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![]() Acadêmico: Gabriel Chalita Somos filhos de uma terra que é muitas e é uma. Que fala, embelezando nos seus cantos, a língua portuguesa. Que língua linda a nossa!
Um país chamado Brasil Somos mais de 200 milhões. Somos filhos de uma terra que é muitas e é uma. Que fala, embelezando nos seus cantos, a língua portuguesa. Que língua linda a nossa! Com suas variações, suas palavras que dizem sons que nos embalam em emoções. Temos a "saudade" para chamar de nossa. Saudade, inclusive, do que ainda não somos. Somos gigantes nos rios que contam histórias. Rios que são oceanos. Temos, também, oceanos. E praias. E interiores. Temos sotaques e comemos diferente nos nossos diferentes cantos. Vivemos em grandes cidades e vivemos em cidades em que toda gente conhece toda gente. Somos o campo que produz o que comemos. Somos a cultura que nos dá identidade, que nos eleva como nação, que nos une como irmãos. Somos irmãos de muitas causas e somos descasados de muitos irmãos. Saudade do que não somos. Não somos um país que cuida de todos. Nossa educação ainda é discurso mal feito, ainda é promessa do que não é, ainda é para alguns. Somos os que deixam para trás os seus, que não reconhecemos como nossos. Deixamos de ver os que se deitam nos abandonos de cidades ricas e que parecem não existir. Existem e são brasileiros. Somos a beleza de naturezas desenhadas em cenários de encantamentos. Somos criatividade e gentileza. E também somos rudes. Ou ficamos rudes. Ou estamos rudes. Nâo sei. Somos verde, amarelo, azul e branco. Somos uma bandeira que respeita cada estrela. E que sonha em um dia ser um país justo e solidário. Saudade do que não somos. Somos crianças com cuidado e crianças sem cuidado. Somos os que são convidados e os que são deixados, esquecidos de participar do que somos. Somos a floresta amazônica e a mata atlântica e o cerrado. Somos a serra do mar e os pampas. Somos São Paulo, nossa maior cidade e somos Castro Alves, em Salvador, para lembrar que a praça é do povo como o céu é do condor. Somos o povo da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro e o Belo Horizonte das Minas Gerais. Somos Vitória e Fortaleza. Somos Brasília e Goiás Velho, de Cora Coralina. Temos um Rio Grande no Sul e um Rio Grande no Norte. Somos Acre e Santa Catarina. Somos o Amapá e Alagoas. E Curitiba e Boa Vista. E Porto Velho. E Palmas. Palmas para que os que percorrem o pantanal do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. Somos os Lençóis Maranhenses e as festas de São João de Campina Grande. Somos Teresina e Aracaju. Somos das Alagoas, de Belém e de Manaus. E de Olinda e de Recife. Somos a fé de Juazeiro e de Aparecida. A fé do povo simples que olha para o que somos e que, mesmo em lágrimas, agradece. Somos irmã Dulce e Paulo Freire. E Ariano e Machado e Cecília e Lygia e Nélida. Somos Guimarães e Drummond. E Carmen Miranda e Bibi Ferreira. Somos Paulo, o Autran, o Goulart, o Bomfim e todos os outros e, também, Dercy e Marília, a Pera, e a de Dirceu. Somos os inconfidentes que sonharam com a liberdade. Somos os povos da floresta que por aqui primeiro chegaram, somos os imigrantes que vieram porque quiseram e os que vieram forçados. Somos de Santo Amaro de dona Canô e do seu canto de mãe que gerou Bethania e Caetano. Somos Chico Buarque e suas composições e romances que embelezam a língua portuguesa. A mesma que canta Gil e que canta Marisa. A que canta Nelson, o Cavaquinho e o Gonçalves, porque quem canta nunca deixa de cantar. E também Elis e Gonzaguinha e Gal. Somos o romantismo de Roberto Carlos e a potência de voz e de vida de Elza Soares. Somos Carlos Gomes e o Brasil cantado e tocado lá fora. E Villa Lobos e o seu sonho de toda a gente musicar a vida. E Bidu Sayão e o pianista vencedor, o maestro da generosidade, João Carlos Martins. Somos a fotografia de Salgado, os desenhos de Oscar, o coração de Jatene, a arte das Fernandas, a Montenegro, a Torres, e todas as outras. Somos todos esses que conhecemos e somos a Maria, enfermeira. O Pedro, motorista de táxi. A Juliana, filha do senhor José. Somos o suor e o descanso. Somos a poesia de Nejar, o sonho de Anisio Teixeira e o olhar humano de Antônio Ermírio. Saudade do que ainda não somos. Quero acrescentar o advérbio "ainda", porque não sou filho do desânimo. Conheci Montoro e Darcy e Ulisses. Escrevi sobre Dolores e Elizeth e Maysa e Dalva. Nasci em um interior cujo nome tem Cachoeira. Conheci Jonas, que como o da Bíblia, nunca deixou de ter fé. Eu tenho fé nesse país chamado Brasil. Se me dessem o direito de escolher onde nascer, seria aqui mesmo. Seria falando a lingua portuguesa. Seria vivendo da escrita e do magistério. E dos afetos. Porque, sem amor, país nenhum pode ser grande. ![]() ![]() |
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