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Acadêmico: Massaud Moisés "Receber-vos é, portanto, satisfação para todos, na certeza de que a Academia se enriquece sobremaneira ao poder contar doravante com vossa sabedoria, experiência e boa vontade"
Senhor Presidente Senhor Massaud Moisés A chegada de Vossa Excelência a esta Casa é das mais auspiciosas. Sois homem de letras avant la lettre e representais uma especialidade desde sempre querida desta Academia, a da literatura portuguesa, que tanto e tão beneficamente influenciou a literatura brasileira, na qual igualmente ressaltais como reconhecido mestre. Receber-vos é, portanto, satisfação para todos, na certeza de que a Academia se enriquece sobremaneira ao poder contar doravante com vossa sabedoria, experiência e boa vontade. Privilegiado sou eu, porquanto fui incumbido, certamente em decorrência de uma amizade de cinco decênios, nunca turbada nem desmentida, de saudar-vos nesta solene ocasião em nome de todos os Acadêmicos que vos abraçam jubilosos através das minhas pobres palavras, que teriam de conseguir ultrapassar as barreiras que a rotina estabelece, para poderem abarcar a riqueza do percurso do professor, do ensaísta, do crítico literário e do administrador universitário, jamais desviado da linha incorruptível de uma tendência inata, que hoje vos traz ao nosso convívio. Acabamos de ouvir-vos a descrever vida e obra daqueles que vos foram anteriores na Cadeira que passais a ocupar e cuja imortalidade está por vós assegurada; vejamos agora, em pinceladas superficiais, é verdade, alguns momentos essenciais de vossa riquíssima existência intelectual. Logo depois de concluídos os estudos universitários, Massaud Moisés defendeu com brilho sua tese de doutoramento, e antes de completar os 30 anos veio a tornar-se Livre-Docente por concurso de títulos e provas, tendo tido primeiro como orientador e, depois, como examinador principal o nosso querido e pranteado confrade, ex-presidente e amigo Professor Dr. Antônio Augusto Soares Amora, de quem se tornou sucessor em 1973, ocasião da aposentadoria deste na Universidade de São Paulo. Muito antes (entre 1960 e 1962), o novo Acadêmico fora diretor das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras de Marília e Assis e, durante vinte anos, orientou, remodelou e dirigiu o Centro de Estudos Portugueses da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, de cuja pujança, expressa em aulas, conferências e publicações, posso dar testemunho pessoal. Repetidas vezes deslocando-se para Portugal e lá participando das mais destacadas atividades literárias e acadêmicas, foi bolsista do Instituto de Alta Cultura e da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo recebido os importantes prêmios literários "Pêro Vaz de Caminha" (1972) e "Camilo Castelo Branco" (1990). O Professor Massaud Moisés exerceu e exerce vasta atividade como conferencista; foi ouvido em todos os centros universitários brasileiros de nomeada, bem como nas Universidades de Lisboa, Coimbra, do Porto e outras mais, além de ter dado cursos em universidades norte-americanas do porte das Universidades Estaduais da Geórgia, do Texas, de Illinois, do Novo México, da Vanderbilt University e em várias unidades da Universidade da Califórnia, tratando ora da literatura portuguesa e ora da brasileira, e desta, principalmente da poesia de Antonio Nobre, do romance de Machado de Assis, de Jorge Amado, de Guimarães Rosa, da poesia de Carlos Drummond de Andrade e de temas ligados ao modernismo brasileiro. Seja-me permitido incluir uma lembrança pessoal: Numa viagem à Europa, em 1966 ou 1967, visitei na Holanda excelente colega da Faculdade de Filosofia de Assis, que também havia dado cursos na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o Professor Doutor van den Besselaar, que então lecionava na Universidade de Nijmegen (Ninvega). Nessa ocasião referiu, como a demonstrar o renascimento do interesse em torno das literaturas brasileira e portuguesa, um livro recém-publicado em português e espanhol - uma raridade na Holanda da época - pela Universidade Nacional de Utrecht, cujo capítulo mais instigante era da pena do nosso novo Acadêmico, acerca d "O sentimento hipercrítico na Literatura Portuguesa". Já lá vão quase trinta e cinco anos e já então se reconhecia em toda parte o valor dos trabalhos de Massaud Moisés! De minha parte, confesso ter sempre alimentado inveja da sua proverbial energia produtiva, externada não apenas no elevadíssimo número das publicações, mas que principalmente ressalta pelo mérito intrínseco da obra, pela qualidade superior de sua produção, conforme atestam centenas de resenhas críticas de seus trabalhos, escritas pelos mais competentes analistas. Seus livros chegam a alcançar numerosíssimas reedições, o que seria normal na obra de cientista de sucesso ou profissional liberal de categoria superior. Espanta, porém, se consideramos a especialidade deste Autor, cuja competência vence mesmo barreiras aparentemente insuperáveis. Assim, A Criação Literária (em três volumes), publicada inicialmente em 1967, está na 15ª edição, A Literatura Portuguesa através dos Textos, de 1968, já alcançou 26 edições, a Análise Literária, livro de consulta obrigatória no estudo da matéria, de 1969, está na décima edição. A Literatura Brasileira através dos Textos, publicada em 1971, está na 21ª edição e até mesmo a extensa História da Literatura Brasileira, em cinco volumes, publicados inicialmente entre 1983 e 1989, encontra-se com a terceira edição quase esgotada. Citei apenas algumas poucas obras de sua bibliografia imensa, na qual aponta ter colaborado ademais em dez enciclopédias, dicionários e histórias da literatura, organizando e dirigindo quatro deles, além de escrever capítulos críticos em catorze volumes e de ter elaborado artigos numa infinidade de revistas. Terminando esse elenco, a ilustrar o fato tão espantoso, quanto auspicioso, de que também um professor e ensaísta logra excelente receptividade, desde que seja autor de vastos conhecimentos e elevada qualidade, permito lembrar ainda que cabe ao novo Acadêmico a coordenação literária da respeitadíssima revista Colóquio/Letras, função que, por incumbência da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa, exerce desde 1992. Tendo dito tudo isso, percebo que esqueci outra das suas intensas atividades, a jornalística, ou melhor dizendo, a de colaborador em suplementos culturais ou literários de jornais, igualmente longa e copiosa. Limitando-me, para apenas dar um exemplo, aos escritos acerca de Machado de Assis, publicados na imprensa, apanhei a esmo alguns guardados da minha biblioteca e, sem considerar aqui a produção antiga, tal como seria o caso de "Ficção e Utopia", publicado no melhor suplemento da época, em "Cultura", suplemento de O Estado de S. Paulo, de 17 de julho de 1989, dirigido por nosso confrade Nilo Scalzo, reli "Machado de Assis, cada vez melhor com o passar do tempo", artigo de duas páginas, publicado no "Caderno de Sábado", suplemento do Jornal da Tarde, de 20 de setembro de 1998, "A ironia e a sutileza machadianas, em uma alentada antologia" (refere-se aos "Contos", organizados por John Gledson), no mesmo jornal, de 18 de janeiro de 1999 e, mais recentemente, "O Alienista de Machado, uma paródia de D. Quixote?", artigo, que numa extensão de três páginas de jornal, correspondentes a aproximadamente trinta páginas de livro, tornou preciosa a leitura do "Caderno de Sábado" do dia 8 de janeiro do corrente ano. Mas, como explicar toda esta ingente produção? Como uma das causas apontaria a sua volúpia de leitura, que o tornou, antes de ser o teórico da literatura, um leitor ideal, leitor crítico, para quem ler é intensa experiência vital, e o qual, quando passa da leitura desprevenida, ingênua, àquela leitura crítica, destinada a ser transformada na sua obra, não deixa esmorecer seu entusiasmo, surgindo através da sua palavra a leitura que nos propõe, animada pela alegria de incessante descoberta. É a volúpia referida, da qual participam, solidárias, inteligência, sensibilidade e imaginação. Acadêmico Massaud Moisés: relatei assim um pouco de vossas cogitações e vossa vida profissional, mas nada disse aqui do marido exemplar, pai extremoso e, ultimamente, avô totalmente e justamente deslumbrado pelo netinho Artur. Quem vos conhece como eu pode afirmar, o que será corroborado por sua querida e dedicada esposa, Dª. Antonieta, que neste momento saúdo em nome de toda a Academia, que as vossas "atividades extracurriculares" recomendam-vos tanto quanto as demais, e vossos novos confrades, entre os quais me incluo, reconhecendo tudo isso e ansiosos de participarmos de vossas cogitações e realizações, tendo presente aqui o amigo por quem há muito esperamos, estamos felizes em declarar-vos a partir deste instante um de nós, dando-vos, por conseguinte as melhores e mais entusiásticas boas-vindas! voltar |
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