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Acadêmico: José Renato Nalini Maricá já dizia, há dois séculos: “Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem juízo”. E também: “Os homens de extraordinário talento são, ordinariamente, os de menor juízo. A atividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça”
Variações sobre o juízo O juízo é uma dádiva que foi distribuída com parcimônia. Existe mais gente sem juízo do que ajuizada neste turbulento primeiro quarto do século 21. Por isso Maricá já dizia, há dois séculos: “Não haveria História mais insípida e insignificante que a dos homens, se todos tivessem juízo”. E também: “Os homens de extraordinário talento são, ordinariamente, os de menor juízo. A atividade sem juízo é mais ruinosa que a preguiça”. “Quando os moços se consideram com mais juízo e de melhor conselho que os velhos, tudo vai perdido, os males não têm remédio. Para quem não tem juízo, os maiores bens da vida se convertem em gravíssimos males. O homem de juízo aproveita, o tolo desaproveita a experiência própria. O sábio entra na fila na procissão dos loucos e néscios, com receio de ser multado por ter juízo”. “O juízo, que falta a muitos, a ninguém sobeja. Dizer-se de um homem que tem juízo, é o maior elogio que se lhe pode fazer. Não é a fortuna, mas juízo somente, o que falta a muita gente. O muito juízo é um grande tirano pessoal. É tal a falibilidade dos juízos humanos, que muitas vezes, os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade nos conduzem à miséria e à desgraça. Há mais homens de juízo do que se pensa. Acham-se, ordinariamente, nas classes médias e inferiores da sociedade”. “O homem de juízo converte a desgraça em ventura, o tolo muda a fortuna em miséria. Não é a fortuna que falta aos homens, mas a perícia e juízo em aproveitá-la quando ela nos visita. Não são incompatíveis muita ciência e pouco juízo. É aos insignificantes e aos homens de maior juízo, prudência e sagacidade, que é dado atravessar incólumes as revoluções políticas das nações. O juízo força a fortuna à obediência, ou escusa os seus serviços”. “O juízo, por mais vulgar, é menos apreciado que o engenho. Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca fortuna, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo. Muito contribui para acreditar o nosso juízo, confessar ingenuamente a nossa ignorância. Os moços de juízo honram-se de parecer velhos, mas os velhos sem juízo procuram figurar de moços. Todos os cumprimentos e votos dos homens versam de ordinário sobre a saúde, fortuna e dinheiro; mas nenhum compreende também o juízo, aliás tão necessário”. “Quanto menor é o juízo dos povos, tanto maior deve ser o dos que os governam. O juízo dos homens é tão vário que uns consideram como verdades o que outros reputam disparates. Nas revoluções populares, agrava-se o mal dos povos pela retirada, silêncio ou reserva dos homens de juízo, prudência e sabedoria, e a apresentação tumultuosa dos néscios, intrigantes e aventureiros que aspiram a substituí-los nos lugares e empregos do Estado”. “Liberdade sem juízo é pólvora em mãos de meninos. Nos nossos votos aos céus, o artigo que mais nos falta é aquele que menos nos lembra pedir: juízo. É um erro constante nas pessoas de maior inteligência supor nos homens mais juízo, saber e probidade, do que eles realmente possuem. Uns homens são bons porque têm juízo. Outros deixam de ser maus por terem medo. Somos incomparavelmente mais felizes do que pensamos: tal seria o nosso juízo, se refletíssemos profundamente na grande soma de bens de que gozamos, e na dos males que não sofremos”. “É prova de pouco juízo em um velho interessar-se demasiadamente nos negócios deste mundo, de que a morte lhe anuncia a retirada. O juízo é simples e uniforme, a loucura variada e multiforme. Povo sem juízo, lealdade e religião, vive sempre em revolução. Quando os loucos e velhacos crescem em número extraordinário, envolvem e levam no seu turbilhão os homens de maior saber e juízo, e os forçam a aprovar e aplaudir os seus desvarios e disparates”. “A liberdade sobeja sempre nos homens: o que lhes falta é juízo. Começamos a conhecer os homens quando principiamos a desconfiar do seu juízo, saber e probidade. Os loucos, tolos e néscios têm a vantagem de não sofrerem os males antes que cheguem. Os homens prudentes e de juízo os padecem antecipadamente, pela sua previdência e reflexão”. “Juízo é a inteligência prática e experimental que nos faz conhecer e alcançar os bens e evitar os males da vida. Ninguém se gaba de ter juízo ou virtude: todos sabem que cada qual presume o mesmo de si, e não o acredita facilmente dos outros. Quem não tem medo, não tem juízo: falta-lhe o conhecimento dos males, o que muito importa na ciência humana. O juízo é tão vulgar para alguns homens, que no seu procedimento e opiniões parecem preferir a denominação de loucos ou extravagantes. A velhice não tem graça; quando muito, tem juízo ou prudência”. Você se considera alguém especialmente provido de juízo? Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 23 09 2024 voltar |
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