Compartilhe
Tamanho da fonte


OSWALDO MARCHI (1925-2022)
Acadêmico: José Renato Nalini
Aos poucos, vamos perdendo essas referências éticas, mas viverão em nossa memória

Oswaldo Marchi (1925-2022)

Figuras lendárias de uma Jundiaí educada, elegante e fraterna vão deixando esta esfera e ingressam no etéreo. Parte Oswaldo Marchi, o gentleman que atendia em sua joalheria em traje formal e de forma cavalheiresca. Eram tempos em que nossa cidade possuía Benjamin Herman e "O Rei das Roupas Feitas", bem defronte ao estabelecimento de Oswaldo Marchi e, na Praça Pedro de Toledo, pontificava Victor Kalaf com sua "Loja Nova". Mais adiante, os irmãos Fehr - Arthur, Otto e Oswaldo Willy Fehr - em sua tradicional "Paulicéia".

Meu pai parava na joalheria para conversar. Ali também se comerciava porcelana, cristais, era a loja fina de presentes para os casamentos, além de joias nas quais se podia confiar.

Guardo episódios pitorescos da função de Oswaldo Marchi, também um "causeur", dono de um humor refinado. Contava de uma sua cliente que sempre pedia uma peça de porcelana quebrada, para uma "brincadeira" com uma amiga. Solicitava que se embalasse para presente. Ele ficou sabendo que ela chegava à casa da noiva - àquele tempo, as lembranças ao casal eram entregues pessoalmente - e deixava o pacote cair. Era a simulação de que o objeto só se quebrara na queda.

Oswaldo soube e, depois de várias vezes dessa prática, embrulhou os cacos separadamente. A destinatária do presente só pode dizer: "Já estava quebrado!".

Outra vez, comentava que um marido foi comprar aliança de brilhante para a mulher e queria que a dele também fosse igual, com os brilhantinhos recobrindo a platina. Oswaldo teve de explicar que para o homem, a aliança continuaria a ser de metal, independentemente das bodas celebradas.

Comprei dele uma pulseira com turmalinas, para a minha namorada Eliana Castiglioni. Ele comentou com meu pai: - "Baptista: acho que é sério! Ele gastou o ordenado comprando uma joia para a menina...".

Mas Oswaldo Marchi foi o esposo devotado de Mercedes Ladeira, que criou a "Feira da Amizade", verdadeiro fenômeno jundiaiense, que unia famílias e entidades para trabalhar pelas instituições de amparo da cidade. Voluntariado, mecenato, formação de equipes e cooperação fraterna, verdadeiro espetáculo de convivência, que foi realizado com sucesso durante muitos anos.

Pais de Marthinha, que mereceu todo o carinho da família e foi menina feliz enquanto viveu e de João Henrique, o médico de que tanto se orgulhavam. Todos os motivos para se orgulhar de um jovem estudioso, educado e excelente exemplar dessa valorosa estirpe.

Os Marchi eram representantes de família tradicional, da melhor cepa, gente de brio e de caráter. Romeu, o primogênito, foi empresário e educador. Tive também o privilégio de conviver com ele, principalmente porque D. Margarida Éber e Romeu tiveram filhos maravilhosos. O primogênito, Roberto, era meu colega de classe no Divino Salvador. Bebel, a segunda filha, casou-se com meu afilhado João Taddeo Fernandes Molina. Privilégio conviver com pessoas de primeiríssima qualidade, como os Marchi. Julieta era a irmã caçula de Romeu e Oswaldo. Um trio unido e bem sucedido.

Além de tudo, Oswaldo foi um esteio para Mercedes, na azáfama da coordenação de centenas de pessoas, nos preparativos de um verdadeiro happening, que envolvia toda a cidade e foi uma experiência inenarrável.

Aos poucos, vamos perdendo essas referências éticas, esses padrões morais, esses paradigmas para os quais não há refil. Viverão em nossa memória, enquanto vivermos.


Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião/Estadão
Em 21 04 2022



voltar




 
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562.
Imagem de um cadeado  Política de privacidade.