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MAUÁ E SUA ORQUESTRA
Acadêmico: José Renato Nalini
Além da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, a navegação na Amazônia e o telégrafo, ele queria melhorar de fato o Brasil. Urbanista amador, construiu no Rio o Canal do Mangue. Queria uma capital moderna, que oferecesse qualidade de vida aos seus moradores. Quando via algo deficiente, dava uma injeção de ânimo e conferia eficiência PUBLICIDADE

Mauá e sua orquestra

Não. O Visconde de Mauá não tinha orquestra. O título deste artigo remete aos “mil instrumentos” que ele parecia tocar, tentando afinar a desarmonia que reinava nos estertores do Segundo Império.

Além da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, a navegação na Amazônia e o telégrafo, ele queria melhorar de fato o Brasil. Urbanista amador, ele construiu no Rio o Canal do Mangue. Queria uma capital moderna, que oferecesse qualidade de vida aos seus moradores.

Quando via algo deficiente, dava uma injeção de ânimo e conferia eficiência. Foi assim que tirou de mãos inseguras a empresa de bondes do Jardim Botânico. Sua intenção era bem servir a comunidade.

Perdeu dinheiro, com Cochrane, no caminho de ferro da Tijuca. Associou-se à Companhia Fluminense de Transportes. Foi sócio diligente e diretor da Lux Stearica, entre 1854 e 1864. Pensou e cuidou do abastecimento de água da capital imperial. Auxiliou a Companhia de Cortumes e estimulou a dos Diques Flutuantes.

Mas suas atividades e sua liderança não se limitavam à Capital do Império. Cuidou da exploração de ouro no Maranhão, estudou e batalhou para eliminar a escravidão, antecipando-se aos abolicionistas.

Fundou colônias agrícolas de trabalhadores livres: portugueses, chineses e coolies, nas terras concedidas no Amazonas e no Pará, mas também nas suas fazendas da Província do Rio de Janeiro. A fazenda Atalaia, em Macaé e no então chamado “Município Neutro”, que veio a se denominar Sapopemba.

Estudou e custeou estudos de técnicos para cuidar do problema do carvão de pedra nacional, no Rio Grande do Sul. Via um problema e logo queria solucioná-lo. Tornou-se profundo conhecedor de pecuária e fez com que ela prosperasse nos seus campos gaúchos, uruguaios e argentinos. Para isso, fundou a Companhia Pastoril, cujas ações, depois transmitidas a outros donos, fizeram com que estes acumulassem uma fortuna imensa, diante da alta valorização obtida, graças a uma boa administração.

Percebeu que um organizador de estradas de ferro, de navegação de passageiros e de telégrafos para uma efetiva ligação de todas as partes desta imensidão chamada Brasil, precisava de uma solda para ligar os elementos dinâmicos da sua atividade. Esta solda seria uma rede bancária. O Brasil dependia dos bancos ingleses e norte-americanos.

O visionário Mauá, que idealizou o hoje respeitado sistema bancário brasileiro, foi bem descrito pelo notável Tristão de Athayde, o Alceu Amoroso Lima que é avô de Manuel Alceu Affonso Ferreira: “O precursor admirável, essa figura realmente única em nossa história - o Visconde de Mauá, desde a Maioridade até à República, acompanhando a realeza imperial com a sua realeza econômica, na ascensão e na decadência, pressentiu e tentou resolver todos ou quase todos os grandes problemas econômicos brasileiros, os problemas essenciais do período moderno de nossa história, desde os interesses do Rio Grande, que representou na Câmara, até a navegação do Amazonas. Foi um quadro assombroso de unificação nacional na cabeça de um só homem, o Caxias da unidade econômica”.

Ele percebeu, em 1850, que os capitais que lucravam com o tráfico servil, tendiam a emagrecer. Lança-se Mauá à organização do banco que favoreceria a indústria e outras iniciativas promissoras, que precisavam de crédito num país carente de dinheiro. Ressuscita o Banco do Brasil, para uma segunda fase. Logo alvoroçaram-se os que querem ganhar à custa do povo. Mauá corta o mal pela raiz: os cargos da diretoria não seriam remunerados.

Em 1853, Itaboraí faz a fusão do Banco do Brasil com o Banco do Comércio, que existia desde 1838, mas muito frágil. Contrário à ideia de banco de emissão único, pois redundava na concentração absoluta do crédito numa só casa, Mauá se afasta da diretoria por incompatibilidade com a filosofia governamental que então imperava.

Inimigo da estatização, de um Estado que quer cuidar de tudo e só faz a má política, Mauá funda a Casa Bancária Mauá, Mac-Gregor & Cia., também surgindo o Banco Rural e Hipotecário. A nova instituição surgiu com uma nova formatação jurídica, muito mais adequada aos novos tempos. Mas isto já é uma outra estória. Fica para outra vez.

Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Blog do Fausto Macedo, em 02 08 2024



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