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É CEDO PARA FALAR EM CRISE
Acadêmico: Roberto Duailibi
"O início do governo Bolsonaro, de fato, não está sendo o que esperava a maioria dos brasileiros."

O início do governo Bolsonaro, de fato, não está sendo o que esperava a maioria dos brasileiros. É preciso, no entanto, dar a tonalidade correta a cada fato. Primeiro, temos de considerar que o governo começou há apenas dois meses. Segundo, que o presidente foi obrigado a passar por uma cirurgia complicada, que o afastou do governo por um longo período. No mais, não vejo motivo para tanto barulho. Tomemos como exemplo o caso do ministro Gustavo Bebiano. Se ele estava com problemas e precisava agir para corrigir alguma falta, se estava, por isso envolvendo o Planalto numa crise que a rigor é do PSL, o seu partido, porque motivo teria de continuar no governo?

Não me parece justo nem correto ele permanecer apenas em nome da lealdade dos velhos tempos, de quando Bolsonaro precisou do amparo da sua legenda para lançar-se candidato. Ademais, a troca de ministros, embora não seja algo positivo, não é o fim do mundo, acontece em todas as democracias, ainda mais num posto que é importante, mas não tem relevância crucial. Não se pode apenas por isso se produzir uma crise. O cenário está longe disso. Eu que vivi muitas crises, econômicas e políticas, creio ter experiência e autoridade para fazer essa afirmação com segurança.

Me preocuparia se houvesse um problema grave envolvendo o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, ou então Sergio Moro, na Justiça, considerados, estes sim, superministros e pilares do governo. Me preocuparia se houvesse um problema com um dos generais, que pudesse despertar o esprit de corps da corporação militar. Aí sim teríamos uma crise. Bebiano não era assim tão essencial e seu peso no Congresso, embora importante, será ofuscado pela relevância das votações, como a da Previdência.

De todo modo, até pelos motivos já escritos, o presidente Jair Bolsonaro deu a impressão de que demora muito a agir. Apesar de ter ao seu lado um grande profissional de comunicação, que é o general Rego Barros, pareceu estar precisando de um assessoramento que lhe indique de pronto as melhores alternativas e a ação rápida. Não se pode deixar o governo no noticiário de crise por dias a fio, sangrando, sendo saco de pancada dos seus críticos, da oposição e da própria mídia, que nada mais faz que cumprir seu papel. Se há um problema no governo, se o problema foi detectado, se tem matéria-prima farta para os jornalistas, cabe ao presidente agir para debelá-lo. Assim deveria pensar o presidente. Por isso se espera ações mais imediatas no sentido de conter esses movimentos.

Bem, mas é preciso, também, que ele converse mais com os filhos. São todos legisladores em casas distintas, são todos maiores e responsáveis. Deveriam se descolar do pai nas questões políticas, ter uma autonomia particularizada às suas hostes, conduzir suas carreiras, projetos e interesses com certa distância do Planalto. Dariam, os três, maior autonomia ao pai, distanciariam suas próprias crises do governo central, permitiriam ao presidente governar em seu próprio nome, com suas próprias decisões.

Essa excessiva influência ao meu ver tem sido prejudicial ao desempenho do presidente. Quero acreditar que essa proximidade se deu apenas por esses dias, enquanto o pai estava convalescendo. O povo espera muito do seu governo. Ainda é muito pouco tempo para avaliações, mas é necessário ter atenção a determinados aspectos. Eles é que marcam e d&ati lde;o personalidade a uma gestão. Mantendo o tom do problema Bebiano, sua personalidade será confundida e sua autoridade posta em xeque. E tudo isso irá compor a sua história.

Publicado 20 de fevereiro de 2019, no Jornal Correio Braziliense.





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