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IMIGRAÇÃO TIROLESA EM JUNDIAÍ
Acadêmico: José Renato Nalini
Sempre tive como certo que a imigração italiana em Jundiaí, na segunda metade do século XIX, tivesse como pessoal recrutado o povo vêneto

Imigração tirolesa em Jundiaí

Sempre tive como certo que a imigração italiana em Jundiaí, na segunda metade do século XIX, tivesse como pessoal recrutado o povo vêneto. As famílias que aqui chegaram eram de Verona, Vicenza, Veneza e outras cidades do território Vêneto.

Ao pesquisar a biografia do jundiaiense Manoel Elpídio Pereira de Queiroz, verifiquei que por contrato de 27 de dezembro de 1883, vieram pelo vapor Sirio vinte e seis famílias do Tirol. Foram vinte e seis famílias e quinze pessoas, às quais concedidas cento e nove passagens de adulto, treze meias e catorze de um quarto de passagem. A empresa que cuidou da imigração se chamava Cresta & Cia., representada por Giulio Gleck e Guilherme Rengel.

Quando se verifica a relação dos que aqui chegaram por essa contratação, vê-se que algumas famílias ainda têm descendentes em nossa cidade: Pietro Corradi, Romano Molinari, Giorgio Nicolini, Saverio Segala, Severino Balocchi, Giovanni Pernise, Giacomo Nicolini, Giovanni Ognibene, Alessandro Martinelli, Aurelia Fox, Giuseppe Salter, Giuseppe Pallaoro, Andrea Polacco, Domeico Danna, Giovanni Lira, Damiano Lambert, Giacinto Campregher. Mas também vieram Martino Zortea, Stefanon Davide, Antonio Vallini, Giovanni Fontana, Antonio Corona, Antonio Caserotta, Stefano Luigi, Maria Ronca, Giovanni Battista Peneganda, Innocente Michele, Domenico Stefani, Giovanni Fedel, Bartolo Ghesi, Gustavo Sardania, Giuseppe Clavodiani, Giuseppe e Daniele Visintainer.

No prefácio que Ian de Almeida Prado fez para o livro "Um fazendeiro paulista no século XIX", da neta de Manoel Elpídio, a notável Carlota Pereira de Queiroz, ele salienta que o católico e cafeicultor foi um dos pioneiros da evolução econômica paulista. "A notícia mais antiga a que se refere versa tentativa do seu parente Antônio de Queiroz Telles, mais tarde Barão de Jundiaí, em aliciar colonos europeus. Consistiam em suíços católicos, 'gente moça e robusta', escreve, dos cantões de Unter e Ober Walden, experiência continuada pelo filho do barão, Francisco Antônio de Queiroz Telles".

Era a consciência abolicionista da época, sustentada por pessoas esclarecidas, animadas pela convicção de que a produção se intensificaria na substituição do braço escravo por outro em condições de solucionar o mais grave problema do império.

Para essa leva imigratória, a empresa de Manoel Elpídio e sua família, denominada Queiroz & Aranha e com sede em Campinas, pagou mais de dez contos de réis. Ou seja: era uma atuação que implicava em investimento com dinheiro privado, não do governo.

Não é preciso acrescentar que italianos, tiroleses e outros europeus trouxeram a Jundiaí o desenvolvimento que a caracterizou e a converteu em uma grande cidade. Abençoada com a dádiva natural da Serra do Japi, último resquício da mata atlântica que ainda resiste à especulação e ao desmate e que merece todo o carinho da população e do governo.

Nunca é demais lembrar que o solo da serra é arenoso, com camada escassa de terra. Desprovida de vegetação, ela se transformaria em mais um deserto. Daí o empenho com que a mentalidade esclarecida, herança dos velhos troncos ancestrais que a entregaram intacta até nós, deve lutar para que ela não sirva apenas aos que pretendem fazer dinheiro fácil, à custa do futuro. Daí a pertinência de se invocar a imigração europeia. Os que deixaram o velho continente sabiam o que significava a fome resultante da exaustão do solo e da miséria que advém à falta de produção de alimentos. Hoje, a ecologia é ciência. Não pode ser desprezada, mas cultivada e levada a sério. Sem cuidar da natureza, condenaremos as próximas gerações ao caos e à insubsistência como civilização.

Publicado no Jornal do jundiaí, em 30 07 2023



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