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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
Acadêmico: Juca de Oliveira
No discurso em recepção ao Acadêmico Juca de Oliveira, o Acadêmico Antonio Penteado Mendonça cria um peça teatral em homenagem à trajetória do novo acadêmico.

RECEPÇÃO DE JUCA DE OLIVEIRA NA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, NO DIA 28 DE NOVEMBRO DE 2013

Minhas senhoras e meus senhores, amigos do Juca de Oliveira!

Teatro é magia, é encantamento, é a ilusão confirmando a vida, é a imaginação redimensionando e dando outra realidade para a realidade do palco.
A montagem de uma peça de teatro exige a interação de várias artes e habilidades: literatura, pintura, escultura, cenário, figurino, música, dança, canto interagem para compor o espetáculo. Mas, para que o espetáculo flua, é indispensável a empatia do público, a identificação com o tema, com os personagens, com os atores. Por isso tudo, o sucesso de uma peça depende de uma característica eminentemente humana: a imaginação.
Imaginem a sala de visita de um aristocrático sobrado da Avenida Higienópolis que existe no céu. Sentados em duas confortáveis poltronas, dois homens, tão aristocráticos quanto a sala, belos e elegantemente vestidos, olham o que acontece aqui em baixo.
Alfredo Mesquita, com seus olhos transparentemente azuis e suas maneiras europeias, e Paulo Mendonça, grande e sólido, com os olhos escuros sorrindo, conversam sobre o que estão assistindo:

Fala Paulo Mendonça: - Alfredo, você deve estar realizado. Hoje está acontecendo o último acerto de contas. Depois de receber a professora Renata Pallottini, a Academia Paulista de Letras nesta noite recebe o aluno Juca de Oliveira.
Tanto faz se nós não estamos no teatro para assistir a chegada de Juca de Oliveira como Titular da Cadeira nº 8 da Academia Paulista de Letras.
Sentados aqui em cima, na sala de visitas da sua casa no céu, é como se estivéssemos nos lugares de honra, dividindo com o Juca esta noite tão especial.

Fala Alfredo Mesquita: - Eu tive que esperar muito tempo para ver, primeiro a Renata e depois o Juca, entrarem na Academia Paulista de Letras.
Você sabe, Paulo, a história da Escola de Arte Dramática. Desde o início, e até mesmo antes dele, quando encenávamos peças com atores amadores, você sempre esteve ao meu lado. E depois que a Escola foi incorporada pela Universidade de São Paulo, você continuou dando aulas até se aposentar. Não é só o meu preço que está pago. É o nosso!

Fala Paulo Mendonça: - A Escola de Arte Dramática é pedra de toque na história do teatro brasileiro. Sem você, sem a sua entrega absoluta, a sua luta, inclusive com o comprometimento da sua fortuna pessoal, o teatro brasileiro não seria o que é. Você sabe disto.

Fala Alfredo Mesquita: - Você me faz lembrar da sopa que todos os fins de tarde era distribuída para os alunos, não porque eu fosse bom, mas porque, com fome, é muito difícil aprender. Quantos e quantos deles chegaram na Escola sem dinheiro e hoje são grandes nomes da dramaturgia brasileira, marcando época no teatro, no cinema e na televisão.
Foi um longo caminho, no qual nós dois e todos os outros professores da Escola demos o melhor de nós para criar uma escola de teatro com parâmetros rígidos e metas a serem cumpridas na formação de bons profissionais.

Fala Paulo Mendonça: - Seria indelicado citar alguns e deixar outros de lado. Por isso, vamos nos concentrar na cerimônia de posse do Juca de Oliveira.

Fala Alfredo Mesquita: - Imagine o menino pobre nascido em São Roque, interior de São Paulo, em março de 1935. Será que na sua infância, correndo pelas ruas e pelas estradas rurais, ele, em algum momento, imaginou que teria a sua carreira no teatro recompensada com o ingresso na Academia Paulista de Letras?
Vocês ficaram muito amigos. Quem sabe você possa falar melhor...

Fala Paulo Mendonça: - A vida do Juca de Oliveira é a prova de que a vontade, o esforço, a dedicação e o estudo são as melhores ferramentas para o sucesso. Filho de uma costureira e de um chofer de taxi, Juca de Oliveira começou no batente muito cedo. Com doze anos começou a trabalhar e nunca mais parou.
Foi sapateiro, auxiliar de farmácia, marceneiro, padeiro, chofer de caminhão, funcionário público, redator de publicidade, bancário.
Aluno da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e da Escola de Arte Dramática, trancou a matrícula na USP para se dedicar ao teatro e cursar a Escola a partir de 1959.

Fala Alfredo Mesquita: - Nessa época você convidou o Juca para escrever na Revista Anhembi.

Fala Paulo Mendonça: - É verdade. Eu o levei para a Anhembi e o Elias Chaves Neto o convidou para escrever para a Revista Brasiliense. Eram artigos e críticas sobre teatro. Ali o Juca já mostrava talento, inteligência e competência.

Fala Alfredo Mesquita: - Pelo que eu me lembro, a época do Juca na Escola foi uma época de realização e felicidade para ele.

Fala Paulo Mendonça: - Em 1961 ele iniciou sua carreira profissional. Foi no Teatro Brasileiro de Comédia com a peça "A semente", de Gianfrancesco Guarnieri e direção de Flávio Rangel.

Fala Alfredo Mesquita: - Foi o começo de uma longa careira, com mais de cinquenta peças...

Fala Paulo Mendonça: - Além d´"A Semente" vale citar "A Escada", de Jorge de Andrade, "A Morte do Caixeiro Viajante", de Arthur Miller, "Eles não usam Black-Tie", de Gianfrancesco Guarnieri, "A Mandrágora", de Maquiavel, "O Noviço", de Martins Pena, "Julio Cesar", de Shakespeare, "Corpo a Corpo", de Oduvaldo Viana Filho, "Um Edifício chamado 200", de Paulo Pontes, "Ricardo III", de Shakespeare, "Dois Perdidos Numa Noite Suja", de Plínio Marcos, "De Braços Abertos", de Maria Adelaide Amaral.

Fala Alfredo Mesquita: - E na televisão: "A Outra", de Wálter George Durst, "Estrelas no Chão", de Lauro Cesar Muniz, "Paixão Proibida", de Janete Clair, "Nino, o Italianinho", de Geraldo Vietri, ...

Fala Paulo Mendonça: - "Nino, o italianinho" rendeu muita conversa entre eu, a Maiá e o Nico...

Fala Alfredo Mesquita: - Paulo, não interrompa! ... "O Semideus", de Janete Clair, "Saramandaia", de Janete Clair, "Pecado Rasgado", de Sílvio de Abreu, "Fera Ferida" de Aguinaldo Silva, "As Pupilas do Senhor Reitor", de Júlio Diniz, "Os Ossos do Barão", de Jorge de Adrade, "O Clone", de Glória Perez, "Mad Maria", de Benedito Ruy Barbosa, "Queridos amigos", de Maria Adelaide Amaral, ...

Fala Paulo Mendonça: - Alfredo, a lista seria muito grande. Me deixe falar de cinema: "O caso dos Irmãos Naves", "À Flor da Pele", "Onde anda você", "O signo da Cidade".

Fala Alfredo Mesquita: - Pois é, o inesperado para mim foi o ator consagrado resolver virar autor. E que autor!

Fala Paulo Mendonça: - Me lembro como se fosse hoje, o Juca chegando lá em casa, com sua primeira peça embaixo do braço, me pedindo pra ler e comentar.
Todas as peças dele, além de serem muito boas, foram sucesso de público e de crítica. "Baixa Sociedade", "Motel Paradiso", "Meno Male", "As Atrizes", "Qualquer Gato Vira-lata tem uma Vida Sexual mais Sadia do que a Nossa", "A Babá", "Caixa 2",...

Fala Alfredo Mesquita: - "Caixa 2" ficou em cartaz durante cinco anos!

Fala Paulo Mendonça: - Mas há mais: quem não se lembra d"A Flor do meu Bem Querer", "Às Favas com os Escrúpulos" e "Happy Hour"?

Fala Alfredo Mesquita: - Uma carreira dessas só podia dar em prêmios. Os prêmios mais importantes, do teatro, do cinema e da televisão.

Fala Paulo Mendonça: - É verdade. Entre outros, em 1962, "Saci", por "A Morte do Caixeiro Viajante"; em 1967, "Governador do Estado" e "Molière", por "Dois na Gangorra"; em 1972, "Governador do Estado" e "Molière", por "Um Edifício chamado 200"; em 1987, "Governador do Estado", como melhor autor por "Meno Male".

Fala Alfredo Mesquita: - Chega, Paulo, isto está ficando muito comprido. Para completar, no cinema e na televisão, "Festival de Gramado", Festival de Goiânia", "Roquete Pinto", "Troféu Imprensa", "Governador do Estado", "Troféu Helena Silveira" e "Troféu Sergio Cardoso". É carreira pra ninguém colocar defeito!

Fala Paulo Mendonça: - É, não há dúvida, Alfredo, os nossos preços e o preço da Escola estão pagos. Mas, mais importante do que isto, nosso amigo Juca de Oliveira tem currículo pra mais de metro!

Fala Alfredo Mesquita: - É pena, mas temos que parar de assistir. A Benedita está nos chamando para jantar.

Fecham-se as cortinas do palco do céu.
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Juca de Oliveira, seja bem vindo à Academia Paulista de Letras!

Com certeza seu antecessor, João de Scantimburgo deve estar tão contente quanto tio Alfredo, tio Paulo e todos nós, por você ocupar a Cadeira nº 8, que tem como patrona Bárbara Heliodora.



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