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OS BONS TEMPOS DO ITAMARATY
Acadêmico: José Renato Nalini
O Brasil já foi melhor no capítulo Relações Internacionais. Tinha tudo para se tornar o grande líder deste cone. Mas teve atitudes erráticas nos últimos anos. E este governo ainda não conseguiu recuperar o rumo altivo de nossa tradição consolidada na Instituição de Rio Branco

Os bons tempos do Itamaraty

Em tempos idos, quando adolescente, sonhei cursar o Instituto Rio Branco, a respeitada escola de formação de diplomatas. Reconhecia no diplomata o profissional necessariamente polímata, encarregado de bem representar seu país no exterior. Eram tempos em que viagens internacionais eram difíceis e caras. Exatamente por serem dispendiosas é que eram difíceis.

Conformei-me com o bacharelado em ciências jurídicas e sociais na gloriosa PUC Campinas e não me arrependo. Daquele diploma extraí meus compromissos vitais. Ministério Público, de início, Magistratura em seguida. Mas o meu apreço pela diplomacia permaneceu e cresceu. Conheci José Augusto Lundgren Alves, que me auxiliou a operacionalizar os direitos humanos no âmbito da Justiça, eis que é mais fácil dissertar sobre eles do que torná-los efetivos. Aprendi a admirar João Grandino Rodas, depois Maria Tereza Quintela, convivi com Reinaldo Azambuja Storani, que tão cedo partiu. E tenho o privilégio de conviver na Academia Paulista de Letras com Celso Lafer, Rubens Barbosa e Synésio Sampaio Góes Filho, além do saudoso José Gregori, a quem recepcionei naquela Casa de Cultura por excelência do Largo do Arouche.

Tudo isso para ponderar, como observador jejuno, que o Brasil já foi melhor no capítulo Relações Internacionais. Tinha tudo para se tornar o grande líder deste cone. Mas teve atitudes erráticas nos últimos anos. E este governo ainda não conseguiu recuperar o rumo altivo de nossa tradição consolidada na Instituição de Rio Branco.

Talvez fizesse bem - mal, é certo, não fará - aos que são ouvidos junto a sua majestade, o Presidente do Brasil, ler o que se dizia, em tempos áureos, sobre figuras como Rio Branco e Joaquim Nabuco, em cotejo com o que se poderia dizer dos responsáveis pela política externa tupiniquim.

Joaquim Nabuco, principalmente, era uma figura extraordinária. Como diz Oscar Mendes, “pela sua cultura, pela sua urbanidade, pelo seu trato ameno e encantador, pela sua simpatia pessoal tão atraente e irradiante, Nabuco seria, como foi, a figura clássica do diplomata e um excelente representante do Brasil no estrangeiro. Um humorista chegou a afirmar que era ele “o homem ideal para dar no estrangeiro uma impressão falsa do Brasil”, tal o apuro de suas qualidades e méritos, muito acima da média do nosso povo”.

Foi por reconhecer o seu valor que a novel república o convidou a advogar pelo Brasil na questão de limites com a Guiana Inglesa e depois a ser seu ministro plenipotenciário na Inglaterra. Devido ao talento e charme pessoal de Nabuco, o prejuízo do Brasil foi menor do que poderia ter sido, ante a nítida parcialidade do Rei da Itália. O trabalho de Nabuco foi reconhecido por Rui Barbosa, que observou: “A nossa defesa, pelo sr. Joaquim Nabuco é um trabalho maravilhoso e colossal de paciência, de crítica, de argumentação e de talento. Bastaria ele só para lhe honrar a vida e fazer o nome”.

O nome do Brasil é que foi enaltecido com a atuação de Nabuco. Barbosa Lima Sobrinho escreveu: “Cheio de simpatia humana, Nabuco identificava-se com as nações em que servia. Seria injusto dizer, entretanto, que essa identidade vinha em prejuízo dos deveres de diplomata para com o seu próprio país. Nabuco nunca deixou de ser profundamente brasileiro, em todos os postos ocupados no exterior. Pode-se, por isso, perguntar se aquela simpatia maior pelos Estados Unidos não valeria como um fator de êxito para a missão diplomática que ele exercia”.

Quando o pêndulo das relações internacionais inclinou-se para os Estados Unidos, o nome aclamado para representar o Brasil foi o de Nabuco. Tanto que ao conversar com um diplomata que acabava de lhe apresentar as credenciais, o Presidente Teodoro Roosevelt perguntou-lhe se já conhecia o embaixador do Brasil. Ante a negativa, disse-lhe: “Pois procure logo conhecê-lo, pois não há em Washington personalidade mais interessante”. E não era apenas entre gente importante que ele fruía de popularidade. Conta-se que um condutor de ônibus de turistas parava o veículo diante da Embaixada do Brasil e perguntava aos passageiros se queriam conhecer o homem mais bonito da capital americana.

E por ele se apaixonavam as universitárias que assistiam às suas brilhantes conferências nas melhores Universidades americanas.

E hoje? Pode-se encontrar igual prestígio do Itamaraty entre as nações amigas? O que foi que aconteceu?

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 17 10 2024



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