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UNIVERSIDADE DO JEITO CERTO
Acadêmico: José Renato Nalini
Aluno que não encontra na aula motivação para imediata aplicação do que aprendeu em seu trabalho, dificilmente extrairá do diploma as vantagens que só residem num discurso estéril, anacrônico e falso

Universidade do jeito certo

Por que é que a profusão de faculdades não coincide com a revalorização do ensino superior? Como se explicar que os grandes conglomerados empresariais já não se interessem pelo diploma, porém por outros atributos que, em regra, a Universidade tem negligenciado? Chega-se a perguntar: é preciso, de verdade, um diploma de nível universitário para “vencer na vida”, ou seja, sobreviver dignamente, fazendo alguma coisa que deleite?

O declínio da Universidade coincide com o advento do mundo web. A informação se obtém com um clique e ela chega muito atualizada, colorida, musical. Bem diferente de muitas aulas insossas, repetitivas, prelecionadas por pessoas de boa vontade, mas que não tiveram formação adequada para disputar a atenção como se especializaram os “influencers”.

O ensino, um dos pilares sobre os quais se ampara a Universidade brasileira, ao lado da pesquisa e da extensão, sofreu uma desestabilização, a partir das significativas melhorias nas tecnologias de aprendizado online. O que é que os educandos conseguem de fato aprender nas aulas? Isso tem reflexo concreto naquilo que fazem? Eles encontram algum link a evidenciar que o conteúdo ministrado tem importância para a sua vida futura?

Aluno que não encontra na aula motivação para imediata aplicação do que aprendeu em seu trabalho, dificilmente extrairá do diploma as vantagens que só residem num discurso estéril, anacrônico e falso.

Muitas Universidades há, que se desinteressam do futuro de seus alunos e que se transformaram em meras empresas de fazer negócio, sem criar vínculos ou construir uma fidelidade com os seus egressos. Será que o diploma fornecido transformou, de verdade, a vida de seus ex-alunos? A Universidade os acompanha? Qual o valor acrescido em virtude da aquisição desse título de bacharelado ou até de pós-graduação?

Critica-se muito o EAD – Ensino à Distância, mas ele pode ser inovação sustentadora. A tecnologia pode fortalecer a Universidade e tornar o aluno mais antenado com a disruptiva realidade hoje vivenciada em todos os setores. Tem-se de enfrentar a inovação disruptiva, que é um dos tipos de inovação. A primeira é a inovação sustentadora, aquela que faz com que algo venha a se tornar melhor ou maior. A Universidade precisa se auto dotar de centros de atividades com desempenho maior, na transformação da vida rotineira. Já a inovação disruptiva desestabiliza o ciclo do mais eficiente, do melhor e do maior, no momento em que faz ingressar no mercado, um produto ou serviço que não é tão bom quanto as ofertas mais tradicionais e de melhor qualidade, mas que ´de mais fácil aquisição e utilização.

Isso ocorreu com a EAD. Primeiro, só se serviam dela os que não podiam estudar presencialmente. Por causa do horário de trabalho, do deslocamento, do custo das mensalidades. À medida em que avança a utilização, a modernização e a eficiência do sistema eletrônico, a EAD pode até superar o ensino presencial. Pois admite interação quase sempre inexistente nas grandes salas de aula. O atendimento personalizado e exclusivo não costuma ser oferecido, sequer pelas Universidades tradicionais. Estas precisam ser urgentemente revisitadas.

Seus mantenedores precisam se indagar se elas estão cumprindo sua missão. Tudo começa com uma pergunta: “Quão bons nós somos de verdade? Estamos conseguindo satisfazer as necessidades dos estudantes, das empresas, dos governos e dos demais grupos que confiam em nós? Um bom começo seria a leitura de um livro chamado “A Universidade Inovadora”, de Clayton M.Christensen e Henry J.Eyring, que tem uma das partes, chamada “Reengenharia Genética”, a recomendar a análise dos novos modelos de Universidades. Elas precisam investir na formação e no aprimoramento contínuo de seus professores. Nos Estados Unidos, escolhe-se ter aulas com um determinado professor. Lá não ocorre exatamente o que se passa aqui: escolhe-se a Faculdade.

Isso já funciona, de certa forma, na pós-graduação. O aluno escolhe um docente que tenha o que lhe transmitir, pois é, presumivelmente, alguém com excelente formação e que nunca deixou de ler e assimilar conhecimento. Boas dissertações e teses dependem, em grande parte, de uma adequada escolha do professor orientador.

As Universidades, neste século tão turbulento e confuso, precisam estipular novos critérios para alcançar sucesso. O mundo necessita, desesperadamente, de suas comunidades universitárias. Para a salvação da própria humanidade. É dali que devem provir soluções. Mas estas não chegam mediante reiteração de práticas exauridas, como “Semanas Jurídicas” e “Júris Simulados”, para mencionar os cursos jurídicos, dos quais o Brasil possui mais, sozinho, do que a soma de todos os outros dispersos pelo planeta. Algo está errado se, a despeito disso, o Brasil não é a nação mais justa que existe sobre a face da Terra.

Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 17 09 2024



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