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ÁGUA: ELA VAI FALTAR!
Acadêmico: José Renato Nalini
Pode-se viver sem petróleo. Não se vive sem água. Incrível que o humano ainda não se dê conta disso.

Água: ela vai faltar!

Pode-se viver sem petróleo. Não se vive sem água. Incrível que o humano ainda não se dê conta disso. Age de forma irresponsável, como se dispusesse de um recurso infinito. Não é assim.

2021 foi um dos sete anos mais quentes da história. Registrou-se mais secas do que se podia imaginar. Não é achismo. É conclusão do relatório da Organização Meteorológica Mundial - OMM, organismo das Nações Unidas que analisou dados de vazão de bacias hidrográficas em três décadas: de 1991 a 2021.

Embora o planeta possua três quartas partes de água, 97 dela é salgada, inservível para beber. O que resta não está a merecer o zelo e atenção necessária e poderá em breve afetar a maior parte dos viventes.

As informações deveriam angustiar os detentores de poder para tomar as providências imprescindíveis e urgentes. A Terra já conta com oito bilhões de habitantes, além dos outros animais, que podem suplantar a população humana. O Brasil, por exemplo, tem mais gado do que gente. Sem contar os pets, que são muitos milhões. Todos precisam de água para sobreviver.

O aquecimento global é uma realidade científica apreensível por qualquer pessoa com sensatez no grau mínimo. O Brasil já enfrentou crises hídricas. São Paulo, nos anos 2013/2014, foi vítima da queda de nível dos reservatórios. Houve racionamento, houve obras de infraestrutura. Mas não se verificou aquilo que poderia mitigar a tragédia: um projeto consistente de recuperação de nascentes, de reposição de matas ciliares e de acréscimo da cobertura vegetal cruelmente exterminada em processo incessante e cego.

Ao contrário, a Mata Atlântica é o bioma que mais perde o verde. A recuperação mínima ocorre em pequenos espaços, os chamados "cogumelos", obra de alguns proprietários sensíveis. Quanto ao governo, os últimos anos foram de verdadeira carnificina ecológica. Não foi maldade internacional sermos chamados de "Pária Ambiental". Foi a constatação de que a antiga auspiciosa e promissora "potência verde" resolveu - deliberadamente - destruir o seu maior patrimônio, muito antes de conhecê-lo e de avaliar a sua capacidade de suprir as necessidades atuais e do amanhã.

O estado hidrológico da Terra é grave. Não basta coletar mais dados, embora as evidências se mostrem eficientes para qualquer planejamento. Nem é bastante investir em redes de observação local para conhecer melhor a situação. Sem uma profunda conversão da consciência coletiva, tudo indica se caminhará para o caos.

Pois há desperdício de água tratada. A água que se bebe tem cada vez mais substâncias químicas, pois chega poluída, com coliformes fecais acima do que seria tolerável. Pense-se numa insensatez chamada Grande São Paulo. São mais de vinte e dois milhões de pessoas que se alimentam e defecam diuturnamente. Ainda há regiões desprovidas de esgotamento doméstico. O saneamento básico é precário. Tudo isso vai desaguar nas represas que nos abastecem.

Quando Manoel da Nóbrega e José de Anchieta escolheram o planalto para construir uma escola e iniciar nova povoação, o fizeram porque a região era servida por três grandes rios - Tietê, Tamanduateí e Pinheiros. O que fizemos deles? Havia centenas de cursos d'água que foram enterrados para servir a sua majestade o automóvel.

Há outros pontos críticos no relatório patrocinado pela ONU. Um deles é a bacia do São Francisco e, como não poderia deixar de ser, a bacia Amazônica. Esta enfrentou tanto a inundação quanto a seca. O Centro de Pesquisa em Epidemiologia e Infortúnios da Universidade de Louvain, na Bélgica, apurou que em 2021 ocorreram 432 eventos de perigo extremo em larga escala em todo o mundo. Morreram dez mil pessoas e mais de cem milhões foram afetadas, num prejuízo calculado em duzentos e cinquenta bilhões de dólares.

Seria muito mais barato enfrentar a necessidade de recuperar as áreas degradadas, pois o mundo precisa de um trilhão de árvores. Elas demoram para crescer, mas são derrubadas em alguns minutos com a motosserra ou com o "correntão" puxado por dois tratores, num extermínio por atacado.

Discute-se a política, a farra na distribuição dos cargos, a romaria para pleitear a atenção dos governantes. Mas não se alerta a população e esta é que virá a sofrer as consequências do descaso.

A Terra já cansou de emitir sinais e advertências. Só sabe responder com as desgraças que, infelizmente, ainda virão. Cada vez com frequência e intensidade maior.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Estadão/Opinião
Em 29 12 2022



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