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DEMOLIR IGREJAS
Acadêmico: José Renato Nalini
Jundiaí sempre demoliu sua história. O "porto do sal", casarões coloniais, as figueiras do Largo de Santa Cruz.

Demolir igrejas

Nossa Rua do Rosário se chama assim porque nela estava a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. A lei municipal de 15 de março de 1911, aprovada pela Câmara e promulgada pelo então Prefeito Campos Seabra, considerou de utilidade pública o terreno ocupado pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, para recuar a mesma, até o alinhamento correspondente aos prédios números pares do largo que veio a se chamar Praça Ruy Barbosa.

O artigo 2º da lei dispunha que "a Câmara, por sua conta, mandará levantar nova frente para a mesma Igreja, obedecendo a um plano de arquitetura moderna e simples". E o artigo 3º dizia que "a Câmara abrirá concorrência pública, aqui e em São Paulo, para a feitura da frente nova da Igreja".

Cidade católica, tanto que erigida em torno à capela de Nossa Senhora do Desterro, a partir de 1615, indignou boa parcela da cidadania. "Onde se viu demolir Igreja?" Como recuá-la, se ela ficava justamente no meio da rua e o plano era ligar a Rosário com a via pública hoje chamada Major Sucupira? Tanta discussão levou à demolição da igreja que também fora a primeira escola primária de Jundiaí. A Câmara doou um terreno para construção do novo templo na Praça da Bandeira, antigo Largo de Santa Cruz. Também foi demolido esse novo templo, para dar lugar àquela hoje existente. Duas pessoas que muito contribuíram para a construção foram a Professora Maria Ignez de Oliveira e seu pai, Nelson Raymundo de Oliveira, quando agente da empresa Luz e Força de Jundiaí S/A.

Ao lado da antiga Igreja, na rua do Rosário, foi erguido o Gabinete de Leitura "Ruy Barbosa", fundação do médico Benedito de Godoy Ferraz, quando funcionário dos escritórios da Contadoria da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Enquanto isso, a Praça da Matriz, hoje Catedral Nossa Senhora do Desterro, rebatizada para homenagear Pedro de Toledo, foi preservada durante muitos anos. O solar do Barão de Jundiaí, um sobradão que tinha na parte térrea o restaurante Haiti, uma loja de tecidos e o Hotel Petroni.

Na rua do Rosário, situava-se a Tipografia Popular e a Panificadora São Sebastião, depois chamada restaurante "Dadá". Durante muito tempo ali também residiu a família do Prefeito Manoel Anibal Marcondes, em cuja parte térrea situava-se a tradicional farmácia Nossa Senhora da Glória. Ponto de encontro dos políticos e cidadãos prestantes na primeira metade do século passado.

Na Praça Ruy Barbosa não há mais vestígios da Igreja demolida, em cuja sacristia funcionou a primeira escola primária de Jundiaí. Ao lado dela, o famoso Ginásio Hydcroft, de que hoje não se ouve falar e que chegou a contar com um time de futebol que ganhava todos os campeonatos. Era um colégio tão conhecido e respeitado, que as melhores famílias paulistanas o procuravam para que ali estudassem seus filhos.

A Vila de Jundiaí foi elevada à categoria de cidade pela Lei Provincial nº 24, sancionada pelo Presidente da Província de São Paulo, João Crispiniano Soares, o legendário Conselheiro Crispiniano, em 28 de março de 1695. Azevedo Marques, nos "Apontamentos Históricos" narra que a povoação teve origem no ano de 1615, por emigração de Rafael de Oliveira e a viúva Petronilha Rodrigues Antunes, que para cá vieram em fuga por prática do crime de bandeirismo. Edificaram a capela sob invocação da Virgem do Desterro e a vila foi criada pelo capitão-mor Manuel de Quevedo Vasconcelos, com o loco-tenente e procurador do então donatário da Capitania de São Vicente, o Conde de Monsanto, a 14 de dezembro de 1655.

Jundiaí sempre demoliu sua história. O "porto do sal", casarões coloniais, as figueiras do Largo de Santa Cruz. Por pouco não derrubou a Ponte em Arco e o solar dos Queiroz Telles, hoje Museu Municipal.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 06 08 2023



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