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PELO SIM, PELO NÃO
Acadêmico: José Renato Nalini
Alinha-se ao lado da sustentabilidade e pratica-se aquilo que é justamente a causa do agravamento da ameaça que recai sobre a humanidade?

Pelo sim, pelo não

O greenwashing é uma doença que acomete o pretenso ambientalismo e que pode contaminar a agenda ESG. Ou seja: empresas que propalam sua adesão à fórmula de sustentabilidade, são pegas em flagrante e acusadas de más práticas.

Isso é muito comum. Mostra que entre a promessa e o cumprimento dela, podem existir muitos furos. Uma coisa é se prontificar à inclusão em favor da natureza. Outra é honrar esse compromisso, o que dá muito trabalho e talvez até proporcione gastos não previstos.

Agora mesmo, uma grande empresa de alimentos é acusada de patrocinar desmatamento legal por ação de parte de seus fornecedores. Ela admite que nos quase setenta casos de desmate, identificou 69 deles e tomou providências. Faltam 30, sobre os quais ela se limita a negar envolvimento.

A apuração do devastamento foi feita de forma científica e confiável. Alertas confirmados por sinais de imagens de satélites. Mediante cruzamento dos dados com os CARs – Cadastros Ambientais Rurais, é possível detectar as partes pertencentes a reserva legal ou a demarcação indígena. Em muitas das apurações, verificou-se que o gado sai de uma fazenda em que a pecuária é irregular, ou seja, ilícita, até criminosa e vai diretamente para o frigorífico da empresa.

Ora, sabe-se o quão fácil é fugir às malhas da lei quando se tem um corpo jurídico talentoso, hábil em manobrar o labiríntico desafio de uma normatividade prolixa e de um sistema Justiça caótico, burocrático, lento e ineficaz. Mais importante do que negar ligação com a delinquência, seria essa empresa provar a sua profissão ecológica e formar áreas de reflorestamento. O que ela tem feito para repor as árvores ceifadas da floresta, que – apenas no Brasil – superam um bilhão?

Não adianta protestar, quando permanece a dúvida – senão a certeza – de um comportamento hipócrita. Alinha-se ao lado da sustentabilidade e pratica-se aquilo que é justamente a causa do agravamento da ameaça que recai sobre a humanidade? Precipitar a chegada do caos, com os eventos extremos e surpreendentes, que no nosso país têm causa direta com a destruição da floresta?

Negar é insuficiente. Melhor seria comprovar proatividade. Quantos milhões de hectares têm sido replantados por empresa cujo vínculo com os dendroclastas parece tão provável?

Publicado no jornal Diário do Litoral
em 28 05 2023



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