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ONDE ESTÃO NOSSAS GRETAS?
Acadêmico: José Renato Nalini
Greta Thunberg, a jovem ativista sueca é uma das vozes que o mundo ouve há vários anos. E aqui? Onde estão nossas Gretas? Onde está a nossa “Sexta pelo Futuro?”. A continuar o desmatamento de todos os biomas, haverá futuro?

Onde estão nossas Gretas?


Greta Thunberg, a jovem ativista sueca é uma das vozes que o mundo ouve há vários anos. Desde praticamente criança, indignou-se com a evidente insanidade dos governos, inertes diante da destruição do ambiente que gerou a catástrofe das alterações climáticas. Ainda não se chegara ao fundo do poço, que é governos cuidando eles mesmos da extinção da floresta. Algo só imaginável no pior pesadelo ou como atração de circo de horrores. Mas, infelizmente, acontece.

Grega leva tão a sério o perigo ecológico, que foi fazer campanha nas eleições alemãs, alertando a negligência com que todos os partidos estão tratando o maior desafio já posto à humanidade. O único suficientemente apto a eliminar qualquer espécie de vida no planeta.

O descompasso entre a atuação do governo e a vontade do povo ocorre também na civilizada Alemanha. Ali, 81 da população considera ser necessária uma efetiva atuação para proteção da natureza. O clima é a maior preocupação dos alemães. Para responder aos eleitores, pretendendo atraí-los, os partidos incluem o ambiente em sua pauta. Mas os alemães não se deixam enganar. Distinguem propaganda, isca eleitoral, discurso vazio ou inócuo de real intenção de promover mudanças que afetarão a economia e o modo de vida de todos.

O Partido Verde Alemão tem pressa – e tem razão. Quer que os motores a combustão sejam eliminados até 2030. Carros a gasolina e a diesel devem ser adaptados ou vendidos. Principalmente para países que não levam a sério o cataclismo que se avizinha e que já está causando tempestades de areia – típicas de deserto – em cidades paulistas. Como se fossem fenômenos naturais. São naturais, sim, no Saara. Se a cobertura vegetal fora preservada, isso não acontecia. É a praga da monocultura, a exaustão da terra depois de ter servido para os canaviais.

A geração “Greta” é movida pela noção do real e concreto perigo. Por isso a pressa. Não há mais tempo para tergiversar. E tergiversar é o talento de que quase todos os chefes de Estado têm se valido para deixa de cumprir com suas obrigações.

É manifesta a podridão da política partidária. O interesse egoístico pela eleição e pela peste da reeleição, faz com que os políticos profissionais deixem o interesse das pessoas completamente abandonado. O que interessa é preservar seus postos, suas vantagens, seus privilégios, garantir a perpetuidade de sua presença na gestão da coisa pública.

Isso pode explicar a falência da educação pública brasileira, entregue a pessoas que continuam a acreditar na falácia da transmissão de conhecimento por aulas expositivas, quando as informações estão disponíveis na internet e acessíveis a um toque por todos os millenials, os nativos digitais que se evadem da chatice da sala de aula.

É a educação na Escandinávia que faz surgir Gretas. Será que não existem jovens brasileiros que se condoam do presente e do futuro de sua Pátria, hoje mais uma “Pária” do que “Pátria”?

Se a educação de qualidade se preocupasse com as habilidades socioemocionais, treinasse a infância e a juventude a pensar, a ter consciência crítica, muitas Gretas surgiriam para mostrar que “o Rei está nu” e que a velharia arcaica e arcaizante não quer enxergar. Ou teria de pagar um demasiado custo em suas mordomias para dizer que está enxergando.

Verdade que há “nichos de excelência” na educação privada. Mas a maioria de seus alunos pertence a uma elite que pode se refugiar em Miami ou em Portugal se as coisas, aqui, descerem ao nível de convulsão social que não é improvável. Até porque, o fanatismo está armado e incentivado a armar-se. Quem segurará a turba faminta quando faltar, não só o feijão que alimenta, mas a água que preserva a vida?

Não dispomos da lucidez alemã que mantém o “Friday for Future”, as sextas-feiras que insistem na tentativa de comover os responsáveis por adoção de uma postura consequente com os riscos a que a humanidade está sujeita se não se converter. A Suprema Corte Alemã – quem conhece os Juízes que a integram? – ordenou ao governo que adotasse metas mais duras e deixasse mais transparente como elas serão obtidas. Nosso STF, ao contrário, considerou compatível com uma Constituição que tem um artigo 225, a lei que revogou o Código Florestal e que rompeu uma tradição que vem de José Bonifácio e que tinha lei saudável desde 1934.

Inveja da Alemanha que tem uma ativista, Luísa Neubauer, responsável pelo “Friday for Future Germany”, incansável a conclamar a população a elevar a pressão. Seu recado é claro: “Os partidos políticos não levaram a catástrofe climática a sério o suficiente, e os jovens não aceitam mais desculpas sobre o mundo que vão herdar”.

E aqui? Onde estão nossas Gretas? Onde está a nossa “Sexta pelo Futuro?”. A continuar o desmatamento de todos os biomas, haverá futuro?

Publicado no Blog do Fausto Macedo/Opinião/Estadão
Em 07.10.2021




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