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UM NOVO ANO NOVO
Acadêmico: Gabriel Chalita
Um novo ano novo é esperança. Os simbolismos que marcam as despedidas e as chegadas nos emprestam pausas para pensar e para prosseguir.

Um novo ano novo

Somos feitos de corpo e alma. Somos feitos de conhecimentos e de mistérios. Somos feitos de passados e de esperanças.

Um novo ano novo é esperança. Os simbolismos que marcam as despedidas e as chegadas nos emprestam pausas para pensar e para prosseguir. Os nossos ontens nos trouxeram até aqui. Como os calçados que nos calçaram antes de crescermos. Hoje, já não nos servem mais. Servem como memória. Os nossos pés já andam outros tamanhos. Os nossos olhos, acostumados a paisagens antigas, precisam de pausas para ver o dia novo amanhecendo.

Há costumes que nos comunicam o fim de um ciclo e o início de um outro. Há os que escrevem promessas de vida nova. Há os que pulam as ondas do mar. Há os que brindam os amigos que amam para prosseguir amando. Há os que juram nunca mais jurar errado.

O melhor juramento para o novo ano é viver. Viver é verbo. É ação que movimenta os movimentos de todos os ontens. Somos feitos de peles que envelhecem, de feridas que cicatrizam, de sabedorias que nos ensinam escolhas. Um novo ano novo é mais uma página a ser escrita com as palavras que escolhermos. Os que escolhem os ódios, as vinganças, as lamúrias, deixam de escolher. Um pássaro que escolhe não mais voar deixa de ser pássaro.

A escrita do novo ano novo é a escrita da liberdade. Somos livres quando escrevemos brinquedos e trabalhos. Quando beijamos bocas que amamos e quando plantamos plantas que alimentam. Somos livres quando limpamos as sujeiras que produzimos, inclusive aquelas que sujam de dor irmãos nossos, e somos livres quando ouvimos uma canção despretensiosa. Somos artífices de andaimes de construções de futuros e somos artistas de elevação dos sentimentos mais lindos, os que nos unem.

É quase ano novo. Há tanto quase que morre quase. Há tanta gravidez de futuro que não gera vida. Há tantas intenções que se perdem na surdez de consciência, na ausência do sentimento que faz novo todos os anos, todos os dias, todos os instantes, o amor.

Que o novo ano novo seja o ano do amor, seja o ano do amar. Amar é verbo, também. Que seja ano de um amor romântico ou de um amor amigo ou de um amor pela humanidade inteira. Quem ama se despe dos egoísmos e compreende que a liberdade está, muitas vezes, em não estar. É um abrindo espaços para o outro e sorrindo com o outro os seus espaços conquistados.

Lembro-me do sorriso de minha mãe e do meu pai quando, menino, cantei pela primeira vez na festa de fim de ano na antiga escola de crianças. Os olhares dos dois me fizeram entender que o amor está além do afinar e do desafinar das nossas vozes, das nossas vidas. A minha voz hoje e o meu texto são muito do terreno que eles prepararam para eu poder florescer.
 
Na minha oração de ano novo é o que eu peço a Deus, que eu seja um lavrador de terras férteis. Há muita história pedindo para nascer. Há muitos irmãos meus sonhando com uma oportunidade de quem os veja, de quem os encaminhe para caminhar.

Feliz ano novo!

Publicado no site do jornal O Dia, em 31 12 2023



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