualquer espécie de comunicação entre os ribeirinhos. E são milhões. Impediu-se a distribuição de medicamentos e de alimentação. É uma região que depende do transporte fluvial.

O rio Negro, em Manaus, tornou-se irreconhecível. Houve incêndios, espontâneos e provocados. O Pantanal, a zona que permanece sob a água a maior parte do tempo, ressecou-se. Fauna se extinguiu, inclusive espécies que já estavam na lista do desaparecimento.

Este primeiro semestre continuará com eventos nocivos para a saúde da Terra e dos vivos que nela permanecem. Um verão causticante, com chuvas violentas em alguns lugares e secas em outros. Os desastres naturais se multiplicarão e se intensificarão.

Inexplicável o comportamento da maior parte dos Estados e também, o que se lamenta, da maior parte da população. Embora existam tratados, convênios e compromissos, os acordos não são cumpridos. Assinados, mas esquecidos. Sabe-se que o maior vilão é o petróleo. Mas estimula-se a exploração de petróleo, inclusive com ameaça de se instalar poços na foz do Amazonas, o que já foi repudiado pelos cientistas, pelo IBAMA e pelas pessoas sensíveis, que ainda conseguem enxergar o grau da calamidade que se aproxima por nossa própria culpa. Aliás, seria de se pensar em dolo eventual: aceita-se o risco, embora a ciência tenha alertado seguidamente os Estados e a sociedade civil planetária, sobre os perigos a que a vida se expõe, por estes nefastos hábitos de consumo.

Pode-se pensar que um indivíduo só é impotente para enfrentar uma situação que depende de uma conjugação de forças e de um projeto sério e consistente de trabalho. Mas as pessoas têm condições de reagir. Se muitas reagissem, o Estado responderia. Porque ele é movido pelas demandas populares. O único titular da soberania é o povo. Ao menos, é o que a Constituição da República Federativa do Brasil de 5.10.1988 proclama.

No âmbito doméstico, pode-se economizar água e energia. Usar menos o automóvel, mais a bicicleta e, de preferência, andar mais a pé e mediante uso do transporte coletivo. Consumir menos. Não desperdiçar, já que o resíduo sólido é responsável por quase dez por cento das emissões venenosas.

Sobretudo, restaurar as áreas degradadas. O desmatamento mata, enquanto que o reflorestamento vivifica. Ressuscitar espaços que foram dizimados e perderam sua cobertura vegetal é devolver a esperança para gerações que ainda sequer nasceram. E isso é um dever cidadão provindo da ordem fundante ecológica. O artigo 225 da Constituição Cidadã prevê que preservar o ambiente para as futuras gerações, garantindo a elas qualidade de vida ao menos idêntica à que recebemos quando chegamos ao mundo, é dever de todos.

Recolha sementes. Faça mudas. Visite viveiros. Devolva à sua rua a árvore que foi eliminada. Exija do Poder Público respeito à natureza. Isso é algo acessível a toda e qualquer pessoa. E a existência de vida futura neste maltratado planeta, depende de atitudes como essa. Os que ainda têm consciência, são chamados a reagir. Como por milagre, a natureza responderá com generosidade e prontidão.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 13 03 2024



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