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E QUANDO A ÁGUA ACABAR?
Acadêmico: José Renato Nalini
Os cientistas advertem e não são ouvidos. Até 2030, a demanda por água será quase 50 maior do que a oferta.

E quando a água acabar?

A maioria parece não acreditar. Continua a se comportar irresponsavelmente. No mundo macro, na esfera micro. Quem já não viu os funcionários dos edifícios usando os esguichos como vassoura hidráulica? Esbanjam a água que não pagam, sempre com a resposta na ponta da língua: "prefere deixar as calçadas sujas?". Às vezes, incentivados por seus patrões: "Estamos pagando pela água que usamos!".

Os vazamentos de água tratada são comuns em todas as cidades. Há uma perda considerável. Mas água é algo que esteve sempre à disposição. Não vai acabar. Acredite quem quiser.

A Europa já sente mais agudamente esse problema que o Brasil também enfrenta, mas que não quer solucionar. Os próximos anos serão cruciais para o desaparecimento da água. Vem aí o "El Niño" e, com ele, mais calor. O estresse hídrico atingirá todo o planeta.

Os cientistas advertem e não são ouvidos. Está comprovado que, até 2030 - ano que está a se aproximar rapidamente - a demanda por água será quase 50 maior do que a oferta. Como se resolverá isso?

Há tecnologias disponíveis. A primeira delas é a conservação de água e isso deveria motivar o agronegócio, pois a agricultura responde por 70 da água consumida em todo o globo. Países que não foram privilegiados com o estoque de água doce originalmente disponível no Brasil, atuam com seriedade nessa área. Israel, por exemplo, fazem irrigação por gotejamento. Água é preciosa e cada israelense sabe disso. É impressionante visitar os kibutz e verificar como aquela mocidade idealista, na garra e no entusiasmo, fez da areia escaldante um jardim florido, um pomar copioso, uma floresta encantadora.

Outros países procuram desenvolver culturas mais tolerantes à seca. Aqui, nós deixamos as nascentes morrerem, destruímos as matas ciliares, poluímos os rios, encanamos cursos d'água, quando não os sepultamos para cobrir com asfalto. Pois a nossa civilização é destinada ao carro, não aos humanos.

Uma tecnologia que custa muito dinheiro, mas que é necessária para as regiões desprovidas de mananciais, é o trato e reutilização da água. As tecnologias hídricas estão prosperando, pois sem água não se vive. Alguns poucos edifícios, mais modernos, já ostentam uma placa de reutilização de água, o "reuso" ou o aproveitamento das águas da chuva, costume disseminado nos países desérticos.

Há também a possibilidade de purificação de águas residuais industriais, o que é ainda muito dispendioso. E, remotamente, o processo de dessalinização.

É o método mais caro de se obter água doce. O custo de produção de água doce a partir da água do mar era equivalente a sete reais por metro cúbico e hoje parece estar por volta de meio dólar - ou dois reais e quarenta centavos - pela mesma quantidade de água dessalinizada.

Seu barateamento está condicionado à ampliação das possibilidades de obtenção de energia renovável. Talvez o Brasil pudesse entrar nessa corrida, pois tem mais de dez mil quilômetros de costa marítima, consideradas as reentrâncias da zona litorânea.

Em Abu Dhabi encontra-se a maior empresa de dessalinização do planeta. Cientistas apostam na simultânea utilização de todos os tipos de tecnologia, valendo-se de projetos de big data e aprendizado de máquina. Os jovens brasileiros deveriam ser incentivados a carreiras tecnológicas, para contribuírem com o problema da escassez de água, o que seria impensável a um século.

Mas não se deve descartar a educação ambiental, para que cada ser humano se sinta responsável pelo uso consciente desse bem finito, que não se reproduz. Embora milionários, por gratuita doação da Providência, os brasileiros desperdiçaram a sua valiosa cota de água. Até o aquífero Guarani já está poluído, tantos os poços artesianos que se abrem descontrolada e crescentemente.

Recuperar nascentes, plantar árvores, usar de água sem desperdício, tudo tem de estar na consciência dos brasileiros que não perderam completamente o seu senso de pertencimento à espécie. Senão, é pensar em o que fazer quando a água acabar. Beber petróleo?

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão
Em 16 07 2023



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