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O CATOLICISMO NO BRASIL
Acadêmico: José Renato Nalini
O advento da República gerou a ruptura entre Igreja e Estado. Mas a tradição religiosa continuou, até porque a queda monárquica ocorreu muitos anos após a chegada lusa. Mais exatamente, trezentos e oitenta e nove anos depois. O catolicismo estava entranhado na alma tupiniquim

O catolicismo no Brasil

Colonizado por uma nação católica, o Brasil herdou o catolicismo como religião oficial. Para consolidação dessa característica, muito contribuíram os religiosos que aqui chegaram no século XVI. Os jesuítas se destacaram na evangelização, mas também os beneditinos, os franciscanos e os carmelitas, dentre outros. Durante o Império, a íntima vinculação entre Estado e Igreja prevaleceu. Tanto que a religião oficial se encarregava de assuntos oficiais, como, por exemplo, o assento paroquial dos nascimentos, casamentos e óbitos. O Registro Paroquial também cuidava do controle do uso do solo, anteriormente à normatização do Registro de Imóveis.

O advento da República gerou a ruptura entre Igreja e Estado. Mas a tradição religiosa continuou, até porque a queda monárquica ocorreu muitos anos após a chegada lusa. Mais exatamente, trezentos e oitenta e nove anos depois. O catolicismo estava entranhado na alma tupiniquim.

Todavia, a Igreja nunca foi unanimidade absoluta. Sempre existiram posições antagônicas à religiosidade. Nomes celebrados se posicionaram aparentemente contra o catolicismo. Um deles foi o do legendário Joaquim Nabuco. Ele endereçou mensagem ao Barão de Jaceguai, publicando-a no Jornal do Comércio, de seguinte teor: “Ninguém negará que o Brasil seja uma nação católica. Está aí aos olhos de todos pelo vasto interior a massa incalculável de fé ainda primitiva e intacta, posto que adormecida e aparentemente extinta, e, no entanto, não puderam alguns raros positivistas apagar da fronte do Brasil o sinal do batismo, a legenda de Terra da Santa Cruz, banir dos quartéis, dos hospitais, dos navios de guerra, dos tribunais, das escolas, tudo que pudesse falar de Deus, e imprimir-lhe na bandeira o dístico sacerdotal da religião do ateísmo?”.

Tentou-se abolir o Catolicismo e, ao contrário, deram-lhe latitude maior e mais pujança, conforme reconhece Joaquim José de Carvalho, o criador da Academia Paulista de Letras. Assinala que “A República, que quebrou as coroas imperiais, não demoliu um altar sequer, e viu reerguerem-se novas capelas em quartéis, como se deu na Fortaleza de São João; esta Praça de guerra e a de Santa Cruz, há dezessete anos inalteradamente conservam seus nomes do “Flos-Sanctorum”; as procissões percorrem as ruas concorridíssimas e sob as maiores reverencias; as missas são quotidianamente inúmeras em tempos regurgitantes de fiéis; as exéquias solenes e as bendições fundamentais são indispensadas nas comemorações públicas e oficiais; os Príncipes da Igreja viajam e transitam com regalias oficiais que nunca lhes foram dadas em qualquer tempo; muitas Constituições Estaduais foram proclamadas em nome de Deus; a República mantém estreitadas relações com a Santa Sé; os Arcebispados elevaram-se de um a sete, os Bispados de onze a vinte e um até o momento em que escrevemos, (isso era na primeira década do século passado) que mais serão brevemente, e temos o primeiro Cardeal da América Latina; a Religião, enfim, entra solicitada e venerada em tudo e em todos os atos da vida nacional, a despeito dos inconsolados, roucos e desprezados protestos do pertinaz “Apostolado Positivista” dos doutores Teixeira Mendes e Miguel Lemos, indefesos pregoeiros da Religião da Humanidade no Brasil, que são também de um republicanismo tão autoritário como o seu comtismo”.

Para J.J. de Carvalho, “a perseverante dedicação à fé católica subsiste, não no espiritualismo da saudade, não como simples expressão platônica, qual é a fé monárquica, sebastianística, para os seus raros crentes de hoje, subsiste sim túmida e viva, como um organismo imenso e alteroso, na atividade sinérgica de suas funções”.

A Religião continua a ter inúmeros inimigos, e todavia sobrevive. O positivismo, o ateísmo, o agnosticismo, profligam a liça renhida contra a fé. Ao escrever “O evolucionismo e o positivismo no Brasil. Doutrina contra Doutrina”, o filósofo Silvio Romero escreveu: “Deserdados da verdadeira cultura de nosso século, no que ela tem de mais seguro para a vida política, da velha Europa nos passaram apenas os erros, os desvarios, os vícios do organismo social; as histerias do jacobinismo de um lado, o mal caduco do positivismo de outro lado”. Os crentes encontram obstáculos em todas as épocas. Agora mesmo, renova-se a tentativa de excluir dos Tribunais o crucifixo que tradicionalmente ostentam, algo que chegou ao STF e foi repudiado pelos onze integrantes da Suprema Corte em fins de 2024. Pois todos os governos republicanos convivem com o batismo, com a crisma, com o casamento religioso, socorrendo-se dos benefícios espirituais dos Sacramentos.

Observa J. J. de Carvalho que o Catolicismo impregna a vida brasileira. Observa que “um louco, um infeliz, derrubou o Cristo do Júri; e Ele voltou processionalmente a seus delubros! Foi abolido o juramento obrigatório; e todos espontaneamente juram em nome de Deus! Foram suprimidos os dias santos; e os dias santificados guardam-se ainda por tolerância oficial”.

Vale recordar a fala de Ruy Barbosa na tribuna senatorial: “Sejamos reconhecidos a Deus... que a ingratidão científica não logrará exterminar dos corações brasileiros”.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo em 26 12 2024



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