|
||||
![]() | ||||
![]() Acadêmico: José Renato Nalini O prefeito convenceu a população local a ser guardiã desse patrimônio. É um lugar imune a plástico. Ali não entram garrafas pets. Há cocos naturais em abundância e, depois de sorvidos, são recolhidos por uma equipe que foi treinada para atuar como recepcionista e guia dos turistas
Aprender com Barranquilla A OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é uma entidade muito respeitada internacionalmente. Congrega países com o propósito de promover políticas públicas com vistas ao progresso econômico e o bem-estar social. Hoje são trinta e oito os países membros e o Brasil, que realizou parcerias desde os anos 1990, solicitou em 2017 a adesão à OCDE. Cinco anos depois, recebeu o convite formal para iniciar o processo adesivo. Neste ano, pela primeira vez ela realizou um Fórum para o fortalecimento de entidades subnacionais fora da Europa e escolheu uma cidade que não é capital nacional. Barranquilla, na Colômbia, o município que fica no extremo norte e que é banhado pelo Mar do Caribe. A escolha se deveu ao protagonismo dessa cidade, cujo prefeito, Alejandro Char Chaljub, exerce o seu terceiro mandato e é considerado um fenômeno pelos colombianos. Ele conseguiu fazer de sua cidade um exemplo de inovação. É aclamado por todos os munícipes, com os quais se relaciona continuamente. Veste-se de maneira informal, sempre usa camiseta e boné pretos. Participei do Fórum realizado entre 8 e 11 de julho, em companhia da Secretária Ângela Gandra, de Relações Internacionais. Impressionou-me a singeleza do Prefeito, que é afável para com todos e que fez questão de mostrar aquilo que tem realizado na cidade que o elegeu por três vezes. A realização que mais me tocou foi a preservação da região de mangues, pois Barranquilla, além do Mar do Caribe, recebe o caudaloso rio Magdalena e é cercada por águas. São quatro os tipos de mangue que ali se encontram, o que propicia a existência de uma rica fauna. Um pequeno jacaré, chamado caiman, habita aquelas águas, assim como caranguejos bem exóticos. Muitos pássaros têm sua existência protegida pela obra do Prefeito, mais conhecido como Alex Char. Um imenso corredor de madeira, pinho de reflorestamento, ergue-se sobre palafitas e permite um percurso de contemplação. Tudo é muito bem confeccionado e os passeios são limitados a um certo número de visitantes por dia. Ali não se ingressa com qualquer veículo movido a combustível. Apenas pedestrianismo e ciclismo, sem ruído de qualquer som, inclusive música. Também é um espaço vedado aos animais, pois eles poderiam comprometer a tranquilidade da fauna silvestre. A construção de madeira, que infelizmente é pouco comum no Brasil, um país detentor de fabulosa biodiversidade arbórea, tem um enorme mirante do qual se avista um cenário de trezentos e sessenta graus. O importante é que o Prefeito convenceu a população local a ser guardiã desse patrimônio. É um lugar imune a plástico. Ali não entram garrafas pets. Há cocos naturais em abundância e, depois de sorvidos, são recolhidos por uma equipe que foi treinada para atuar como recepcionista e guia dos turistas. Seria a solução ideal para a região dos mananciais paulistanos, tão prejudicada pela irregular ocupação para fins de moradia, com nefastas consequências para a maioria da população. Sim, alguns milhares que constroem residências em região a tanto vedada, põem em risco a sobrevivência de milhões de moradores da capital. Pois a água fica não só comprometida, mas avizinha-se grave escassez hídrica, a qual não tem sido objeto de atenção da maior parte da sociedade civil. O outro projeto executado pelo Prefeito Alex Char é a recuperação da praia do Porto Mocho, a única praia urbana de Barranquilla. Houve requalificação da orla, hoje toda transformada em jardim. Ali também não se chega com veículo movido a combustível fóssil, mas somente com o trem elétrico das flores. Como a orla é muito extensa, quem não quiser caminhar pode se servir de carrinhos elétricos quais os utilizados para o jogo de golfe. Cerca de quatrocentas famílias foram capacitadas para exercer atividades turísticas: garçons, chefs de cozinha, bartenders, guias turísticos, artesãos. Antes disso, eram ambulantes, exerciam atividade informal e viviam em condições nem sempre dignas. Hoje são orgulhosos moradores de uma área recuperada e transformada numa grande atração turística colombiana. Uma comunidade gigantesca e complexa, como São Paulo, tem o que aprender com Barranquilla, principalmente quanto ao aproveitamento de sua região dos mananciais, tanto a Guarapiranga como a Billings. Vamos impulsionar medidas que possam motivar o empresariado a atuar nesse sentido. Além de legítimo lucro, a cidade toda se beneficiará com planos viáveis de revalorização de nosso patrimônio ambiental e turístico. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 08 08 2025 ![]() ![]() |
||||
Largo do Arouche, 312 / 324 • CEP: 01219-000 • São Paulo • SP • Brasil • Telefone: 11 3331-7222 / 3331-7401 / 3331-1562. |