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O UNIVERSO NÃO É A UNIVERSIDADE
Acadêmico: José Renato Nalini
Uma inteligência verdadeiramente superior programou tudo aquilo que existe

O universo não é a universidade


Quem disse isso foi W. V. Quine e ele tinha razão. O matemático norte-americano foi um dos mais influentes pensadores do século 20. Seu nome completo era Willard Van Orman Quine. Sempre citado como Quine, os familiares e íntimos o chamavam simplesmente "Van". Matemático, filósofo e lógico, o mais conceituado na segunda metade do século passado. Nasceu em Akron, Ohio, em 25 de junho de 1908 e morreu em Boston, no dia de Natal do ano 2000.

O que ele quis dizer? Que embora a universidade seja a instância adequada para a mais isenta busca da verdade, ela não responde a tudo. Principalmente às indagações irrespondíveis: por que nasci? O que estou fazendo aqui? Quando eu morrer tudo acabou? Existe vida após a morte?

Preocupada com estruturas, procedimentalismos, departamentos, compartimentação em disciplinas, nem sempre consegue saciar essa aspiração que é de todos os humanos que realmente pensam.

Por isso é que a busca de respostas deve ser um compromisso pessoal de cada um. Por óbvio, o encaminhamento da reflexão começa com a existência ou inexistência de Deus. Já admiti, várias vezes, que por ser bastante simplório, não me convenço de que toda a complexidade do mundo resulte de uma explosão. Do chamado Big-Bang. Assim, é-me satisfatória a crença no design inteligente. Uma inteligência verdadeiramente superior programou tudo aquilo que existe. Inclusive nós.

Essa crença não é generalizada. Em pesquisas realizadas no início do milênio, 59 dos americanos afirmaram que a religião era importante para elas. Mas na Inglaterra foram apenas 33, na Itália 27, na Alemanha 21, 12 no Japão e 11 na França. O que ocorreria no Brasil, onde até os ateus costumam dizer: "Não acredito em nada, graças a Deus!".

Há quem sustente que o descrédito na religião - que significa a religação da criatura com o Criador - deriva do avanço da ciência. Mas há cientistas religiosos, que consideram compatível a verdade científica e a crença em um Ser Superior, que coordene o Cosmos, reja o Universo, o elaborador daquelas regras que presidem a vida em todas as suas exteriorizações.

Além do argumento do desígnio, que soluciona a questão da origem do Universo, as maravilhas da natureza indicam sua origem a partir de uma superlativa inteligência. William Paley, (1743-1805), um clérigo anglicano que ensinava na Universidade de Cambridge, escreveu dois livros para demonstrar essa viabilidade. "Uma Perspectiva das Provas do Cristianismo", de 1794 e "Teologia Natural: ou Provas da Existência e dos Atributos de Deus", escrito em 1802. Paley se deteve bastante no olho, concebido e colocado no lugar mais adequado em relação ao corpo humano.

Outro argumento bem utilizado é o da negação do acaso. Tudo teria surgido de um acaso, sem a intervenção de qualquer vontade? Um silogismo singelo pretende solucionar a dúvida: ou as maravilhas da natureza ocorreram aleatoriamente, por acaso, ou são o produto de um desígnio inteligente. Não podem ter ocorrido por acaso. Logo, são o produto de um desígnio inteligente.

É óbvio que isso não satisfaz a todos. David Hume (1711-1776), por exemplo, ataca a inconsistência das explicações. Para ele, o argumento do desígnio peca por inferir uma causa a partir de seus efeitos. Escreveu o livro "Diálogos sobre a Religião Natural", em que expôs a fragilidade dos argumentos teístas. Mas não chegou a se afirmar descrente. Em sua época, isso era inadmissível. Por esse motivo, o livro só foi publicado postumamente, em 1779.

Crer ou não crer é algo ínsito à natureza humana. A razão estabelece terreno favorável para que se sustente uma ou outra postura. Os cientistas querem demonstrar - e acreditam nisso - que tudo começou há catorze mil milhões de anos e que a Terra surgiu cerca de nove mil milhões de anos após. Mas o que teria causado o Big-Bang? A explosão elimina a possibilidade da existência de Deus?

Daí o prestígio da ideia da causa primeira. Tudo o que existe deriva de uma causa. A cadeia causal não pode recuar indefinidamente. Retroceda-se o quanto for e, sem dúvida, chegar-se-á a uma causa primeira. E essa Causa Primeira se chama Deus!

É um bom começo de reflexão, para este ano atípico, em que mais de seiscentas mil pessoas foram chamadas para o encontro definitivo.

Publicado no Jornal de Jundiaí/Opinião
Em 17.10.2021



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