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A RIQUEZA DE CARLOS
Acadêmico: Gabriel Chalita
"O futuro exige empreendimentos desafiadores."

Era uma terça-feira ou talvez uma quarta. Bem, o dia não importa. O que importa é o sentimento de Carlos.
Pois bem, ele amanheceu e olhou ao redor. E viu as coisas ocupando os seus espaços. A mulher já havia saído; seu perfume, não.

Enquanto inspirava o ar apaixonante, Carlos sorria. E agradecia por estar ali. No travesseiro ao lado, resquício de alguma maquiagem. E o cheiro bom da esposa. Carlos é um homem apaixonado. E fala da sua mulher com profunda admiração, o que é essencial para que um relacionamento rasgue o tempo.
Ao levantar, percebe uma fresta boa de sol iluminando a foto do filho. Tem eles um filho. Pequeno, ainda. Apressa-se para ir ao quarto do menino. Ele ainda dorme. Deita-se Carlos ao lado do filho. E o abraça com tanta força que força o menino a acordar. O filho não se importa. Diz um lindo "papai" que faz com que Carlos suspire de felicidade. Brincam eles um pouco. Cócegas, risos, guerra de travesseiros. E, depois, os afazeres necessários. O menino precisa ir para a escola, e Carlos para o trabalho.

Antes, tomam café juntos. O filho conta alguma coisa da professora. O pai saboreia um pão com manteiga e geleia. Doce é sua vida.
Quando pensa que perfeição não existe, espanta o pensamento. Os dias têm sido substituídos por outros dias perfeitos. Numa sucessão de acontecimentos comuns, deliciosamente comuns.

Carlos tem amigos que reclamam dos relacionamentos. Espanta-se com alguns que dizem que o pior horário do dia é o da volta para casa. Faliram os afetos, adormeceu o respeito, esfriou o enlace. E permanecem semimortos desejando que o fim aconteça sem sobressaltos. Carlos não acha certo dar conselhos. O melhor é ouvir apenas. Vez ou outra, jogar alguma luz que ajude a enxergar. E que puxe alguma coragem para reinventar. Pensa consigo mesmo que jamais viveria uma história sem história. Se um dia esfriasse, seria sincero. Não, não haverá de esfriar. Ralha-se consigo mesmo por dar margem a especulações desnecessárias.

Ama a sua mulher e o seu filho. Ficar com eles é um deleite. Gosta de ouvir a voz de mulher. Vez ou outra, pega-se distraído, inebriado pelos sons que o agasalham. E ela ri. Ri de seus ditos amorosos. Carlos não economiza em palavras e gestos de amor. Economizar para quê?

Trabalha ele com outros tantos que têm cada qual a sua história.

Dias desses, um dos sócios propôs um novo projeto. Inchou o peito para dizer sobre a ousadia da ideia e os resultados certos. Ficariam ricos, mais ricos. Carlos acenou concordando. O futuro exige empreendimentos desafiadores. E ganhar dinheiro é bom. Principalmente, quando se faz o que se gosta e quando se sente útil no que se faz. Mas sobre riqueza, sobre riqueza real, ele entende.

Necessidades? Poucas. O essencial, pensa ele, "encontrarei em casa hoje à noite". O sócio olha para o olhar distante de Carlos. Fica feliz. Imagina ele que imaginando está Carlos com o projeto que farão. O cheiro da mulher e o sorriso do filho antecipam o prazer que não há de tardar.

Publicado no dia 08 de abril, jornal O Dia (RJ)




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