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NÃO FALTAM EMPREGOS
Acadêmico: José Renato Nalini
Lembre-se: não faltam empregos! Faltam pessoas qualificadas para ocupá-los.

Não faltam empregos

O que está faltando é gente preparada. A educação estatal permaneceu inerte, enquanto o mundo se transformava, numa revolução disruptiva que absorveu tecnologias avançadíssimas. A digitalização fez desaparecer inúmeras profissões. Enquanto isso, a escola pública oferece um cenário pré-medieval. Faz com que infância e juventude aprenda a decorar informações. Essas mesmas que são obtidas instantaneamente com um clique nas bugigangas eletrônicas que todos têm, das quais nos tornamos dependentes e que propiciam o mergulho irreversível numa realidade que supera a mais imaginosa ficção científica.

Neste Brasil periférico, sempre na rabeira da civilização, mercê de sua política chã, rasteira e em grande parte corrupta, a iniciativa privada vai suprindo a ausência de Estado. Até 2025, o setor de tecnologia criará oitocentas mil vagas. É a projeção da Brasscom – Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologia Digital. Só que mais de quinhentas e trinta e duas mil dessas vagas não serão preenchidas por falta de pessoal qualificado.

A imensa maioria dos que obtêm diploma universitário ainda procura áreas saturadas, com excesso de pessoal. Por sinal, pouco preparado, em virtude da falência do ensino fundamental. Não é difícil obter um diploma em humanidades. Mas aquele que não foi bem alfabetizado continuará analfabeto funcional, só que terá um canudo para exibir. Culpará o sistema, se considerará vítima de um destino cruel. Nunca assumirá a responsabilidade própria, que o levou a aceitar a insuficiência da escola, não fazer do aprendizado um exercício permanente e não enxergar que a contemporaneidade precisa de outros profissionais.

Embora nação de desenvolvimento tardio, que ora mergulhou numa recessão, o Brasil está imerso na Quarta Revolução Industrial. Há mais de trezentos milhões de mobiles em uso. A migração do pagamento convencional para o sistema PIX mostra que a população está ávida por ingressar no ambiente da internet das coisas, da robótica, da nanotecnologia, de todo esse mundo mágico propiciado pela ciência e por sua serva fiel, a tecnologia.

Os que enxergam a situação têm condições de abandonar a rota tradicional da obtenção de um diploma que de nada servirá, para fazer um curso que realmente defina o seu futuro. Não é novidade a migração de uma atividade para outra. É um sinal identificador de nossa era. Nada mais é estável, nada mais é seguro. Quem não se dispuser a mudar de ramo, a aprender coisas novas, a se atualizar, estará perdido. A História o deixará à margem. Resíduo inaproveitável produzido por uma educação caduca.

Há inúmeros cursos disponíveis, como a graduação em ciência da computação, com foco em projetos e resolução de problemas, num nicho de excelência chamado Insper. Duração de oito semestres. Mas a mensalidade é cara: R$ 5.240. Não é muito diferente o bacharelado em sistemas de informação, com idêntica duração, da Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM: R$ 4.121 por mês.

Já o curso superior em análise e desenvolvimento de sistemas, com integração entre aulas de TI e Automação mantido pela Faculdade de Tecnologia Senai, em São Caetano do Sul, é bem mais palatável: R$ 881,68 por mês, durante quatro semestres. Só que existe um curso gratuito: o Bacharelado em sistemas de Informação, oferecido pelos Institutos Federais com a duração de oito semestres. O ingresso se dá pelo Sisu.

Esse o caminho para quem não quiser o descarte. Existem inúmeras vagas para desenvolvedor full stack, o profissional que cuida tanto da interface quanto do código do app, para desenvolvedor back-end, que cria e gerencia a área que armazena os dados do app ou software, para desenvolvedor front-end, encarregado do design e experiência do usuário. Mas também sobram vagas para técnico em informática, analista de sistemas gerente de projetos, designer e gerente de TI.

Aquele que se satisfez com o menu tradicional – bacharelado em direito, administração, ciências contábeis e que tais – terá de se adaptar. Fazer um outro curso em Tecnologia de Informação e Comunicação. Isso se quiser um amanhã menos sombrio do que o enfrentado por quem se sacrificou durante anos e se frustrará com a quase absoluta falta de oportunidades para essa formação. A mutação das profissões é profunda e veio para ficar. Em vez de lamentar pela má escolha, o êxito ainda é uma alternativa para os corajosos. Lembre-se: não faltam empregos! Faltam pessoas qualificadas para ocupá-los.

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 15 12 2021



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