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DISCURSO DE RECEPÇÃO PELO ACADÊMICO GERALDO CAMARGO VIDIGAL
Acadêmico: Paulo Nogueira Neto
"Senhor Acadêmico Nogueira Neto: sua personalidade, sua vida e sua obra abriram os portões de nossa Academia Paulista de Letras. Paulo: esta é a sua casa, como foi do saudoso Paulo Nogueira Filho."

Sr. Presidente, Srs. Acadêmicos. Minhas Senhoras e Meus Senhores

Meu querido e velho companheiro Paulo, meu caro e novo confrade Nogueira Neto:

Este dia de agosto de 1991 assiste à posse de um vibrante cientista, escritor, intelectual, na cadeira nº 10, que tem por patrono Cesário Mota Júnior, que pertenceu a Eduardo Guimarães, a Gustavo de Paula Teixeira, a Afonso Schmidt, a Edmundo Vasconcelos, cadeira marcada pela presença de tantos cientistas, de um grande novelista e poeta, de um destacado jornalista, contista, pesquisador da realidade.

Paulo Nogueira Neto, que a Edmundo Vasconcelos vem suceder, liga-se de alguma forma a cada um deles. O amor à ciência o relaciona a seu antecessor direto, a Cesário Mota Júnior, a Eduardo Guimarães. O sentimento humano, a extrema bondade, o amor à pesquisa o vinculam a Afonso Schmidt. Razões afetivas o aproximam de Paulo Setúbal. O interesse pelo jornalismo faz próximo dele Gustavo Teixeira.

54 anos atrás, em 1937, fiquei conhecendo Paulo Nogueira Neto. Foram várias, durante aquele ano, as oportunidades que tivemos de estar juntos.

Um amigo comum nos convidou, creio que no segundo trimestre, para um jantar onde, além do nosso anfitrião e de um outro conviva, estavam presentes Paulo e seu irmão José Bonifácio, meu irmão Marcelo e eu.

Minha família morava então à Rua Baronesa de Itu, onde também se localizava a casa que nos recebia nessa noite. Paulo e José Bonifácio residiam também muito próximo.

Ainda naquele ano, no mês de setembro, os dois Nogueira lançavam o "América", um pequeno mas provocante instrumento de jornalismo adolescente, que teve 4 anos de vida, reunindo em sua redação e em sua reportagem um grupo de meninos que se fez extremamente unido e assim permaneceu desde então. Tínhamos entre 13 e 15 anos ao lançar-se o "América", 17 a 19 anos quando sua publicação cessou.

Naquele ano de 1937, eu completava os meus estudos preparatórios no Colégio São Luiz.

Como sucedia então em toda a classe média da cidade de São Paulo, tornei-me aluno de Madame Leitão - Madame Louise Reynolds, que, desde o início da década de 20, ensinava em São Paulo a dança a adolescentes.

Nessas aulas, reencontramos Paulo e José Bonifácio. E fomos, Marcelo e eu, convidados por eles a participar dos que escreviam o "América".

Outros acontecimentos, de relevância nacional, selariam, também nesse ano de 1937, a nossa amizade.

A 10 de novembro de 1937, o país sangrava sob o golpe do Estado Novo. Getúlio Vargas suprimia as eleições em que se defrontariam os estadistas que eram Armando de Salles Oliveira e José Américo de Almeida. Usurpava novamente Vargas a primeira magistratura do país, impondo-lhe sua carta de opressão, inspirada nos tacões totalitários com que Hitler, Mussolini e suas hostes subjugavam a Alemanha e a Itália.

Nem Paulo e José Bonifácio, nem Marcelo e eu, pudemos conformar-nos nunca com a ditadura Estado- Novista.

A carta fascista de 1937 vinha agredir os ideais de liberdade e as crenças democráticas em que todos comungávamos.

Marcelo e eu trazíamos conosco razão pessoal para nos opormos a Getúlio Vargas: meninos, ferira-nos a morte de meu tio-avô, o Senador Álvaro de Carvalho, exilado na Alemanha após a epopéia de 32.

Paulo e José Bonifácio iriam, sob a ditadura de 1937, ver exilado seu pai, Paulo Nogueira Filho, o futuro Acadêmico, que o Brasil conheceu como luminoso apaixonado das lutas cívicas e como panfletário fulgurante.

Como a todos os paulistas apaixonados por sua terra, revoltavam-nos ainda as humilhações impostas pelo ditador a São Paulo, ao iniciar-se a década.

Naquele mesmo ano de 1937, deu-se a coincidência de transferirmos nossas respectivas moradias, minha família e a de Paulo e José Bonifácio, continuando, no entanto, quase vizinhas. Mudávamo-nos para casas no Jardim América.

Meus pais, sete irmãos e eu nos instalamos em um casarão da Rua Guadelupe, a alguns passos da Avenida Brasil. Nessa Avenida residiriam, anos a fio, num palacete de estilo mexicano, Da. Regina Nogueira e seus filhos, na quase orfandade que o exílio de Paulo Nogueira Filho engendrava.

A vizinhança perdurou até que Paulo, Bonifácio, Marcelo e eu nos casamos.

Ainda em 37, visitei pela primeira vez a casa onde residiam os Nogueira, que Da. Regina regia com a doçura, o calor e o brilho que eram característicos seus. Ali, entre 1937 e 1945, a presença marcante de Da. Regina convivia com a lembrança da personalidade de Paulo Nogueira Filho, distante de nós, mas lembrado pelos filhos a cada momento.

O ambiente da casa da Avenida Brasil, conduzida por Da. Regina, era de amor às coisas públicas, de amor à liberdade, de amor ao Bem, ao Belo, ao Vero, ao Justo.

Em Da. Regina, que se projetava em seus filhos, renascia a presença ancestral de José Bonifácio, o Patriarca das lutas da Independência, da Abdicação, da Regência, da Maioridade de Pedro II; avivava-se o perfil do Visconde de Sepetiba, que quase tutelara o Imperador nos primeiros anos do segundo império; esplendia a personalidade de Campos Salles, dedicado à campanha abolicionista, à pregação da República, à recuperação financeira do país quando veio a presidi-lo; prolongavam-se as figuras austeras de José Bonifácio de Oliveira Coutinho e do segundo Aureliano Coutinho, avô e bisavô de Paulo, ambos professores da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Na permanente lembrança do pai exilado vivia a imagem do bisavô José Paulino Nogueira, empreendedor e líder republicano.

Sempre junto a Paulo e a José Bonifácio, o varão de escol que foi Paulo de Almeida Nogueira indicava-lhes caminhos a seguir e influia em todo o grupo dos seus companheiros.

Nas lides do "América" lidamos, ombro a ombro, de 1937 a 1941, Paulo e José Bonifácio, Marcelo e eu, Augusto Rocha Azevedo, Paulo Figueiredo, Olavo Setúbal, Guilherme Rudge, Gilberto Silveira, Carlos Sarmento, José Carlos e Fábio Moraes Abreu, Herman Revoredo, Eduardo Assumpção, Caio Eduardo Caiuog, Manoel Figueiredo Ferraz.

Os acadêmicos Guilherme de Almeida e Pedrinho Ferraz do Amaral fizeram-se presentes nas páginas do "América", dando alta colaboração ao nosso jornal.

Embora os saiba de cor, não vou reproduzir nesta Academia os poemas que Paulo Nogueira Neto publicou no "América". Não são a melhor marca do seu gênio... O novo acadêmico que se atreva a dizer seus versos, quando entender que há clima. Mas artigos que redigiu e reportagens que fez pontilham toda a vida do nosso jornal.

Ao nosso companheirismo em torno do América, viemos a acrescentar, os Nogueira, Marcelo e eu, a convivência na Faculdade de Direito de São Paulo, um templo de amor à Liberdade, um templo de amor à Justiça. As Arcadas nos acolheram em seu curso Pré-Jurídico, a mim desde os vestibulares prestados novembro de 37, a Paulo Nogueira Neto um ano depois. Ali florescemos ambos, até nos formarmos os dois na mesma turma, por que minha convocação para servir na Força Expedicionária Brasileira me levara a perder um ano escolar e a tornar-me colega de classe de Paulo, no último ano de nosso curso de Direito.

Ao longo de nossos cursos nas Arcadas, o grupo dos rapazes do América viveu a resistência estudantil contra a ditadura de Vargas.

A 9 de novembro de 1943, junto ao Largo de São Francisco, estava Paulo na primeira linha dos estudantes que, em protestos contra o ditador, foram metralhados pela Polícia Especial. Nada sofreu, mas companheiros de manifestação foram mortos, houve dezenas de feridos.

Estava também Paulo entre os que, a 5 de novembro daquele ano, acorreram à reunião junto a uma árvore plantada, outrora, pelas mãos de Rui Barbosa, no Vale do Anhangabaú, dali subindo para a Praça do Patriarca e percorrendo toda a cidade aos brados de "Viva a liberdade, abaixo a ditadura".

Na Faculdade de Direito, pertenceu Paulo, como eu mesmo, à Academia de Letras. Entre nossos companheiros estavam muitos dos que aqui hoje se reúnem como confrades, entre eles Lygia, Péricles Eugênio, Israel, Francisco Marins.

Honra-se Paulo de haver ocupado, na Academia de Letras da Faculdade, a cadeira Alberto Salles, de seu tio bisavô, pensador republicano, autor do livro "A Pátria Paulista", irmão do presidente Campos Salles.

Ao final do curso de Direito, casou-se Paulo. Ao seu lado, o apoio, a finura, a simpatia de Lúcia, flor dos Ribeiro do Valle, asseguraram sempre ao nosso novo confrade o ambiente - palavra tão de seu agrado - em que foi possível construir, contar com os filhos e netos, dispor sempre de uma palavra para os amigos.

Mas, embora Bacharel em Direito, estava Paulo destinado a dedicar-se à ciência. O Vero sobrepujaria o Justo, em suas preocupações. Ainda na Europa, durante a guerra, eu soube, através de cartas suas, de seu interesse por Meliponíneos, as abelhas indígenas brasileiras, sem ferrão, uma família que ninguém tem o direito de confundir com a da Apis-Melífera.

Atraído pelas ciências biológicas, cursou Paulo a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, no curso de História Natural, seguindo sua vocação como zoólogo e vindo a tornar-se, na Universidade de São Paulo, já na última década, Professor Titular.

Quando voltei ao Brasil, em 1945, Paulo já era um dos mais destacados estudiosos dessas abelhas. E em 1953 viria a publicar, cuidando delas, seu primeiro volume.

No pórtico desse primeiro livro, denominado "A criação de abelhas indígenas sem ferrão”, Paulo anunciou:



"Atrás deste pórtico, vive um povo. São os membros de uma nação dinâmica e operosa, cujas origens remontam a milhões de anos de evolução lenta e persistente. Se o leitor trata a natureza aferro e fogo, em poucos minutos o seu, machado destruidor arrasará a cidade e os seus habitantes. Se, porém, o seu coração for amigo das maravilhas que nos proporcionou o Criador, preservará este pequeno reino e poderá entender melhor a Terra e a vida que a povoa. A salvaguarda dos recursos naturais está em suas mãos".



Nessas palavras proclamava seu Breviário o destacado ecologista que Paulo Nogueira Neto iria ser. Um cientista cujos trabalhos avultariam em nosso país, levando-o à mais alta posição administrativa da ecologia no Brasil e a tornar-se conhecido em todo o mundo, fazendo-o destinatário dos mais cobiçados prêmios mundiais por trabalhos ecológicos.

A essas linhas introdutórias, que anunciavam igualmente um interessado nas belas letras, seguiam-se duas estrofes, recolhidas do cancioneiro nordestino:



"Quando chove, as abelhas

começam a trabalhar.

Moça branca e a pimenta,

Manda-saia e mangangá,

Canudo, Mané de Abreu,

Tubiba e Irapuá.

Ronca a Tataíra,

Faz ronco o Limão,

Zoa o Sanharão,

Trabalha a Janaíra.

Busca flor a Cupira,

Faz mel o Inxu,

Zoa o Capuxu,

Vai à fonte a Jataí,

Capeia o Inxuí,

Faz mel a Urussu".



Marcante interesse pela literatura popular se revela, desde essa citação, nas linhas iniciais do primeiro livro que publicou.

Mas é a vocação de Paulo Nogueira Neto para a ciência o que domina o volume, desde o capítulo com que se abre. Nas intenções de Paulo Nogueira Neto, essa obra inicial estaria centrada na criação de abelhas indígenas sem ferrão, informando caminhos para obtenção e transporte de colônias, propondo soluções concretas para desenho e construção de colméias racionais, detalhando tarefas de inspeção e manipulação, de conservação e substituição de colônias, de multiplicação artificial, de proteção contra condições desfavoráveis, de análise de obstáculos opostos a criação de abelhas indígenas.

No entanto, o espírito científico de Paulo saltava sobre essas intenções objetivas e despretensiosa.

O capítulo inicial desse volume dedica 40 páginas à polinização das flores. As palavras iniciais desse primeiro capítulo são esclarecedoras da personalidade de Paulo. Escreve ele:



"Um dos objetivos da criação de todas as espécies domésticas de abelhas está ligado ao seu emprego como auxiliar da agricultura na polinização das flores de numerosas plantas. Para o homem, é muito maior o valor desses insetos como agentes de polinização do que como produtores de mel e de cera".



O profundo humanismo do homem Paulo Nogueira Neto se revela nessas orações iniciais. Trabalhava com abelhas, mas pensava no homem. E sua capacidade de generalizar, seu potencial de inferência, seu espírito de cientista, patenteiam-se, igualmente, desde essas observações.

Trabalhara Paulo, durante quase dois lustros, no desenho e na construção de colméias, no angariar colônias. Observara dedicadamente seus Meliponíneos. E extrapolava, nesse capítulo inicial, preocupações com o significado da polinização que realizam as abelhas, com o que representam para a agricultura.

O equilíbrio, a objetividade, o pragmatismo, nos trabalhos de Paulo Nogueira, repontam a cada momento, em sua primeira obra.

Ainda na página inicial, Paulo destaca a necessidade de que se afastem todos de duas atitudes opostas: a dos que desprezam a presença dos Meliponíneos como polinizadores e a dos que supõem possam eles ser a salvação da agricultura nacional. Acentuava Paulo a necessidade de ser considerada de forma objetiva a significação da presença das abelhas indígenas, com seus méritos e suas limitações.

Mais adiante, adverte Paulo:



"Há uma teoria biológica muito aceita, segundo a qual num mesmo meio não poderia haver mais de uma espécie que tenha as mesmas condições de vida. Coexistirem diversas mamanguavas, a abelha européia e as abelhas indígenas, mostraria que nenhuma dessas é superior às outras e cada uma dessas têm pelo menos características próprias, nas quais são muito mais eficientes que as outras espécies. Se houvesse uma abelha que fosse em tudo mais apta que as demais, as outras espécies deixariam de existir".



É curioso que Paulo Nogueira haja, 17 anos depois, na 2ª edição de seu volume de estréia, suprimido suas 40 páginas sobre polinização. Na abertura do livro, essa exposição inicial foi substituída por 20 páginas relacionando nomes vulgares de diferentes abelhas indígenas, referindo-os a classificações científicas, a trabalhos de outros zoólogos e a meras informações de interessados.

Após essa relação, a arquitetura dos ninhos dos meliponíneos ocupam, na edição de 1970, um largo espaço.

Creio ter sido o aprofundamento do cientista nos seus estudos específicos o que o levou, naturalmente, a dividir preocupações, reservando somente a temas contidos nas específicas tarefas da criação de abelhas indígenas o livro que a elas quis dedicar.

Nessa segunda edição se patenteia o intenso labor desenvolvido por Paulo, ao longo dos 17 anos decorridos entre as duas edições. Trabalhos de 1956, de 1957, 1962, 1963, 1964, 1966, por exemplo, estão citados em duas páginas, somente, da segunda edição, as de nºs. 154 e 155. Numerosos outros, divulgados nesse intervalo de tempo, recebem referência freqüente ao longo de todo o livro, em 1970.

Foi também em 1953 que Paulo Nogueira Neto fundou duas entidades nas quais se objetivou seu humanismo: a APINCO - Associação Promotora do Interesse Coletivo e a mais antiga entidade conservacionista brasileira, a Associação de Defesa da Flora e da Fauna, cujo nome depois passaria a ser ADEMA - Associação de Defesa do Meio Ambiente.

Tinha Paulo Nogueira Neto o hábito, que ainda hoje pratica, de escrever, a autoridades, a associações, a pessoas responsáveis por determinada atividade, ou determinada situação, cartas alertando para soluções de interesse coletivo, para riscos impostos a terceiros por peculiaridades de ação ou de inação em curso, ou dando colaboração nas mais diversas esferas - visando unicamente aos interesses da coletividade, sem nenhuma participação de benefício pessoal seu que não na qualidade de integrante do corpo social. Num dia de lazer, as cartas podem ser meia dúzia, podem chegar à casa das dezenas, fruto de meditações, de inspirações, de sonhos de dias anteriores.

A APINCO é bem a longa mão do homem Paulo Nogueira Neto, que eu vi muitas vezes deter o automóvel que dirigia para retirar da calçada algo que poderia ferir uma criança, ou para afastar da vida carroçável objetos que pudessem constituir riscos para um transeunte, para outro veículo; a mão bondosa de Paulo Nogueira, voltado para servir, capaz de descobrir, no rosto ou em gestos de um desconhecido que passe por ele, angústias que o sufocam - e de então dirigir-se a ele para confortá-lo e ampará-lo, para dar-lhe a palavra de alento, a longa pregação quase missionária, o estímulo que, em casos concretos, chegaram a afastar do suicídio desesperados à beira dele.

Esse patronato do interesse coletivo, essa imposição do bálsamo a irmãos - que Paulo exercita - não é do conhecimento do grande público, ao contrário do que sucedeu com o dinâmico exercício da defesa da ecologia pelo fundador da ADEMA, o mesmo a quem tocaria instalar, na administração federal, a SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente, cuja presença e ação foram decisivas para sensibilizar os brasileiros quanto à urgente necessidade de exercitar a preservação e a recuperação ambientais.

A ADEMA até hoje permanece em intensa atividade, ecoando, na esfera civil, as iniciativas e os esforços que Paulo Nogueira Neto implantou na esfera da União e, em seguida, na do Distrito Federal.

Os confrades, os amigos e os admiradores de Paulo que aqui estão presentes puderam sentir, nas palavras finais da bela oração com que Paulo tomou posse, nesta Academia, que a paixão pelo Verdadeiro talvez o esteja levando a supor que o Vero e o Belo se confundem.

Poder-se-ia até sustentar o avesso de tese de Paulo: não podem ser verdadeiras as afirmativas que não se formulem com elegância. Mas, ainda que verdadeiras, estiolar-se-iam. A clareza reclama limpidez de estilo. Comunicação exige, de quem quer transmitir a verdade, que suas mensagens possam atrair a atenção e possam polarizar o interesse dos destinatários.

No livro que tem como título "O comportamento animal e as raízes do comportamento humano", em 1984, os belos capítulos que Paulo Nogueira Neto escreveu, dedicados à análise da comunicação, considerando comportamentos de espécies animais, mas claramente interessado em deles inferir comportamentos humanos, refere Paulo, entre muitas outras espécies, mensagens ambíguas, mensagens semânticas, mensagens evanescentes: será muito intenso o risco de que se torne ambígua ou de que venha a evanescer instantaneamente a mensagem, se se quiser fazê-la somente vera - e houver, por isso, renúncia à beleza; ou se houver já suposição de que a verdade é, em si, a beleza, já de que a elegância no desenho da mensagem pode ser desprezada.

Paulo Nogueira Neto poderia dar-nos, a todos, lições a que aspiramos, se desenvolvesse seus trabalhos sobre mensagens semânticas, porque há estreita relação entre Verdade, Beleza e Significações.

Senhor Acadêmico Nogueira Neto: sua personalidade, sua vida e sua obra abriram os portões de nossa Academia Paulista de Letras.

Paulo: esta é a sua casa, como foi do saudoso Paulo Nogueira Filho.



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