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UM DIA COMO OS OUTROS
Acadêmico: José Renato Nalini
Amanhã é um novo dia. Um novo ano. Renovem-se as esperanças. Sem elas, fica muito triste encarar a realidade brasileira.

Um dia como os outros

Só que amanhã, será 2022. O que dizer deste novamente atípico 2021? 2020 já fora um ano terrível. A humanidade não tinha noção da intensidade da pandemia. Viu-se de repente inibida de se reunir, assistiu a centenas de milhares de mortes, enfrentou a guerra de narrativas, o negacionismo, a ignorância, o descaso e outras exibições de indigência moral.

2021 foi o ano em que se avançou na imunização. Para nós, um legítimo e justificado orgulho. São Paulo fabricou a vacina, vacinou seu povo e forneceu o imunizante para todos os irmãos brasileiros.

Houve uma reversão na curva de óbitos e acendeu-se a esperança de que tudo iria passar.

Existe um saldo bipolar em 2021. As mortes continuaram, a pandemia escancarou a realidade brasileira, em que milhões passam fome, muitos outros milhões padecem de insegurança alimentar. Empregos desapareceram. Existe necessidade de quadros funcionais habilitados, mas inexistentes, pois a educação de qualidade é uma quimera distante.

Economia cambaleante, indústria sucateada e o Brasil dando ao mundo o péssimo exemplo de país destruidor da natureza. Compareceu à COP26 na melancólica e vexaminosa condição de “Pária Ambiental”.

Mentiu-se quanto ao índice de extermínio da floresta, afirmou-se que a Amazônia era a mesma, restara intocada desde o ano 1500. Não houve constrangimento ao pedir ao estrangeiro que pagasse para que o Brasil viesse a cumprir sua Constituição, mormente o artigo 225, elogiado como a mais bela norma fundante produzida no século 20. Não se pestanejou, também, ao se afirmar que floresta é sinônimo de pobreza. Como se deserto, que está sendo rapidamente fabricado, fosse sinônimo de riqueza.

O Parlamento nadou em águas mansas, pois conseguiu emplacar o orçamento secreto, algo que nem as ditaduras tiveram a coragem de implementar.

Por outro lado, o Judiciário paulista multiplicou sua produtividade com a realização de atos remotos. O advento das TICs – Tecnologias da Informação e da Comunicação, fruto da Quarta Revolução Industrial, mostrou-se hábil a favorecer tomada de posição e assunção de responsabilidades que provaram representar a realidade irreversível: o futuro chegou e os brasileiros do sistema Justiça estão aptos ao protagonismo que resultará em fortalecimento da débil democracia tupiniquim. Pequenos ganhos foram registrados: a pontualidade na realização de audiências e de sessões; o incremento na obtenção de acordos, pois o sistema só funciona com um microfone ligado por vez. Uma experiência que precisa ser aprimorada, mas que não pode ser interrompida.

Houve exemplos de solidariedade que partiram de múltiplos focos. Não foram apenas empresas e instituições financeiras os agentes da transformação. Foram cidadãos anônimos. Pessoas que se condoeram da sorte dos famintos e se propuseram a arrecadar recursos e a distribuir cestas básicas.

O pessoal da saúde foi heroico. Trabalhou sem cessar. Apesar das perdas irreparáveis, não deixaram os irmãos sem cuidado, hospitalização e atendimento.

A educação, ao menos para a Universidade e para a pós-graduação, não sofreu solução de continuidade.

Este dia trinta e um de dezembro sempre foi reservado para um acerto de contas mental: o que foi prometido como projeto para desenvolvimento durante os doze meses que hoje findam? Honrou-se o compromisso consigo mesmo?

Por experiência própria, sei que a ambição pretensiosa é muito maior do que a capacidade de concretizar os anseios fantasiosos de imaginações criativas. Só invocando os gregos: “nada em excesso”!

O mais importante é ter sobrevivido a esse ano difícil. Agradecer pelo dom da vida. Uma dádiva gratuita, pela qual devemos render graças. Quantos não conseguiram chegar até aqui!

Amanhã é um novo dia. Um novo ano. Renovem-se as esperanças. Sem elas, fica muito triste encarar a realidade brasileira.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 31/12/2021



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