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Acadêmico: José Renato Nalini Brasil parece navegar num titanic, dançando num baile que vai acabar quando trombar com os icebergs. Ou não é de aterrar 2571 focos de incêndio no Pantanal? Prometer desmatamento zero para 2030, quando ele deveria ser para ontem?
Planeta inabitável Estamos destruindo nosso lar. O crescimento da emissão de gases venenosos causadores do efeito-estufa torna a temperatura da Terra imprópria para qualquer espécie de vida. Principalmente a do ser humano. Ilhas urbanas de calor estão em todas as cidades do mundo. Mas elas são mais inclementes naquelas que não têm árvores. A árvore é a melhor amiga do homem. Essa mágica redutora de temperatura, a fornecer sombra, a provocar chuva, a sequestrar carbono. A ciência já emitiu um alerta vermelho para a humanidade. Além do CO2, o dióxido de carbono, mais perigoso ainda é o sulfato, o carbono neutro, que causa 7 milhões de mortes por ano. Reduz em dois anos a longevidade das pessoas que o aspiram e em quatro aquelas que são obrigadas a tomar ônibus todos os dias. A Europa contabilizou 62 mil mortes em 2023, por causa do calor, no ano que até então era o mais quente da história. Só que 2024 está a bater novos recordes. Há estresse por causa do calor. A temperatura de 50 graus, registrada em junho de 2023 em algumas partes da Ásia, mata os hipertensos, os diabéticos ou com qualquer problema cardio-circulatório, ainda que bem administrado por cuidados médicos. Enquanto isso, o Brasil parece navegar num titanic, dançando num baile que vai acabar quando trombar com os icebergs. Ou não é de aterrar 2571 focos de incêndio no Pantanal? Prometer desmatamento zero para 2030, quando ele deveria ser para ontem? Quem acredita nos compromissos internacionais firmados pelo governo, de reduzir as emissões para mantê-las no máximo em 1,5ºC, em reflorestar o Arco da Restauração Amazônico e em favorecer a bioeconomia naquele bioma do qual depende o clima planetário? Não adianta dizer que a agricultura na Amazônia é menos lucrativa do que em outros biomas. Insiste-se em derrubar mais árvores, em colocar gado para desertificar o território, que já se empobreceu quando virou pasto. Existem dados comprobatórios de que a floresta em pé rende mais do que a terra dizimada. Mas a revolução cultural é a reforma que mais tempo leva e que é a mais difícil de ser implementada. O amor pelo dinheiro, a sensação de que se é imortal, de que não se morrerá, o imediatismo, o narcisismo, o egoísmo, o consumismo, são os “ismos” que fazem com que a conversão ecológica seja um tema tabu. O Brasil precisaria firmar um pacto de integridade ecológica em que houvesse vontade inabalável de salvar a natureza e, ao salvá-la, salvar também a espécie humana. Cumprir as leis – somos pródigos em normatizar – principalmente a Constituição, cujo artigo 225, se levado a sério, já teria transformado o cenário tupiniquim. Exigir dos governos a responsabilidade ambiental, com a efetivação das políticas públicas destinadas a preservar o verde, evitar o desmatamento e obrigar o replantio das bilhões de árvores de que o país necessita, para recompô-lo como a “promissora potência verde”, pulmão do mundo, fabricante de água, o mais precioso líquido neste século 21. As condições naturais do Brasil dariam ao nosso país a condição de atingir o ideal de uma agricultura neutra em carbono, até alcançar a emissão negativa a partir do adequado uso da terra. Isso, desde que houvesse uma restauração florestal em grande escala, o que garantiria emissão líquida zero. Para isso temos todos os ingredientes para produzir cem por cento de energia limpa e renovável. Mas o projeto só seria realmente exitoso, se houvesse também a restauração das florestas urbanas. Árvores são necessárias em todos os espaços. Mas, principalmente, naqueles que já foram tomados por concreto, aço e espelho. Condição que faz com que o calor se potencialize e que gera o estresse térmico propiciador de mortes precoces. Não nos esqueçamos de que o dióxido de carbono e o óxido nitroso demoram duzentos anos para se dispersar. Daí a urgência da transição energética para nos valermos de tudo aquilo que podemos produzir: energia solar, eólica, do hidrogênio verde, do biometano, do biogás e de tantas outras possibilidades que nos conduzam à utopia do NetZero. Só assim poderíamos dizer que a Terra teria se tornado, outra vez, um planeta habitável. Para que possamos prolongar a nossa permanência aqui por outros milhões de anos. Sem essa conversão e sem a prática efetiva que dela resultar, só poderemos parafrasear Antonio Gutérrez, em sua fala alarmista, mas veraz: estamos num veículo desgovernado, em velocidade acelerada, rumo ao inferno. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Blog do Fausto Macedo em 01 08 2024 voltar |
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