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DE JUNDIAÍ AO RIO: A PÉ!
Acadêmico: José Renato Nalini
E, 1954, o fazendeiro jundiaiense Manoel Elpídio Pereira de Queiroz, aos 27 anos, fez uma viagem ao Rio de Janeiro, levando para comerciar, mais de cinquenta mulas.

De Jundiaí ao Rio: a pé!

Falei do fazendeiro jundiaiense Manoel Elpídio Pereira de Queiroz. Aos 27 anos, em 1854, ele fez uma viagem ao Rio de Janeiro, levando para comerciar, mais de cinquenta mulas. O insólito não é a viagem, é o diário dela, com anotações pitorescas, a partir das léguas percorridas. No total, foram oitenta e sete léguas.

Ele começa a anotação com a data da saída de Jundiaí: "No dia 21 de março de 1854, às onze horas do dia, saí do "Pau a Pique" (era o nome de uma de suas fazenda) de viagem para o Rio de Janeiro, levando em minha companhia três camaradas – Antonio Peão, Elias e João de Louveira - dois negros, Cravary e Cesário e levando, para dispor, cinquenta e tantos animais. Pousei na vila nesse dia".

E vai contando, dia a dia, a distância percorrida e outras observações interessantes. É óbvio que não existiam hotéis. Ele pousava em casa de fazendeiros amigos e mesmo de pessoas desconhecidas. Era costume à época a hospitalidade ao viageiro. As vendas começaram bem, porque ainda em Jundiaí ele vendeu cinco animais: quatro a Vespasiano e um a Canuto. Ele comenta sobre a fertilidade das terras ou sua esterilidade. Fala do mau tempo, que o obriga a parar ou andar mais devagar. Narra com detalhes as igrejas que encontra no caminho.

Ao passar por São José dos Campos, observa que "esta vila é ordinária, tem só duas ruas – a do Comércio e a Direita; esta está na frente da Matriz e aquela nos seus fundos". Se as terras são ordinárias, o povo é "vistoso". Elogia o vilarejo de "São João de Cassapava", "notável por ser uma freguesia nova, onde se conta para mais de cinquenta casas em construção; a matriz é insignificante, porém já estão socando outra nova. A rua do Comércio, a única desta freguesia, que se continuar será em breve uma opulenta cidade".

A maior cidade da região era Taubaté, "a mãe de todas as povoações do norte da província". Além da Matriz e do Convento de Santo Antonio, tem mais cinco capelas de diferentes invocações. Além de conversar com o Comendador Antonio Joaquim Moreira Guimarães, com o Capitão Ignacio d'Assis, com Joaquim Francisco de Moura e jantar na casa do Sr. Carvalho, continuou a fazer negócios. A este Senhor Carvalho vendeu dezessete bestas.

Passou por Pindamonhangaba, foi até Bananal. "Esta cidade é como Silveiras e Areias, situada entre dois morros, defeito este que se encontra em todas as povoações do norte que não estão situadas à margem do Paraíba. Contudo, tem mais largueza que os precedentes. A cidade é pequena, porém tem muito boas casas, elegantes. As ruas principais são do Comércio, Direita e do Rosário; a matriz mostra ser ordinária, é melhor a Igreja do Rosário, posto que pequena. No pátio desta Igreja está se fazendo uma rica casa do Comendador Manoel D'Aguiar Vallim, notável pelo seu tamanho". Entra na Província do Rio. Compara o Rio Piraí – hoje a cidade se chama Barra do Piraí – com o rio Juqueri.

Em seguida, fala em fazendas e pequenos pousos, até chegar a São Cristóvão, onde visita o palácio. Visita a Praça da Aclamação, anda pela rua do Sabão, rua da Quitanda, rua do Ouvidor. Vendeu dez animais, foi à procissão do Enterro, no sábado de Aleluia foi ao baile mascarado no Teatro São Pedro. Ainda pousou em Niterói e tomou o vapor para voltar a São Paulo. Essa viagem durou trinta e nove dias. No dia 30 de abril de 1854 chegou à Fazenda Pau-a-Pique.

Quem se habilita a fazer o mesmo hoje? E dizer que há hospedagens, hotéis, pousadas em todo o trajeto de São Paulo ao Rio. Ou é preferível a Ponte Aérea, que faz essa viagem em 45 minutos?

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 20 07 2023



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