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Acadêmico: José Renato Nalini De que vale engajar a população para que economize água, se outras providências não são adotadas, como a “ressurreição” dos córregos, riachos e cursos d’água, a reconstituição das matas ciliares, o replantio de áreas imensas que tiveram exterminada a sua cobertura vegetal?
Água benta, água santa Agosto, mês seco, mostrou a que veio. Logo no primeiro domingo, o aviso: três milhões de moradores da Grande São Paulo ficariam sem água. Os afetados os moradores de bairros da zona sul da capital, como Itaim-Bibi, Morumbi e Vila Mariana, e da zona oeste, como Butantã. Mais os habitantes de Cotia, Taboão da Serra, Itapecerica e Embu das Artes. Manutenção preventiva no sistema Guarapiranga, com vistas a ampliar sua segurança operacional. Mas isso não é o principal. No mesmo dia, o Estadão noticiava que a seca teve início mais cedo e São Paulo tenta driblar a escassez. Dez cidades encontram-se em estado de emergência e quatro delas, Bauru, Vinhedo, Artur Nogueira e São Pedro do Turvo, já sentem concretamente os efeitos da falta d’água. Estamos pagando o preço da insensatez. Desmatamos, poluímos, impermeabilizamos as cidades, que servem prioritariamente ao automóvel e só em segundo ou terceiro plano para as pessoas. Queimadas que incendeiam o Pantanal, algo tão incrível que parece surreal, também ocorrem em São Paulo. São as mudanças climáticas, que o negacionismo não consegue evitar se convertam numa triste realidade. A estiagem, que em regra começaria em junho, em 2024 teve início em abril. O mês de junho foi o mais seco em sessenta e três anos. Maio teve muito pouca chuva. Só choveu no dia 27. De que vale engajar a população para que economize água, se outras providências não são adotadas, como a “ressurreição” dos córregos, riachos e cursos d’água, a reconstituição das matas ciliares, o replantio de áreas imensas que tiveram exterminada a sua cobertura vegetal? Todos sabem que árvore é sinônimo de água e de vida. Ainda assim, não se verifica uma cruzada de convencimento de todas as pessoas de que é necessário devolver à natureza os milhões de exemplares arbóreos dela extraídos impunemente. O plano estadual é paliativo. Prevê a utilização de caminhões-pipa para abastecer as áreas críticas. Mas falar em perfuração de poços quando se sabe que os lençóis freáticos também estão padecendo de carestia e que há contaminação até do aquífero Guarani, inconvincente acreditar que isso baste para sanar um problema de conhecimento de todos, principalmente dos responsáveis pelo abastecimento do líquido que não pode faltar. Porque, se ele faltar, faltará condição existencial mínima para todas as espécies animais, principalmente a dos humanos. Bauru já instituiu o rodízio no abastecimento há mais de dois meses, devido à redução do nível do rio Batalha. Em Vinhedo, região de Jundiaí, já se decretou estado de crise hídrica. Está permitida a utilização de poços e reservatórios particulares. Quem se servir de água para lavar carro, calçada ou regar jardim receberá multa de R$ 663, que será paga em dobro, em caso de reincidência. Isso deveria valer para São Paulo, onde o hábito da ‘vassoura hidráulica’, por parte dos condomínios, continua a prosperar. Em lugar de se utilizar daquele instrumento tradicional e tão útil, a vassoura, prefere-se empregar a mangueira a jorrar preciosa água, que faz as vezes de quem tem preguiça de se servir do que é disponível. Água tem custo. Água tem preço. E o preço para o tratamento da água contaminada do reservatório de Guarapiranga é cada vez mais alto. O Instituto de Engenharia de São Paulo já endereçou às autoridades mensagem bastante grave sobre o grau de deterioração da qualidade da água dessa represa de que depende metade da população paulistana. A perspectiva de pouca chuva deveria conscientizar a população de que o remédio para a falta d’água é o reflorestamento. Pensar em multiplicar os chamados “jardins de chuva”. Assumir a urgência de fazer com que nossas cidades sejam “esponjas”. Devolver solo natural à população, em lugar de continuar a impermeabilizar a cidade. As ondas de calor, próprias às conurbações como a pauliceia, matam mais do que o frio e do que as enchentes. Estas, com a seca, diminuem. Em compensação, os hospitais ficam superlotados de pessoas idosas, hipertensas, diabéticas ou portadoras de outras comorbidades. Água faz milagre. Mas parece que não acreditamos nela. Não a respeitamos. Só que, sem ela, nada somos. É importante agir, mas de forma racional e de acordo com a emergência climática. Mais árvores, mais água, mais vida. Santa água, água benta, água santa! Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Blog do Fausto Macedo, em 08 08 2024 voltar |
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