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![]() Acadêmico: José Renato Nalini Se a COP é a conferência da mata, São Paulo pode oferecer como legado a conferência da cidade
O legado paulistano para a COP-30 A COP-30 em Belém do Pará será uma ocasião especialíssima para o Brasil. Pela primeira vez, um encontro de tal dimensão na Amazônia, região emblemática, onde os paradoxos nacionais se evidenciam. O sedutor “pulmão verde” do planeta, seus misteriosos “rios voadores”, cedendo à sanha dendroclasta de todo tipo de degradação. Desmatamento para pasto, grilagem de terras públicas, continuidade do genocídio indígena e o terreno fértil para uma sofisticada e crescente conexão de organizações criminosas. São Paulo está distante da Amazônia, mas sofre as consequências dos incêndios. O Sudeste depende da saúde da hileia para equilíbrio de seu regime de chuvas. Aqui, as dezenas de milhares de visitantes farão escala para embarcar em voos que os conduzam até Belém. É justo que a maior cidade brasileira ofereça alternativas para os estrangeiros que experimentarão o Brasil. Esta megalópole tem muito a mostrar. Em conteúdo científico, principalmente produzido pela Universidade de São Paulo (USP), agora com a Cátedra Clima e Sustentabilidade, no Instituto de Estudos Avançados (IEA), presidida pelo notável climatologista Carlos Nobre. Por sinal, as duas primeiras propostas da cátedra contemplarão a arborização e a educação ambiental. Se a COP-30 é a conferência da mata, São Paulo pode oferecer como legado a conferência da cidade. Para isso, é preciso envolver toda a sociedade civil a participar de um intenso e profícuo plantio de novas árvores. Em termos porcentuais, a capital já constitui um exemplo de megalópole resiliente. Possuía 15 de áreas verdes municipais munidas de árvores e, com a expropriação de mais 32 áreas pelo prefeito Ricardo Nunes, um espaço superior ao de Paris, atinge 26 de cobertura arbórea com vocação de perpetuidade. Todavia, é preciso mais. Distribuir melhor o número de espécies por todos os bairros. Plantar árvores nativas da Mata Atlântica e apropriadas para cada tipo de espaço. Substituir os exemplares que já cumpriram sua missão sequestradora de gás carbônico. Prover as regiões menos dotadas de verde desse patrimônio tangível e essencial para a melhoria da qualidade de vida urbana. A árvore propicia o milagre de produção de uma temperatura amena, a combater as ondas de calor que, comprovadamente, matam mais do que as ondas de frio. Há diferença de até dez graus entre áreas sombreadas e regiões inóspitas, cinzentas e áridas. Portanto, inundar a capital paulistana de árvores é, primeiramente, uma questão de saúde pública, que atende também às exigências da mudança drástica de clima, provocada pelo aquecimento global gerado pela excessiva emissão de gases do efeito estufa. São Paulo pode ser um exemplo mundial de engajamento da sociedade para missão de multiplicar o número de suas árvores. Para isso, são chamadas as empresas, que extraem legítimo lucro nesta imensa conurbação e que deveriam, patrioticamente, devolver à população bosques urbanos, ilhas de chuva, vagas verdes, florestas de bolso ou qualquer outra contribuição análoga. O plantio garante ainda a devolução à natureza do solo que foi subtraído no decorrer dos séculos. Uma cidade impermeável tem dificuldade no escoamento da água das chuvas fortes, que só pode formar correntezas, enchentes e inundações. Quanto mais terra puder ser devolvida à cidade, menos alagamentos ela terá. Associações, sindicatos, faculdades e clubes poderão criar “bosques de memória”, com árvores que recordem pessoas que já se foram e precisam permanecer na lembrança. É algo que os países civilizados fazem com naturalidade. Também precisa ser restaurada a política de incentivar o plantio de uma árvore nova a cada nascimento registrado na capital. As escolas, repartições públicas e sedes de trabalho de autoridades devem recuperar a praxe do plantio de uma árvore em homenagem a cada visitante ilustre, costume civilizado, também de rotineiro uso nas capitais das nações mais adiantadas e mais cultivadoras de tradições históricas do que nós. Todavia, um projeto dessa envergadura não precisa só de entidades, colegiados ou grupos empresariais. Há muitos cidadãos prestantes, heróis anônimos que cuidam de espaços verdes. Que cuidam das árvores. Que plantam mais árvores neste território que já foi chamado de “selva de pedra”, mas tem vontade de se tornar o abrigo acolhedor dos humanos à procura de sombra, da fauna silvestre que depende da árvore para sobreviver. Na verdade, quem depende das árvores somos todos nós, que temos necessidade de água. A árvore é o seguro existencial da vida. De qualquer espécie de vida, inclusive da vida humana. Tudo isso precisa se conciliar com a formação de uma consciência cidadã que resgate a estima pela árvore, nossa irmã de fundamental importância na preservação da aventura dos animais, inclusive os racionais, neste planalto que já foi exuberante com seus grandes rios serpenteando por suas várzeas, e que nós conseguimos converter em espaço que prioriza o automóvel, não a vida. Vamos oferecer ao mundo esse legado para participar do clima de COP neste 2025? Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Opinião, em 17 02 2025 ![]() ![]() |
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