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SER VERDE DÁ DINHEIRO
Acadêmico: José Renato Nalini
Mas há esperança. Uma nova geração é mais consciente e sabe que sem petróleo pode-se viver. Sem água não.

Ser verde dá dinheiro

Sou ambientalista por atavismo. Neto de imigrante italiano que chegou ao Brasil no limiar do século XIX, obrigado a deixar a península por uma crise que fez seu povo passar fome. O encanto com esta terra "em que se plantando tudo dá" fez com que toda a família se apaixonasse pela natureza. E alguns se sensibilizaram com o estrago que a cupidez e a ignorância causam ao ambiente. Como diz o Papa Francisco, foi-nos entregue um jardim e dele fizemos um cenário de destruição e de imundícies.

Mas há esperança. Uma nova geração é mais consciente e sabe que sem petróleo pode-se viver. Sem água não. E há iniciativas coletivas e individuais que acenam para um reinício da jornada que destacou o Brasil na comunidade internacional, quando na década de 70 brasileiros como Paulo Nogueira Neto contribuíram para a elaboração do conceito de sustentabilidade. "Sabendo usar, não vai faltar", uma síntese bem adequada para definir a concepção. E levar a sério o lema ecológico dos primeiros tempos: "pensar globalmente, agir localmente".

Tudo o que se possa fazer em termos de devolver uma árvore à natureza, fazer ressurgir um veio d'água, cuidar melhor dos descartes de resíduos sólidos, implementar economia circular e logística reversa, tudo vale a pena. E, o melhor, é lucrativo. O verde, como o dólar, vale bastante.

Estrangeiros visionários como Alexandre Allard é um desses humanos providos de consciência ecológica. Reativou o Hospital Matarazzo, na capital, e teria feito mais, se os entraves burocráticos e necrosados da política partidária profissional o não tivessem impedido. Investiu quase três bilhões no projeto que alia empreendimento e defesa ambiental.

Propõe ao governo brasileiro assuma a liderança no debate ambiental e cobre o valor real pela preservação de nossas florestas. O Brasil ainda cobra pouco pelo crédito de carbono, enquanto detém, sozinho, 25 dos genomas do planeta, produto direto e gratuito da biodiversidade. Se a economia da preservação fosse objeto de real atenção por parte dos governos - todos eles - ela dobraria o PIB do Brasil em 20 anos.

Para um empresário como ele, o Brasil representa o superpower verde do planeta. Algo que só a ignorância crassa e a vinculação com interesses escusos impedem de enxergar. O país já foi a promissora esperança verde em tempos de Chico Mendes, Aziz Ab'Saber, o salvador da Serra do Japi, Marina Silva, que acaba de ressurgir. Depois foi convertido em "Pária Ambiental". E isso deve ser página virada em nossa História.

O empresário Alexandre Allard conseguiu, no seu complexo, provar que conviver com a natureza é um luxo. O Brasil pode, se quiser, chegar a 2030 como a grande nação do G20 com emissão de carbono zero, com carbono negativo. Uso consequente da tecnologia, aproveitar as chances da transição energética - e José Goldemberg é perito nisso - energia solar, novas baterias, hidrogênio verde. Em seguida, mudança de cultura. Estamos equivocados: não somos "donos" do ambiente. Somos parte dele.

A desigualdade climática sacrifica os mais pobres. E se a educação ecológica for uma política estatal consistente, os mais carentes serão beneficiados com a adoção de táticas de recuperação ambiental insuscetíveis de serem praticadas por computadores. Coletar sementes, semear, acompanhar o desenvolvimento das espécies, replantar, reflorestar, poderá tirar da miséria um enorme contingente de jovens hoje desprovidos de perspectivas.

No momento em que os que só pensam em cifrão perceberem que o verde dá dinheiro, haverá uma corrida espontânea para a descarbonização e para tornar o Brasil, novamente, o campeão da preservação ambiental, sem prejuízo de ser o maior produtor de alimentos do planeta.

Publicado no Jornal de Jundiaí, em 27 04 2023



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