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INTERIOR MATA PASSARINHO
Acadêmico: José Renato Nalini
Hoje quase não existem estilingues. Em compensação, outros inimigos dos pássaros, muito mais perigosos e potentes, atuam e conduzem à sua extinção.

Interior mata passarinho

Antigamente, a molecada usava estilingue. Também chamado bodoque em outros lugares. Com isso, atingia pássaros e os matava. Felizmente, hoje quase não existem estilingues. Em compensação, outros inimigos dos pássaros, muito mais perigosos e potentes, atuam e conduzem à sua extinção.

Apurou-se que pelo menos oitenta espécies de aves mapeadas em unidades de conservação paulistas podem já ter desaparecido pelo desmatamento intenso registrado nas últimas décadas em nosso Estado. Isso foi publicado numa revista do Instituto Florestal, também ameaçado de extinção, assim como o foi a Imprensa Oficial.

A Mata Atlântica é o bioma que reúne o maior número de espécies ameaçadas do País. Chega a um quarto de todas as que tendem a desaparecer. É informação do insuspeito IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP, da Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI e do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos fizeram o levantamento em quatro unidades de conservação no interior paulista. Do total de 378 espécies mapeadas, foram encontradas apenas 278 na pesquisa de campo.

Isso deveria alertar os administradores municipais, de que as cidades podem ter uma vocação turística muito interessante, se recompuserem suas áreas verdes. O ecoturismo vai se tornar cada vez mais importante, porque a capital e a mancha cinza da região que a circunda sofrem intenso adensamento. São Paulo se tornará, em poucos anos, um imenso paliteiro desprovido de verde. A saída para o paulistano é buscar o interior. Basta que não se continue a desmatar, a se utilizar pesticida proibido em sua origem, mas se crie um ambiente propício à propagação de espécies de aves que eram abundantes e hoje desaparecem por nossa culpa.

Países civilizados têm grupos de observadores de pássaros. Fazem passeios ecológicos sem poluir e sem produzir ruído. Observam e fotografam. Se isso é feito com as crianças, elas aprendem a respeitar a vida silvestre.

Jundiaí é uma espécie de paraíso que vai se perdendo por uso inadequado de seu tesouro: a Serra do Japi. Houve administrações em que a área de preservação crescia. Vários prefeitos ampliavam o entorno, até porque é necessária uma zona de contenção. A especulação imobiliária desenfreada causa prejuízos à Serra, prejudica o microclima local e contribui para acelerar os malefícios do aquecimento global.

É urgente o replantio das árvores nativas nas chagas abertas pela crueldade e pela ignorância. Caminham juntas e chamam outra parceira: a ganância. Isso ajudaria a recompor não apenas a flora, mas a fauna. Os cientistas perceberam que já desapareceram a arara vermelha, a juruva, o pica-pau de cabeça amarela, o mutum de penacho e o surucuá-variado. Por sinal, Jundiaí bem comportaria uma Estação Ecológica, tal como existe em Andradina, Marília, Paulo de Faria e Santa Maria, onde se fez o levantamento.

Se o Brasil abriga cinquenta mil espécies de plantas e mais de cento e vinte e duas mil espécies de animais em seus seis biomas, a Mata Atlântica tem a maior parte das espécies em situação crítica. Jundiaí poderia dar o exemplo e retribuir à natureza o que ela ofereceu gratuitamente: o último remanescente arbóreo que se ergue sobre paupérrimo solo de quartzo. Façamos por merecê-lo. E se o interior paulista mata passarinho, vamos fazer com que Jundiaí os preserve.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 19 11 2023



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