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PAI
Acadêmico: Gabriel Chalita
Faz tanto tempo em que, no tempo da infância e no tempo das outras idades, eu te abraçava forte e te desejava eterno.

Pai

Pai, faz tanto tempo...

Faz tanto tempo do tempo em que eu tinha o seu colo. Faz tanto tempo do tempo em que suas mãos seguravam as minhas mãos e me ensinavam o enlaçar.

Os laços são mais bonitos do que os nós. São mais suaves. São mais ensinadores da liberdade. A liberdade das suas compreensões, pai. E, do meu jeito. Sendo amado, do jeito que sou.

O seu amor era dito em palavras calmas. O seu amor era dito em silêncios de atenção. O seu amor era amado sem exigências.

Eu, pequeno, te via grande. Eu, grande, te via maior ainda.

Sua vida foi semeadura dura e foi colheita. Os sons das suas palavras nunca silenciaram em mim, mesmo depois de tanto tempo. Sons de bondade. Sons de acolhimento das dores do outro. Sons de suavizar.

O dia em que você foi viver a eternidade parecia um dia de inaugurar um luto sem fim. Na luta da vida, o luto se foi. Não luto mais com a dor da sua ausência. Não há dor. Há saudade. Saudade do som bonito que dizia: "Filho". Saudade do som que acrescentava vida à minha vida: "Filho, eu te amo". Saudade do dizer do meu amor, que eu aprendi, que eu não economizei.

Digo, então, escrevendo. Na escritura do dia de hoje, dia dos pais. Na escritura de todos os dias. Enquanto escrevo, ouço os sons das palavras que nunca silenciaram. Ouço as suas orações de agradecimento. Ouço as suas orações ensinando que, como os sons das músicas sobem aos céus, subimos, também nós, em pensamentos, em sentimentos, em doação.

Uma vida é uma doação. Aos amores que vivem conosco. Às causas que abraçamos. Aos sonhos coletivos que realizamos. Pai, o pão que comíamos era sagrado. Compartilhamos.

Faz tanto tempo, pai ...

Faz tanto tempo em que, no tempo da infância e no tempo das outras idades, eu te abraçava forte e te desejava eterno.

As músicas que sobem aos céus nos segredam eternidade. O que fica é o que não somos. Somos mais. Permanecemos. Onde? Não sabemos. Transcendemos.

Como será o nosso encontro, pai?

Os mistérios se aliviam nos sorrisos. Os sorrisos que sorrio agora são os meus dizeres de saudade e de fé.

Pai, eu te amo.

Publicado em O Dia, em 11 08 2024



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