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Acadêmico: José Renato Nalini O que vale é a ideia. Desnecessária a destinação de um espaço físico. Suficiente servir-se da metáfora. Prevalece a concepção de trabalho conjunto, a partir do cardápio sortido de práticas, experiências, iniciativas, movimentos e táticas direcionadas a servir a uma causa
Uma hub para a emergência climática Para que o tema “emergência climática” entre no radar da sociedade civil, é preciso que todas as pessoas sensíveis se arvorem e se convertam em guardiãs do amanhã. Para isso, é preciso coligir informações, coletar dados, juntar parceiros e propiciar a quem tenha interesse, um conhecimento mais próximo às várias dimensões do problema. Uma estratégia que pode interessar sobretudo às gerações digitais, será chamar o acervo de “hub”. O verbete designa um ponto central de convergências, no qual informações, recursos e conexões são disponibilizados, de forma a criar um ambiente propício ao crescimento coletivo e campo fértil para cooperação harmônica. O que vale é a ideia. Desnecessária a destinação de um espaço físico. Suficiente servir-se da metáfora. Prevalece a concepção de trabalho conjunto, a partir do cardápio sortido de práticas, experiências, iniciativas, movimentos e táticas direcionadas a servir a uma causa. Constatar que é possível congregar todas as informações que for possível obter sobre aquilo que se realiza com vistas a um propósito comum anima o fortalecimento do sentido de pertença, a identificação de semelhanças que exteriorizam a lei sociológica dos “pássaros de igual plumagem”. Estimulados pelo exemplo alheio, os defensores se sentirão convocados a exercer criatividade, inovação e ousadia. E o tema que só agora começa a entrar no rol das maiores preocupações, necessita, urgentemente, desses três atributos. Enquanto se falou em “mitigação” ou “atenuação” dos efeitos causados por fenômenos climáticos extremos, a postura de Poder Público e da sociedade civil era uma. No momento em que a reiteração e intensidade das respostas da natureza aos maus-tratos propiciados pelo homem passaram a se manifestar em todo o planeta, a ordem agora é cuidar da “adaptação” das cidades aos desastres que elas suportarão. A experiência de municípios atingidos constitui um passo inicial para as atitudes daqueles que ainda o não foram. Mas que serão, um dia, contemplados pelas intempéries: precipitações pluviométricas excepcionais, com as sequelas de praxe: inundações, alagamentos, enxurradas fortes e desmoronamento. Ou longa estiagem, com escassez hídrica, sacrifício da lavoura e golpe no abastecimento alimentar. Esse projeto impõe humildade aos partícipes e vontade de constante aprendizado. Erro e acerto estão no cenário. Só que é preciso pensar nas consequências dos equívocos. Podem custar vidas. Preocupação que impõe seriedade, maturidade, ponderação e prudência. Tudo bem temperado com indispensável dose de coragem. Embora se possa falar numa certa classificação de hub, como as hubs de inovação, de tecnologia, comercial, de startup, de negócios, de comunicação, a hub da emergência climática precisa contemplar as várias dimensões que ela envolve. Uma questão complexa necessita de múltiplos enfoques. A inovação tem de estar incluída, para que soluções factíveis sejam adotadas e respondam às exigências de cada crise. Sem dúvida, é preciso servir-se da tecnologia, a serva da ciência, que tanto colabora para o desenvolvimento industrial, mas que precisa dar resposta aos desafios postos no curso da vida civilizada. Como prever os acontecimentos incontroláveis, como controlar o repertório de possibilidades já disponíveis e de ampliar a capacidade de acolhimento dos mais vulneráveis, os primeiros vitimados pelas catástrofes? As soluções devem ser aquelas ditadas pelos que superam fronteiras, que não temam a implementação de inovações disruptivas. Uma hub disposta a contribuir tem de dispor de todos os nomes, de pessoas físicas, de grupos, de entidades, de empresas, que já militem num dos setores dessa área dinâmica e abrangente. Colocar em contato as startups já existentes e incentivar a criação de tantas outras, é fazer com que desse encontro promissor derivem inesperadas alternativas. Intercambiar experiências, conhecimento, networking e sinergias contém a sólida promessa de se detectar algo novo e eficaz para oferecer resiliência aos municípios. O aproveitamento de tudo aquilo que já se faz em termos de preparo da cidade e da população para superar os desastres climáticos é o ponto de partida para essa verdadeira cruzada. Sabe-se que macrodrenagem é tão necessária quanto a microdrenagem, a limpeza de córregos, a recomposição de mata ciliar, o plantio de florestas urbanas, jardins de chuva, desentumpimento de bueiros e de bocas-de-lobo, edificação de muros de contenção ou de arrimo. Será que não existem outras fórmulas de se obviar os efeitos do cataclismo? O convívio entre seres sensíveis, que já se interessaram por esse tema antes mesmo da formalização de iniciativas como a elaboração de Planos de Ação Climática e de criação de Secretarias de Mudança Climática, produzirá o efeito mágico de gerar inspiradores protagonismos. O locus da Hub da emergência climática obrigará à interação multidisciplinar e os resultados serão surpreendentes. É a geração contemporânea zelando pela certeza de que haverá gerações no futuro. E isso vale muito a pena. Publicado no Estadão/Blog do Fausto Macedo, em 20 08 2024 voltar |
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