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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO PAULO BOMFIM
Acadêmico: Myriam Ellis
"A obra de Vossa Excelência é sal da terra, sólido edifício argamassado com óleo de baleia, presença sertanista, cafezal em flor."

Professora Myriam Ellis

Recebe-la na casa de Alfredo Ellis Júnior, neste chão do velho São Paulo, é ritual de fraternidade, gesto de respeito e de calor humano, fogo que volta a iluminar as taipas sacrossantas de nossa gente.

É tradição que se dinamiza, vivência florindo, cultura que tem raízes plantadas nas glórias paulistas, bênção de Anchieta e de Frei Galvão, bandeira que retorna dos sertões do nunca mais, trincheira que não se rende.

Nesta casa, continuação dos solares de outrora, atalaia de nossos maiores, mantemos vivo o facho que recebemos das mãos de seu Pai.

Aqui, as treze listas que ele empunhou em Cunha, transfiguram-se na espiritualidade que banha o culto de nossas reminiscências, na sacralidade de nossos mortos e na fé que depositamos na monção que nos conduz aos arraiais do porvir.

A cadeira que Vossa Excelência ocupa tem como patrono Alexandre de Gusmão, o derradeiro bandeirante.

Gusmão o consolidador da epopéia paulista é o vaticínio da chegada ao nosso sodalício da dama dos fastos de Piratininga.

Erasmo Braga, sábio educador de tantas gerações às quais legou o encanto da "Série Braga", abre o ciclo de tradições da Cadeira nº 13, assinalando mais uma coincidência, reencontro com a História e o Ensino, duas faces do destino da Professora Myriam Ellis. A seguir, História, Filosofia e paulistanismo saúdam a nova Acadêmica do púlpito onde Monsenhor Castro Nery prega a cruzada de 32, guerra santa que teve em Alfredo Ellis Júnior, um de seus mais ilustres paladinos!

Arrobas Martins também irmana-se com Vossa Excelência em seu amor a São Paulo.

Das grandes realizações do Secretário de Estado, aí estão o Museu de Arte Sacra cuja alma foi o nosso Oliveira Ribeiro Neto, e o Museu da Casa Brasileira dirigido pela Professora Myriam Ellis, com dinamismo e vocação

Sucede Vossa Excelência a Nogueira Moutinho, príncipe desterrado num mundo que não o soube compreender.

Quando o convidei para dirigir um dos setores mais importantes do Conselho Estadual de Cultura, sabia que o profundo saber e a dedicação de nosso poeta e ensaísta, abririam fecundos caminhos na área cultural de nosso Estado.

Em Nogueira Moutinho e Vossa Excelência encontro, novamente, marcantes pontos de contato.

Ele que teve em meu primo Carlos Pinto Alves, seu guia espiritual, Carlos que foi um dos maiores amigos de Alfredo Ellis Júnior.

Sobre aquela que chega e aquele que parte, o Segundo Reinado estende o manto da nostalgia.

A bisneta dos Viscondes da Cunha Bueno sucede ao trineto dos Viscondes de Guaratinguetá.

Entre os dois o espectro dos cafezais e a visão de domínios perdidos!

Quando cheguei à Academia, Professora Myriam Ellis, nela encontrei o mais belo exemplo do espírito ecumênico de Piratininga.

A Academia Paulista de Letras era e é, síntese luminosa de nossa grei.

Quarenta cadeiras representam bem o espírito do solo onde estão plantadas. Nelas se assentam intelectuais de todos os quadrantes do país. Aqui se encontram com o gaúcho Freitas Valle, os catarinenses Affonso de Taunay e Monsenhor Manfredo Leite, os paranaenses Eurico Branco Ribeiro e Ernani da Silva Bruno, os mineiros Basílio de Magalhães, Aureliano Leite e Prisciliana Duarte de Almeida que deu à Academia Brasileira de Letras o exemplo da primeira mulher Acadêmica. Aqui estiveram também o paranaense Afranio do Amaral, o maranhense Carlos Alberto Nunes, o sergipano Cleomenes Campos, o carioca Luiz Martins, o baiano Fernando Góes, o cearense Raymundo de Menezes e, até ontem, para alegria de todos nós o alagoano Ricardo Ramos, hoje habitante de nossa saudade.

Todos se confraternizando com paulistas que chegaram com Martim Afonso e paulistas que chegaram há uma geração.

Sob este teto, conviveram e convivem cordialmente, as mais diversas correntes culturais, políticas e religiosas. O Presidente Altino Arantes, prócer perrepista, o integralista Plínio Salgado, o comunista Affonso Schmidt, o georgista Rubens do Amaral, o socialista Sérgio Milliet, o nacionalista Monteiro Lobato, o separatista Alfredo Ellis Júnior, o monarquista Ataliba Nogueira, Franco da Rocha e o pansexualismo, Pereira Barreto, positivista, o democrata Júlio de Mesquita Filho, o protestante Manuel Carlos, o jesuíta Hélio Abranches Viotti, o espírita Eurico Branco Ribeiro, os rebeldes da Semana de Arte Moderna de 22, os revolucionários constitucionalistas de 32, todos fazem parte desta democracia acadêmica.

Ao lado do Presidente da República Washington Luis, e dos Presidentes de Estado Carlos de Campos, Altino Arantes, Pedro de Toledo, do Interventor Macedo Soares e do Governador Lucas Nogueira Garcez, o santo Padre Chico canonizado pela saudade de nosso povo.

Veja os encantos desta precária eternidade, Professora Myriam Ellis!

A obra de Vossa Excelência é sal da terra, sólido edifício argamassado com óleo de baleia, presença sertanista, cafezal em flor.

Seus livros, ensaios, pesquisas e artigos formam ao lado das aulas que ministrou e da imensa obra de seu Pai e seus Avós, painel mameluco saído das mãos de Clovis Graciano.

Era uma vez a "Raça de Gigantes" rompendo meridianos e traçando com seu sangue a geografia de uma Pátria.

Era uma vez São Paulo de Piratininga, vila de sertanistas, cidade de estudantes, metrópole oceano de tantos rumos!

A solenidade de hoje tem para todos significado especial.

Alfredo Ellis Júnior que jamais nos deixou, confirma-se na presença de sua filha.

Os mesmos ideais, o mesmo espírito, a mesma causa, passam de pai para filha, tocha de sonho e erudição que abastece a pira que mantemos acesa no coração da Academia.

Contemplando a nova Acadêmica, relembro com emoção os diálogos interrompidos com seu Pai, tardes e noites de convivência fraterna onde o Mestre transmitiu a seu discípulo a rosa dos ventos do bandeirismo.

Através de seus ensinamentos e de Affonso de Taunay, da heráldica de Menezes Drummond e da genealogia de Carvalho Franco, mergulhando em minhas origens escrevi o "Armorial".

Tudo isso regressa do Paraupava das lembranças, canoa fantasma singrando os sumidouros do sangue, ouro do Coxipó-mirim da evocação, tropa de São Paulo comandada pelo Mestre de Campo Alfredo Ellis Júnior.

Acadêmica Myriam Ellis, Amador Bueno, antepassado de Vossa Excelência, não quiz ser rei dos paulistas.

Contrariando a essa vocação, determinamos à sua neta que reine a partir de hoje, sobre o coração de seus 39 irmãos da Academia Paulista de Letras!





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