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NO SEU MODO DE VER, UM FUTURO BRILHANTE NOS AGUARDA?
Acadêmico: Bolívar Lamounier
Esta indagação leva-nos à espinhosa questão da sucessão presidencial.

Eu bem que gostaria de ter o dom dos áugures da antiga Roma, que anteviam o futuro examinando as entranhas de certas aves ou animais. Sobre o passado, eu até que me viro, mas sobre o futuro, não acerto uma. Meu normal é errar até o dia seguinte.

Mas vamos lá, num horizonte de dez anos, na sua opinião o mais provável é o Brasil decolar para um futuro exuberante, permanecer como está, ou entrar num demorado retrocesso?

A pergunta faz sentido por várias razões, mas principalmente porque Lula está concluindo seu terceiro mandato como Presidente da República. No início, tendo em conta seu aparente amadurecimento, imaginei que ele ia se concentrar nos dois grandes desafios com que nos deparamos – pacificar o país e dar os primeiros passos no sentido da retomada do crescimento econômico. Não quero fazer uma avaliação precoce – se está tendo sucesso ou falhando -, mas tenho tido dificuldade em acompanhar a agenda presidencial. Lula parece não ter se livrado – ao contrário, parece ter agravado – sua velha mania de estadista. De grande protagonista internacional. Vocês devem estar lembrados de uma ocasião em que ele encheu o Aerolula de celebridades e desembarcou em Tel Aviv, sem ser convidado, oferecendo-se para o papel de mediador n o conflito Israel – Palestina. Questão que os dirigentes das grandes potências tratam com extrema cautela, Lula pensou que sua proverbial retórica resolveria num abrir e fechar de olhos.

Agora, vemo-lo outra vez dando voltas pelo mundo, dando conselhos para Xi Jiping, Putin, Biden e tutti quanti, e aí voltando às pressas para indicar os rumos que nossa triste América Latina deveria seguir.

Sim, a economia brasileira vai crescer dois e mais um pouquinho por cento este ano, graças ao agronegócio, prognóstico que qualquer primeiranista de economia faria com absoluta segurança, tendo porém o cuidado de lembrar que o agronegócio não cria empregos. Aventurando-se um pouco mais, o referido primeiranista poderia advertir que uma pancada de impostos, se for esse o objetivo do chamado “arcabouço fiscal”, levará à bancarrota uma senhora parcela do setor de serviços (médias e pequenas empresas que tocam restaurantes e lanchonetes, serviços ligados ao turismo etc).

Se os apontamentos acima estiverem corretos, sou forçado a lembrar o título de um texto de nossa saudosa primeira-dama, Ruth Cardoso: “Nem tudo que reluz é ouro”, escreveu ela, naqueles distantes primórdios do PT.

E a pacificação política do país, como fica? Vamos continuar com os lorpas e pascácios, ou seja, a esquerda e a direita, cuspindo fogo entre si, ou intuirão que a paz é sempre melhor que a guerra? Que se contentar com um pedaço de um bolo crescendo é melhor que sair na pancada para ficar com a maior parte do que encontram numa lata de lixo?

Esta indagação leva-nos à espinhosa questão da sucessão presidencial. Nessa área, podemos afirmar sem temor a erro que o centro (e aqui me refiro a políticos sensatos, moderados, plausíveis como possíveis candidatos à presidência) só vão se reunir para (des)conversar a poucos meses do pleito, quando na prática ele já estiver decidido. Nisto, as alas esquerda e direita têm muito mais tirocínio. Lula já pensa em si mesmo e começa a “construir” seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No polo oposto, Bolsonaro aguarda o momento de saborear o eventual fracasso do governo Lula. Alguma novidade? Atrevo-me a dizer que sim. O deputado Artur Lira tem o DNA de seu antecessor, Eduardo Cunha, e muito mais força política. Por enquanto, ele nada disse a respeito, e nem precisa: até os bic hos-preguiça já devem ter aberto os olhos para essa hipótese.

Se o enredo e o elenco for mesmo esse, parabéns para você que se mantém otimista. Foi de apenas dois por cento a diferença de Lula sobre Bolsonaro. Fernando Haddad ombrear com Bolsonaro ou com Artur Lira, convenhamos, é assaz improvável. Isso significa que além, muito além daquela serra que ora azula no horizonte, teremos mais alguns anos sem iniciativas relevantes de reforma, sem um mínimo de discernimento em nossas transações com o exterior, com o desemprego ainda nas alturas (ou você acha que a indústria vai dar um formidável salto, nas condições em que se encontra?), nossas avenidas continuarão a parecer favelas, e nosso sistema educacional, ora meu amigo, deixemos esse tópico para outra ocasião: hoje o dia está frio, encoberto, nem um pouco parecido com o bálsamo de que precisamos para nos sas almas.



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