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REGINA DUARTE SERÁ CAPAZ DE AMPLIAR O DIÁLOGO DO GOVERNO COM A CLASSE ARTÍSTICA?
Acadêmico: Juca de Oliveira
Embora, a meu ver, a função da Regina Duarte na Secretaria de Cultura não seja a de “ampliar o diálogo do governo com a classe artística”, isso provavelmente acontecerá. Porque Regina é uma operária da arte e da cultura brasileiras, grande atriz, sensível e com objetivos muito claros e determinados.

Embora, a meu ver, a função da Regina Duarte na Secretaria de Cultura não seja a de “ampliar o diálogo do governo com a classe artística”, isso provavelmente acontecerá. Porque Regina é uma operária da arte e da cultura brasileiras, grande atriz, sensível e com objetivos muito claros e determinados. Estreou na televisão e no teatro em 1965. Ficamos amigos, quando tive o privilégio de ver Regina no palco em a Megera Domada de Shakespeare, sob direção de Antunes Filho. Era a sua estreia no teatro e um enorme sucesso, ruidosamente comentado pela imprensa e no meio artístico daquela época. Ali estava, sem dúvida alguma, uma menina de 18 anos de excepcional talento, o que veio se comprovando pelo seu trabalho ao longo dos últimos 55 anos. Seu carisma pessoal, o fascínio exercido sobre um público fiel por décadas, acabou lhe conferi ndo o af etuoso título de “Namoradinha do Brasil”. Foi a condecoração de milhões de fãs por ela se manter durante tantos anos no foco das grandes e bem sucedidas produções de telenovelas, filmes e peças teatrais. Inteligente, culta, simpática, muitíssimo bem humorada, absolutamente fiel aos seus amigos e colegas. Tais qualidades seriam, enfim, o limite máximo que se poderia esperar de uma atriz de enorme talento. Mas não para Regina, que vai muito além. Porque há nela também uma personalidade política e constante preocupação com o destino político e social do país. Desde muito jovem, espontaneamente, escolheu além do teatro, televisão e cinema, participar de todos os grandes movimentos pela liberdade, pela democracia e elevação cultural. Para nossa surpresa revelou-se também uma precoce oradora, disc ursando nas grandes concentrações públicas pela democracia, pelos direitos do artista e do cidadão. Tive o privilégio de participar da campanha pelas “Diretas Já!, em 83, e presenciar seu contagiante entusiasmo nos grandes eventos da Praça da Sé. Testemunhei também inúmeros e brilhantes discursos de Regina nas grandes concentrações políticas da Avenida Paulista. Há algum tempo ao nos encontrarmos por acaso num evento cultural não resisti e lhe disse: “Regina querida, me permita, mas você não tem apenas vocação pra política, você tem também talento, menina! Se fosse você começaria me candidatando nas próximas eleições para a Assembleia Legislativa ou para o Senado. Nós precisamos de você na política!” Ela riu muito, não disse sim, mas também não disse não. E agora não é que Regina é convidada pelo Presidente da República para assumir a Secretaria de Cultura? Na minha opinião, a melhor escolha. Repetindo: Regina é representativa da classe, tem enorme popularidade, boa vontade política, uma visão ampla do panorama cultural do país, inteligente, sensível, sabe o que quer e, sem dúvida, não está apenas aceitando o cargo por mera aventura. Aceitou sim por claríssima determinação, uma meta a ser atingida e que tem tudo a ver com a sua personalidade e paixão de ativista social. Ela na Secretaria é um bem para a cultura e uma alegria para nós artistas. “- Mas ela é de direita!” - dirão alguns. Mas que importância tem isso? Nós, atrizes e atores, nascemos da religiosidade num templo grego pelos 550 a. C. com o sacerdote Téspis, o primeiro ator da história! Apesar de nosso trabalho artístico ter perdido aquele caráter litúrgico, sua função social continua a mesma: melhorar o homem, torná-lo mais generoso, mais afetivo, mais íntegro e sobretudo mais solidário. Portanto não importa que a ideologia do secretário seja liberal, de centro, de esquerda ou de direita. Importa que ele seja competente, tenha consciência da responsabilidade, conhecimento do trabalho, amor pelo país, pela arte e pela cultura, a exemplo de Regina Duarte. Tenho certeza de que em pouco tempo ela terá o apoio de todos nós.

Publicado no jornal Folha de São Paulo, no dia 07/03/2020.



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