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FRATURA DO MATERIAL
Acadêmico: José Renato Nalini
"Quem é que não percebeu uma desconfiança generalizada nas instituições políticas? Não é apenas a corrupção endêmica. É um cansaço evidente, uma “fratura do material” político-partidária."

Aquilo que está acontecendo no mundo e o Brasil nele incluído é objeto de reflexão de pensadores que merecem atenção. O estudioso Philippe Schmitter, professor emérito do Departamento de Ciência Política e Social do Instituto Universitário Europeu e autor da obra “Transições de Regimes Autoritários Conclusões Preliminares sobre Democracias Incertas”, esteve no Brasil na semana pós-Trump.

Sua leitura é a mesma de outros pensadores que analisam a situação e pode trazer luz sobre fenômenos que outros estranham, sofrem as consequências e não conseguem explicar. É que estamos numa fase em que os novos conceitos “torpedeiam os antigos e, nesse processo, as pessoas perdem a noção de pertencimento a um grupo estabelecido”. As pessoas se sentem isoladas e manipuladas. É uma combinação de isolamento com ressentimento.

Quem é que não percebeu uma desconfiança generalizada nas instituições políticas? Não é apenas a corrupção endêmica. É um cansaço evidente, uma “fratura do material” político-partidária. O remédio era a comunicação direta com as categorias profissionais, com as associações de bairros, com a chamada “sociedade civil”. Mas ela hoje, segundo Schmitter, “está em declínio”. Tanto que as manifestações coletivas são o produto da sensação de anomia. São difusas e fluidas. Não têm organização, o que inviabiliza diálogo ou negociação. Não deixam traço, a não ser as depredações, destruição de patrimônio público e privado e sensação de desordem.

Os partidos políticos, para Philippe Schmitter, não conseguirão reverter o quadro: “acho que eles estão mortos. São um instrumento de representação ineficaz. Há uma pulverização de candidatos em mais partidos ou então os políticos fingem que não são de partido nenhum”.
O remédio seria enfatizar a participação dos cidadãos. Estes precisam se articular e lembrar que a promessa do constituinte foi a Democracia Participativa. E também fortalecer as instituições guardiãs. Família, escola e igreja, principalmente, são chamadas a um protagonismo salvífico. Sem isso, o risco de um populismo de consequências nefastas não está longe do horizonte no Brasil e no restante do mundo.



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