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Acadêmico: José Renato Nalini O injustiçado gaúcho de Arroio Grande, que depois de tanto servir ao Brasil faliu e foi hostilizado por grande parte da elite da época, viu nessa empreitada a principal de seu insucesso financeiro. Era um entusiasta da introdução das ferrovias no Brasil, em larga escala.
Como nasceu a EFSJ A nossa conhecida Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, que antigamente era referida simplesmente com SJ, mas cujo nome foi São Paulo Railway, a “Inglesa”, nasceu por obra e arte do Visconde de Mauá. O injustiçado gaúcho de Arroio Grande, que depois de tanto servir ao Brasil faliu e foi hostilizado por grande parte da elite da época, viu nessa empreitada a principal de seu insucesso financeiro. Era um entusiasta da introdução das ferrovias no Brasil, em larga escala. Convenceu dois amigos, igualmente patriotas, a encetarem juntos a aventura de construir um caminho de ferro que ligasse Santos, com seu porto, a Jundiaí, a entrada para o “sertão”. Eram eles o Marquês de Mont’Alegre, Costa Carvalho, ex-regente do Império, nascido na Bahia em 7.2.1796 e falecido em SP, em 18.9.1860. Presidente de São Paulo em 1842, ministro do Império entre 1848 e 1849 e Presidente do Conselho entre 1849 e 1852. E o Marques de São Vicente, Pimenta Bueno, santista que veio ao mundo em 4.2.1803 e falecido em 20.2.1878. Ministro da Justiça em 1848 e Presidente do Conselho em 1870. Duas figuras de proa no Império. Os três se convenceram de que a ferrovia merecia seus investimentos e esforços. A concessão para construí-la veio com a Lei 838, de 12.9.1855. Antes mesmo da concessão, Mauá financiou levantamento da região, trabalho a cargo de equipe do engenheiro Roberto Milligan. Foram abertas picadas na direção julgada a mais conveniente e enfrentada a enorme dificuldade da serra do Cubatão. Estudos posteriores, a cargo dos engenheiros D’ordan, Brunlees e Fox, foram igualmente pagos por Mauá. Somente esta fase orçou mais de vinte e cinco mil libras esterlinas. Depois de quatro anos da lei de concessão, estava a companhia em condições de ser oferecida ao mercado. Surgiu, então, dificuldade imprevista. Os agentes financeiros do Brasil, N.M. Rotschild & Sons, que haviam concordado em figurar nos prospectos, para viabilizar a captação de investidores, cobraram vinte mil libras esterlinas para a aposição de seu nome. Consta que eram auxiliados pelo Barão de Penedo, o diplomata e jurista F.I. de Carvalho Moreira, prestigiado ministro do Brasil na Inglaterra, em cuja Corte teve influência desde 1855 até 1889. Levava vida faustosa e foi acusado publicamente de receber comissões dos banqueiros, pelos empréstimos brasileiros. Os arquivos do Itamarati conservam violenta troca de cartas entre ele e Mauá, pela atitude que tomou, na fase final da questão, posicionando-se ao lado dos ingleses. Finalmente, organizada a empresa, tudo começou a funcionar a contento. As obras tiveram ritmo tão acelerado, que em assembleia geral de acionistas em Londres, os empreiteiros se apossaram de oitenta mil libras de lucros, durante a primeira fase da execução. Os adiantamentos prosseguiram e, nas demais fases, verificou-se que a prematura apropriação dos lucros era desproporcional à dificuldade encontrada no campo de trabalho. Os ingleses nunca perdem dinheiro. Elaboraram um contrato complementar, que Mauá considerou fraudulento, atribuindo a ele todas as demais despesas até ultimação do projeto. Além disso, o engenheiro Fox entregava certificados falsos da execução das obras, desrespeitando a condição essencialíssima do contrato, de só pagar pelos serviços feitos segundo a tabela anexa ao contrato. Foi a manobra de se apoderar de alheio capital, que era integralizado exclusivamente pelo Visconde. Consumou-se a fraude pelo contrato aditivo e, sentindo-se segura do esbulho, a companhia inglesa quis “fechar a abóbada que encerrava seu edifício contratual fraudulento”. Essa frase foi do jurista Lafayette Rodrigues Pereira, ministro da Justiça do gabinete Sinimbu, que examinou a questão. A “Inglesa” chicaneou durante dez anos para impedir a discussão dos fatos na Justiça do Brasil. Mauá perdeu a causa. A dívida cobrada aos ingleses por seus adiantamentos foi considerada prescrita. A inauguração das obras da Serra, o plano inclinado e mais difícil, foi feita pelo Presidente da Província, Barão Homem de Mello, em 28.6.1864. isso porque Mauá custeou a execução. A “Inglesa” não tinha mais crédito e estava prestes a ver decretada sua falência. Entretanto, quem se lembra hoje de Irineu Evangelista de Sousa, o injustiçado Visconde de Mauá, que ofereceu a São Paulo e ao Brasil a famosa Estrada de Ferro Santos a Jundiaí? Publicado no jornal O Estado de S. Paulo/Blog do Fausto Macedo, em 13 07 2024 voltar |
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