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O IMPERADOR PAIZÃO
Acadêmico: José Renato Nalini
Enxotado do paço imperial, Pedro I deixou dormindo suas crianças,

O imperador paizão

2022 é o ano em que o Brasil precisa reverenciar aqueles que o tornaram nação independente e não mais colônia lusa. O mais lembrado deles é Pedro I, o filho que D. João VI deixou aqui, para que a dinastia não fosse desalojada do poder.

Costuma-se pensar no primeiro imperador brasileiro como um jovem impulsivo, mulherengo, estroina, esquecendo-se de suas qualidades incríveis para a primeira metade do século XIX. Era compositor, manejava instrumentos musicais, redigiu a Constituição de 1824, que ainda tem bastante a ensinar aos "constitucionalistas" de plantão.

Mas queria focar aqui a sua condição de pai extremoso de sua prole. Pode parecer estranho que, levando a sério a paternidade, tenha deixado os filhos aqui, ao abdicar em 1831 e voltar a Portugal. Mas é preciso compreender conforme o contexto à época.

Ele pensava em retornar à terra natal, pois havia grandes interesses em questão. Mas deixou o Brasil porque foi traído. Alberto Rangel, no livro "A Educação do Príncipe", acusa o trio de irmãos Lima e Silva, um deles - posteriormente - o Duque de Caxias, de traição contra quem só os beneficiou. Algo que acontece com frequência maior do que se poderia esperar.

Enxotado do paço imperial, Pedro I deixou dormindo suas crianças, dentre elas aquele que, ainda sem completar seis anos, acordaria imperador do Brasil. Imagine-se o sentimento do pai ao receber uma carta de teor que segue: "Meu querido Pai e meu Senhor. Quando me levantei e não achei a Vossa Majestade Imperial e a Mamãe para lhes beijar a mão, não me podia consolar nem posso, meu querido papai. Peço a Vossa Majestade Imperial nunca se esquecer deste filho que sempre haverá de guardar a obediência, respeito e amor ao melhor dos Pais tão cedo perdido para seu filho. Beijo respeitoso, as augustas mãos".

Pedro I escolhera José Bonifácio para a tutoria de seus filhos. Escreveu: "Eu delego em tão Patriótico Cidadão a Tutoria do meu querido filho e espero que, educando-o naqueles sentimentos de honra e de patriotismo com que devem ser educados todos os soberanos para serem dignos de reinar, ele venha um dia a fazer a fortuna do Brasil, de que me retiro saudoso".

Ao pequeno Pedro, o pai escrevia, a bordo da "Volage": "Meu querido filho e meu imperador: lembre-se sempre de um pai que ama e amará até a morte a Pátria que adotou por sua, e em que Vossa Majestade teve a fortuna de nascer. Eu não digo isso porque me arrependesse de ter abdicado; bem pelo contrário, eu nasci muito livre, e amigo da minha independência para gostar de ser soberano e em uma crise em que eles têm ou de esmagar os povos que governam ou de serem esmagados por eles; porque a luta tem chegado a um tal ponto de apuro, que a conciliação, quando não seja impossível, é pelo menos dificultosa e de pouca duração caso possa ser conseguida".

Há seis cartas escritas em 1832, conservadas no Arquivo do Castelo d'Eu, que mostram o amor de Pedro I por seu pequeno xará: "Meu querido filho. Recebi as tuas cartinhas de 16 de fevereiro e de 3 de março; não posso te explicar o prazer que me causaram: vejo por elas e me convenço que tu fazes progressos. Duas cartas já escritas sem lápis e com tão linda letra! Ah meu amado filho: continua a aplicar-te que um dia virás ser um digno monarca". Noutra exortava: "Não posso deixar de vos recomendar (posto que me parece que não será necessário) que sejais obedientes ao vosso tutor, e que vos apliqueis aos vossos estudos".

Em todas elas, o amor paterno é extravasado, juntamente com as saudades do Brasil. Além de outras qualidades, Pedro I foi um paizão!

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 14 07 2022



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