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QUANTOS ANOS TENHO?
Acadêmico: José Renato Nalini
"Tem razão o admirável Bobbio: “O debruçar-se sobre o passado nasce da consciência de que chegamos ao fim da viagem”. O que nos aguardará depois?"

Alguém indagou a uma celebridade já idosa quantos anos tinha. A resposta: “8 ou 10”. “Como? ”, retrucou o inquisidor (pois há quem considere indelicado perguntar a idade a uma pessoa provecta…). E o complemento: “Falo nos anos que ainda me restam! Serão oito ou dez… Não mais! ”.

Não é muita gente que aceita bem o fato de atingir a longevidade. Um filósofo que meditou sobre a velhice foi Norberto Bobbio (1909-2004). Amanhã é data em que se celebram doze anos de sua partida. Ele chegou a publicar o livro “De senectute e outros escritos autobiográficos” em 1997. Mas na sua autobiografia, “Diário de um século”, o último capítulo é destinado exatamente à Despedida.

Começa com “Estou velho…A cada dia que passa, sinto-me mais afastado, distante, desterrado, sem raízes. Tornei-me um velho no sentido pleno da palavra. Um velho que ama refletir sobre o passado, tentando fazer um balanço antes do fim, que não pode estar senão próximo, em vez de continuar imerso na batalha política, como fizera nos últimos trinta anos”.

Velho é quem tem passado. “E o passado revive na memória. O grande patrimônio do velho está no mundo maravilhoso da memória, fonte inesgotável de reflexões sobre nós mesmos, sobre o universo em que vivemos, sobre as pessoas e os acontecimentos que, ao longo do caminho, atraíram nossa atenção.

Maravilhoso, este mundo, pela quantidade e variedade inimaginável e incalculável de coisas que traz dentro de si: imagens de vultos há muito tempo desaparecidos, lugares visitados em anos distantes e jamais revistos, personagens de romances lidos quando éramos adolescentes, fragmentos de poesias que aprendemos de cor na escola e nunca mais esquecemos; e quantas cenas de filmes e de peças de teatro, e quantos vultos de atores e atrizes esquecidos sabe-se lá há quanto tempo, mas sempre prontos a reaparecer no momento em que vem o desejo de revê-los, e quando os revemos experimentamos a mesma emoção da primeira vez; e quantas melodias de canções, árias de ópera, trechos de sonatas e de concertos voltamos a cantarolar sozinhos”.

Tem razão o admirável Bobbio: “O debruçar-se sobre o passado nasce da consciência de que chegamos ao fim da viagem”. O que nos aguardará depois?



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