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ONDE ESTÁ DEUS?
Acadêmico: Gabriel Chalita
" Olho aquela criança e imagino as que não têm um pai que lhe explique a bondade, mas - ao contrário - há tantos que, com rudeza de ações, roubam a sua sensibilidade. "

Era uma criança, apenas. Disse-me, com autoridade, que fará 4 anos. Brevemente.
Estávamos em uma igreja. Missa dominical. Ela, no meu colo.
Foi quando ela soltou: "Onde está Deus?"

Eu a abracei forte. Carinhosamente.
Antes da resposta, ela prosseguiu: "Deus está ali. Os homens malvados fizeram isso com ele". Ela me mostrou uma cruz. E Cristo pregado na cruz.
Eu quis saber quem havia dito isso a ela. Ela disse que o pai explicou e que foi além. Quando os homens são maus, eles continuam pregando Deus na cruz. E prosseguiu me dizendo que agora eu já sabia, já que ela havia me explicado onde estava Deus.
Eu apenas sorri e a abracei. E disse baixinho: "Se, quando os homens são maus, eles continuam pregando o Filho de Deus na cruz, quando eles abraçam - assim como nós -, eles tiram o Filho Dele da cruz".
"Então vamos ficar sempre abraçados", ela disse, sem demora.
E emendou: "O que mais faz com que Ele fique feliz"?
"O que você acha, já que você que me explicou onde Ele está?"
"Quando a gente ama, ué", falou a criança como se fosse simples compreender.
A ausência de amor é a responsável por irmãos nossos que continuam sendo crucificados.
A ausência de amor gera a guerra, gera o preconceito, gera a segregação, gera a miséria.
Miseráveis somos nós por não compreendermos a simplicidade da mensagem do Filho de Deus. O amor. O amor incondicional. O amor sem exigências. O amor edificante.

Uma criança se comove ao ver Cristo pregado na cruz. Mesmo sendo uma imagem. A insensibilidade humana faz com que não nos comovamos ao ver, nos nossos tempos, os calvários se multiplicando.
Descarto o outro como se fosse uma coisa. Um incômodo. Vejo e não vejo o que sofre. Ouço e não ouço o que grita suplicando ajuda. Falo de mim e ouço pouco as vozes que me clamam compaixão.
Olho aquela criança e imagino as crianças órfãs, vítimas de matanças cruéis. As crianças que vivem em região de conflito e que não têm o sono embalado com cantigas de paz. As crianças que ainda não tiveram o privilégio de viver a paz.
Olho aquela criança e imagino as que não têm um pai que lhe explique a bondade, mas - ao contrário - há tantos que, com rudeza de ações, roubam a sua sensibilidade. Os horrores das crianças violentadas sexualmente. Crianças que aprendem a odiar. Desde sempre. O que lhes restará no futuro?
Os homens que mataram o Filho de Deus continuam matando. Ele não desce da cruz para ser um sinal de até onde podemos chegar quando o amor está ausente.
A missa prosseguiu. No momento da consagração, ajoelhei-me.
Ela quis saber o porquê. Eu disse que Deus estava naquele pão. Ela confirmou com a cabeça como se tivesse entendido. Eu já imaginava ter que buscar alguma explicação, mas foi ela quem me explicou: "É para nos alimentar de amor".
O Filho de Deus se faz pão para nos alimentar de amor. E amando é possível que voltemos a ter a limpeza da criança.
Aqueles olhinhos azuis ainda estão em mim com suas teológicas verdades. Quando nos despedimos ela teve tempo de dizer: "Agora que você se alimentou, tudo vai ficar mais fácil, né?"
Onde está Deus? Deus está naquela criança que me faz continuar acreditando...



Por: Gabriel Chalita (fonte: Diário de SP) | Data: 22/01/2017.



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