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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO PAULO JOSÉ DA COSTA JR
Acadêmico: Paulo Nathanael Pereira de Souza
"Seria por demais fastidioso enumerar os títulos do novo acadêmico, que eu tenho imensa honra em saudar. Seja bem-vindo a esta Casa, que o recebe, fraternalmente, de braços abertos, sentindo-se enriquecida e orgulhosa com sua presença."

Quero, antes de mais nada, expressar minha profunda alegria por ver, merecidamente, entre os pares desta Casa, a figura ilustre de Paulo Nathanael Pereira de Souza.

Sinto-me, igualmente, honrado por ter sido escolhido para, neste momento tão solene para todos nós, saudar a figura ilustre e valorosa deste novo confrade.

Paulo Nathanael Pereira de Souza nasceu em Campinas, no distrito de José Paulino, em 25 de março de 1929.

Desde a mais tenra idade, entre dois para três anos, revelava precoces dotes de inteligência. Incumbido por sua mãe, Dona Ruth, de adquirir, no empório da vila, açúcar e arroz que faltavam na despensa, ao retornar à casa, sob o sol escaldante, carregando aqueles poucos quilos que para o garoto pareciam uma arroba, suando por todos os poros, imaginando que não chegasse à casa, veio-lhe à mente a ideia de jogar fora metade dos produtos. Aí, com o peso bastante aliviado, entregou à mãe a cesta que continha os produtos reduzidos pela metade.

Ela quis saber o que fora feito do restante dos produtos. Quando o garotinho disse à mãe a verdade, recebeu uma saraivada de golpes de vara de marmelo, sem querer saber que aquela artimanha de criança era reveladora da inteligência precoce do filho.

Fez o ginásio em São Carlos, o clássico e o curso normal, de formação de professores primários, o antigo curso normal. Em Marília, cursou Ciências Econômicas, prestou concurso público para efetivar-se como professor de história perante uma banca da USP, integrada por Astrogildo Rodrigues de Melo e Manuel Nunes Dias, sendo aprovado com distinção. Foi lecionar no extremo oeste de São Paulo, no Colégio Estadual de Tupã, onde conheceu e se encantou com uma professora de francês, rainha da beleza em Araraquara, Irene Galvão de Souza. Com ela se casou, tendo tido dois filhos, dois Paulos: Paulo Eduardo e Paulo Henrique. Viveram juntos durante 54 anos, numa união harmoniosa e feliz, até que a morte abraçou a esposa aos dezessete dias do mês de julho de 2007.

A educação sempre constituiu a razão de sua existência. Viajou o mundo em busca de respostas para os insucessos de nossas políticas sociais e educacionais, sem nunca perder o ânimo ou a esperança de que o homem pode transformar-se pela educação.

Principiou muito jovem a lecionar. Aos dezessete anos de idade, ministrava as primeiras aulas de História Econômica do Brasil às turmas de jovens e adultos que cursavam a Escola Técnica de Comércio de São Carlos, cidade onde passou toda a sua juventude.

Durante sua vida, teve oportunidade de conhecer pessoas ilustres. Em 1952, quando contava vinte e dois anos de idade, boêmio e sedutor das meninas namoradeiras, foi candidato a vereador pelo PTB à Câmara Municipal de São Carlos. Foi nessa época que chegou à cidade, para fazer um comício na Praça Coronel Sales, a comitiva de Getúlio Vargas, que vinha de Ribeirão Preto. Foi incumbido de fazer sala ao ilustre visitante, que tinha a seu lado o famoso Gregório, com uma mouser e um punhal de quase metro na cintura. Ficou hipnotizado por aquele político, que julgou fascinante no seu modo de ser e no diálogo com os amigos. Em seu discurso, Getúlio leu a lista dos candidatos a vereador pelo seu partido, o PTB, o que o ajudou a eleger-se.

Outra extraordinária figura que conheceu, quando secretário de Educação e Cultura, lá pelo ano de 1974, foi Ciccilo Matarazzo, que se dirigiu a seu gabinete acompanhado pelo Armando Sodré, irmão do governador Sodré, solicitando apoio financeiro da Prefeitura para a Bienal de Artes de 1975. Após ter estudado o caso, o convênio de apoio à Fundação foi aprovado e está, até hoje, em pleno vigor.

Na inauguração da Bienal, veio representar o presidente da República o ministro da Educação e Cultura Jarbas Passarinho, que era grande amigo do novel acadêmico. Ao conduzi-lo ao aeroporto, de onde retornaria a Brasília, ao despedir-se, na porta do jatinho presidencial, formulou a Paulo Nathanael o convite para integrar o Conselho Federal (hoje Nacional) de Educação.

Assim, passou a integrar o mais importante colegiado da Educação Brasileira, onde permaneceu por catorze anos seguidos, tendo sido seu presidente pelo voto unânime de seus pares.

Outra figura notável da qual Paulo Nathanael foi grande colaborador e amigo: José Carlos de Figueiredo Ferraz, meu afilhado de casamento. Secretariou-o na pasta da Educação e Cultura, durante toda a sua gestão na Prefeitura de São Paulo. Quando Figueiredo Ferraz abandonou a Prefeitura, Paulo Nathanael o acompanhou, como fiel escudeiro.

Aos dezoito anos de idade, cheio de vigor cívico, Paulo Nathanael, enquanto cursava o curso clássico em São Carlos, foi eleito presidente do comitê local da campanha do "Petróleo é nosso". Escrevia nos jornais, falava nos comícios, convivia com os generais Juarez Távora e Horta Barbosa. A polícia, que não acreditava nesse nacionalismo, imaginando tratar-se de um posicionamento comunista, certa vez prendeu-o no trem, em viagem entre Araraquara e São Carlos.

Só não apanhou no DOPS porque o então secretário da Segurança era Elpídio Reali, seu amigo, que ordenou sua soltura com pedido de desculpas e passagem paga de volta a São Carlos.

Ao relatar o fato ao juiz de direito da comarca, o notável magistrado Helly Lopes Meireles, amigo de cafezinho no Club São Carlos, ele se amofinou e cedeu uma das salas do Fórum, ao lado da sua, para sediar a campanha do "Petróleo é nosso". Comentou então douto juiz: “Quero ver agora a cara do Schmidt, o delegado que mandou prendê-lo”.

Mais um episódio que merece especial destaque é a salvação do Liceu Pasteur. Nos anos setenta, no auge do regime militar, alguns burocratas da Secretaria e do Conselho Estadual de Educação, inspirados, talvez, por um insopitável desejo de agradar aos militares, decidiram, por sua conta e risco, interpretar a Constituição e a LDB, para concluir que curso bilíngue era inconstitucional e deveria ser fechado. Como pela lei vigente cabia ao Estado fiscalizar os cursos de 1º e 2º graus, começaram a providenciar as medidas destinadas a encerrar as atividades do Pasteur.

Alarmados, alguns conselheiros do Liceu (entre eles o professor Pedro Kassab e o Dr. Homem de Montes) procuraram Paulo Nathanael para que, em Brasília, se buscasse um antídoto para essa maluquice. Concordou ele em ajudar e foi ao Itamarati trocar ideias com o diretor do Departamento Cultural, seu amigo embaixador Francisco de Assis Grieco (que por sinal era filho do Agripino). Levava consigo uma mensagem que concebeu para o caso: propunha que todo curso bilíngue que fosse fruto de acordos culturais da União teria sua inspeção feita pelo MEC. Era um ovo de Colombo, que Francisco Grieco adotou na hora e levou à consideração do ministro do exterior. Logo saiu o decreto respectivo e o Liceu Pasteur foi salvo.

Consequência: o embaixador francês, Mr. Rozas, propôs ao presidente Giscard D’Estaing fosse Paulo Nathanael condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Francês, no grau de oficial. Mais tarde, o presidente seguinte, François Mitterrand, retomou o processo, condecorando-o também com a "Légion D’Honeur", que poucos possuem.

O curriculum vitae de Paulo Nathanael é extenso, podendo ser destacadas as funções de presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional e do Conselho de Administração do CIEE/SP; reitor das Universidades Corporativas UNISCIESPI/UNISESCON; consultor técnico de organizações governamentais e privadas nas áreas de educação e trabalho; membro de numerosos Conselhos e Academias, com destaque para a Cristã de Letras, da qual é presidente; e membro do Conselho Social da FIESP.

De seus títulos profissionais, podem ser mencionados: economista (CRE n° 5882); administrador de empresas (CRA/SP n° 744); diretor concursado de escolas secundárias da rede estadual de ensino de São Paulo; professor universitário de Economia, História, Educação e Cultura Brasileira, doutor em Educação.

Exerceu funções docentes e administrativas inúmeras na área educacional.

Recebeu homenagens e condecorações da Presidência da República do Brasil: Ordem Nacional do Mérito Educativo (Grande Comendador); e Grande Colar do Sesquicentenário da Independência Brasileira. Da Marinha do Brasil: Medalha Almirante Tamandaré; Medalha Amigo da Marinha; Medalha Mérito Naval.

Recebeu a cidadania honorária de vários municípios: São Paulo, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Itapeva, Itapetininga, São Miguel Arcanjo, Santo Anastácio, São Roque, Tupã, Ourinhos e Goiânia.

Realizou diversas viagens de estudo e a convite de governos e organizações internacionais: aos Estados Unidos, Japão, Espanha, França, Jamaica, Colômbia, Venezuela, Panamá, Chile, Paraguai, México, Suíça, Portugal, Canadá, Argentina, Uruguai, Marrocos, Mônaco, Luxemburgo e Liechtenstein.

Publicou inúmeros livros e escreveu artigos vários para jornais e revistas, sempre na área da educação, na qual Paulo Nathanael é exímio mestre.

Seria por demais fastidioso enumerar os títulos do novo acadêmico, que eu tenho imensa honra em saudar. Seja bem-vindo a esta Casa, que o recebe, fraternalmente, de braços abertos, sentindo-se enriquecida e orgulhosa com sua presença.



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