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HÁ 90 ANOS ÉRAMOS CORAJOSOS!
Acadêmico: José Renato Nalini
A melhor celebração dos 90 anos de 1932 é resgatar o orgulho bandeirante

Há 90 anos éramos corajosos!


9 de julho de 1932 registra momento histórico de extrema importância. São Paulo já se tornara o Estado-membro em que o futuro chegara. Sua indústria florescia. Os imigrantes trouxeram civilização a uma cultura provinciana, arcaica e ainda colonial. Dez anos antes, os jovens paulistas deram o seu grito nacionalista para que literatura, artes plásticas, música, arquitetura, fotografia e cinema contemplassem temas genuinamente brasileiros.

Justamente por isso, o restante do Brasil se propunha refrear São Paulo. A revolução de outubro de 1930 colocara o arbítrio no poder. Seis anos antes, em 1924, São Paulo fora metralhada pelas forças federais.

Os jovens, sempre os moços da "velha e sempre nova Academia", enxergavam longe e exigiam tão somente respeito em relação aos paulistas. Na noite de 23 de maio de 1932, marcharam até à sede da Legião Revolucionária situada na Praça da República. Foram recebidos a bala de fuzis e metralhadoras. Morreram os jovens cujas iniciais de prenome geraram a sigla MMDC - deixou-se de lado um quinto herói, Orlando - que passaram a simbolizar a luta paulista.

E que luta era esta? Era o retorno ao Estado de Direito. Os paulistas queriam uma Constituição democrática. O ditador Vargas impunha uma série de humilhações ao povo bandeirante, que não estava acostumado a sofrê-las. Foi daqui, deste chão, que partiram os conquistadores do território que nos permitiu esta dimensão continental. Foi aqui proclamada a Independência. Daqui saiu a melhor educação republicana. O ciclo militar do golpe de 15 de novembro de 1889 foi interrompido com a presidência extraordinária de três paulistas: Prudente de Morais, Campos Salles e Rodrigues Alves.

Traído pelos Estados irmãos que prometiam solidariedade, São Paulo lutou durante três meses e nunca se viu, nesta terra, tal coesão de solidez e fraternidade entre todas as pessoas. Formou-se uma só família, cada qual fazendo a sua parte. A Igreja participou, assim como a indústria, até o Judiciário. O Presidente do Tribunal de Justiça era o notável Manoel da Costa Manso, que dirigiu veemente pronunciamento ao povo, que já estava desperto pela voz poderosa de Ibrahim Nobre, o "tribuno da Revolução".

Sem armamento, sem munição, sem táticas que pudessem oferecer resistência a todas as forças nacionais, unidas contra São Paulo, o povo paulista perdeu. Perdeu vidas, perdeu importância política - vide o Parlamento Federal, em que somos sub-representados -mas a sua tese foi vencedora. O ditador foi obrigado a aceitar a Constituição de 1934, uma das mais democráticas que o Brasil já produziu.

O que existe a ser celebrado em 2022? A similitude do clima brasileiro, que guarda pontos de identidade com 1932. Existe, é verdade, uma Constituição, até chamada "Cidadã". Mas ela é continuamente vilipendiada, em quase todos os seus dispositivos. Exemplos disso dariam mais do que um volumoso livro. Mas basta citar o artigo 225, que ao ser redigido foi considerado a mais bela norma fundante gerada no século 20. A "potência verde" conseguiu, nos últimos três anos, ser convertida em "Pária Ambiental", uma perda reputacional que envergonha o brasileiro de bem.

A melhor celebração dos 90 anos de 1932 é resgatar o orgulho bandeirante. Reencontrar a capacidade de indignação. Ter coragem de existir compostura, ética na política - terrível desafio esse! - e destemor para chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome. Se em 1932 éramos tão corajosos, onde foi parar essa coragem?

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 07 07 2022



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