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VARIAÇÕES SOBRE A PAIXÃO
Acadêmico: José Renato Nalini
“Somos atletas na vida. Lutamos com as paixões dos outros homens e com as nossas. A razão se turva como a água, sendo agitada pelas paixões. O relógio das paixões nunca regula exatamente. Quando as paixões por adulta se emancipam, a razão perde sobre elas a sua autoridade e tutoria. A paixão dominante nos homens é a ambição. Nas mulheres, o amor”

Variações sobre a paixão

A paixão é um estado d’alma análogo à loucura. Tanto assim, que o Código de Hamurabi proibia o testemunho do apaixonado. Não está em condições de trazer um relato a quem se encarrega de fazer justiça. Nada obstante, paixões existem e ainda acometem a maioria dos humanos. E o Marquês de Maricá a elas dedicou boa parte de suas “máximas”. Como aquelas ora colacionadas:

“Mudamos de paixões, mas não vivemos sem elas. Como o espaço compreende todos os corpos, a ambição abrange todas as paixões. É nas grandes assembleias deliberantes que melhor se conhece a disparidade das opiniões dos homens e o jogo das paixões e interesses individuais. Todas as paixões derivam, e são modificações do amor de nós mesmos, paixão essencial e inseparável de nossa vida e existência, e necessária, como guarda e sentinela da nossa conservação”.

“A paixão da leitura é a mais inocente, aprazível e a menos dispendiosa. Entre as paixões humanas, a ambição tem tanto de nobre como a avareza de ignóbil. Os nossos maiores inimigos existem dentro de nós mesmos: são os nossos erros, vícios e paixões. Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões. As paixões são como os vidros de graus que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objetos. A razão também tiraniza algumas vezes, como as paixões. Os vícios e paixões de uns homens são os elementos da ventura de outros”.

“Somos atletas na vida. Lutamos com as paixões dos outros homens e com as nossas. A razão se turva como a água, sendo agitada pelas paixões. O relógio das paixões nunca regula exatamente. Quando as paixões por adulta se emancipam, a razão perde sobre elas a sua autoridade e tutoria. A paixão dominante nos homens é a ambição. Nas mulheres, o amor. A paixão de liberdade em muita gente não é mais do que desejo de licença e impunidade”.

“As paixões nos gastam, mas os vícios nos consomem. Todos alegam razão, quando, em tudo, só se vê paixão. A paixão dos moços é desfazer e destruir, a dos velhos reparar e construir. O poder é corruptor: os povos, quando se tornam soberanos, exibem algumas vezes as mesmas paixões, vícios e desvarios dos tiranos. Cada uma das idades da vida humana tem suas paixões, inclinações e prazeres peculiares: quando queremos alterar ou inverter esta ordem natural, além de infelizes, nos tornamos ridículos e desprezíveis na opinião dos outros homens”. E você? Já se apaixonou? Como relataria a sua experiência com a paixão?

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 25 09 2024



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