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É MAIS UM CARNAVAL
Acadêmico: Gabriel Chalita
Artigo publicado no Jornal Diário de São Paulo. Há tantas canções que nos embalam nesses dias de folia. Há algumas, de antigamente, que nos trazem nostalgia. De velhos carnavais. De amores que se foram. De sonhos esmaecidos. De inocências que, talvez, tenhamos perdido.

Há tantas canções que nos embalam nesses dias de folia. Há algumas, de antigamente, que nos trazem nostalgia. De velhos carnavais. De amores que se foram. De sonhos esmaecidos. De inocências que, talvez, tenhamos perdido.

Blocos de rua, escolas de samba, clubes, brincadeiras de criança. Fantasias. Passávamos um mês em torno da fantasia. Os tempos vão mudando. Os significados da alegria, também.

Lembro-me dos meus carnavais do interior. Do desejo de ficar adulto logo para entrar no clube à noite. Crianças frequentavam as matinês. Há uma idade em que não somos crianças nem adultos. E toda a ebulição nos leva a querer antecipar o tempo. Há outros tempos em que, se pudéssemos, pararíamos ou, ao menos, pediríamos que passasse mais lentamente. Não temos esse poder. Mas essa é uma outra história.

Lembro-me da primeira vez que, na cidade grande, vi um desfile inteiro de escolas de samba. E desde a primeira vez, fiquei impressionado com a capacidade de contarem, na avenida, a história de alguém ou de alguéns. De um tema. De um lugar. De uma época. E os foliões tomando a avenida e fazendo parte de um dos mais belos espetáculos da terra.

Gosto das músicas antigas de carnaval. Talvez porque me tragam recordações de pessoas e momentos que não voltam mais. Volta-me a alegria da infância, a inquietude menina que ansiava pelos 4 dias de festa na cidade. Mas gosto também das atuais. É preciso compreender o belo, nos tempos diversos, e aceitar as novas formas de fazer arte. Gosto da alegria dos foliões. E este ano São Paulo vive um lindo carnaval. Até aqui, este domingo, poucas histórias de violência e muitas narrativas de blocos, tomando a cidade. A alegria, lentamente, parece emudecer a dor. Talvez. Brincar é a lei. Afinal, hoje é carnaval! “Ó, quanto riso. Ó quanta alegria!”, descreve a canção.

E a metrópole se colore, tomada pelas pessoas. Com responsabilidade. Com pertencimento. Acompanhei alguns blocos. Vi jovens de todas as idades cantando, dançando , sambando quem diz que paulista não samba? Samba, sim!

É bonito de se ver avenidas inteiras povoada pelas gentes que querem quebrar os concretos com gingas de alegria. A pauliceia desvairada não é só do trabalho. Mas o carnaval, também, gera muito trabalho. O que é bom. O que nos ajuda. Olhar o turismo como grande potencial de emprego e renda é fundamental para todo governante.

Alguns lamurientos criticam essa alegria toda, dizendo que depois tudo volta ao normal. E que, em tempos de crise, não faz sentido celebrar nada. Discordo. Venceremos as crises trabalhando e celebrando. Convivendo, enfim. E o carnaval pode nos ensinar a vencer a sisudez com algum charme especial. Com algum bloco de otimismo. Com alguma escola da criatividade. Com algum gole de esperança.

Antigos ou novos carnavais são uma oportunidade a mais para expressar o prazer de viver. Os exageros são ruins. Drogas. Bebidas em excesso. Desrespeitos aos desejos do outro. Atrevimentos deselegantes. Tirando esses desvios, o desfile é bom.

É mais um carnaval. Talvez uma nova oportunidade para aprender o canto da alegria. Alegria que só é possível quando palhaços, colombinas, pierrôs e tantos outros se encontram longe das perversidades. Quando o riso sincero se apresenta e convida outros risos para celebrar.

¨Vai passar nessa avenida o samba popular. Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar¨ . E assim vai...

Bom carnaval.



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